NOSSA SENHORA
DE GUADALUPE
NOSSA SENHORA
DE GUADALUPE
É mister, antes de adentrar ao fato da magnífica aparição de Nossa Senhora de Guadalupe, deter-me em registrar, ainda que resumidamente, o contexto desse marco na história da Santa Igreja Católica, bem como um dos protagonistas da conjuntura, o vidente Juan Diego Cuauhtlatoatzin.
Era um índio paupérrimo, nascido a 9 de dezembro de 1474 A.D., em Cuautitlán-México. Pertencia à mais baixa hierarquia do Império Asteca, muito próxima à condição de escravo. Dedicava-se diária e arduamente à labuta campesina, em seu minúsculo pedaço de terra, do qual extraía seu sustento e a matéria prima para fabricação de esteiras.
Em sua pequena e simplória moradia o nobre e humilde índio vivia com a esposa: uma típica vida condizente com o estado sociocultural asteca ao qual pertenciam. Mas Deus tinha planos extraordinários para ambos, os quais iniciaram-se com a vitória das tropas espanholas contra o exército do imperador asteca Montezuma, por volta do ano de 1521 A.D., no México, em sua capital, então chamada de Tenochtitlán.
O casal indígena que protagoniza essa maravilhosa história, após a chegada dos espanhóis em sua terra, teve acesso a Padres franciscanos e, por meio desses, pudera conhecer a Santa Doutrina. E, pela graça do Deus Vivo, por volta do ano de 1524 A.D., receberam o Sacramento do Batismo e os nomes de João Diego (Juan Diego, em castelhano) e Maria Lúcia.
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Juan obtivera a dádiva da graça santificante, já que tornara-se um católico fervoroso. Percorria, a pé, vestido com roupas de tecido grosseiro, similar a estopa, cerca de 22,5 Km, de sua vila até a capital, Cidade do México, para assistir às catequeses de sábado e domingo.
Em 1529 A.D., após o falecimento de sua esposa, fora viver com um tio, condição que, entre outras conveniências, reduzira-lhe a árdua caminhada à igreja para 14,5 Km.
Juan mantivera-se zeloso na Fé. Assíduo no aprendizado dos Mistérios Divinos, tornara rotina, aos fins de semana, acordar primeiro que o sol e, antecipando-se ao alvorecer, rumar à Luz, à Verdade, que o impelia a realizar o mesmo santo e longo percurso, semana após semana, sem cessar.
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Não há nada na Terra que passe desapercebido perante o Céu, porque o Deus Oniciente, Onipresente e Onipotente tudo sabe e tudo vê. E, assim, a 9 de dezembro de 1531 A.D., sábado, próximo a um dado trecho de seu repetido caminho, no cimo do morro Tepeyac, eis que surge uma Distinta Senhora, a qual, trajada em vestes astecas, de traços e pele similares a si, causa-lhe, de imediato, reverente fascinação. É a Santíssima Virgem Maria, mas isso ele ainda não sabia.
A Mãe de Deus, docemente, o chama e o incumbe de levar ao Bispo local, Juan de Zumárraga O.F.M., um pedido: construir uma igreja naquele exato lugar da aparição.
Juan obedece Nossa Senhora e faz tudo exatamente como Ela lhe ordenara. Todavia, o Prelado não acreditou.
A Rainha do Céu, no dia seguinte, em nova aparição, pediu a Juan Diego que insistisse com o Bispo. E, naquele mesmo domingo, Seu servo repetira novamente a história, à qual seu interlocutor redarguiu com solicitação de provas concretas daquele inusitado relato.
No dia 12 de dezembro, terça-feira, a Rainha do Céu agraciara novamente a Juan Diego com Sua presença. Nessa aparição, pediu-lhe que se aproximasse, subisse o morro Tepeyac e colhesse flores (ainda que estivessem em princípio de inverno). O filho obediente o fez e, tal qual a Santa Mãe lhe mandara, guarneceu-lhas envoltas em sua tilma e foi mostrar ao Bispo o sinal que esse lhe solicitara.
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Estando o humilde índio defronte ao ainda incrédulo Frade epíscopo, Juan de Zumárraga, eis que Juan Diego solta os braços e deixa cair as flores presas em seu manto. A surpresa do Bispo o fez cair de joelhos, tal qual os outros que no recinto se encontravam, não apenas pela improvável e inesperada colheita, mas, sobretudo, pelo que se via estampado na tilma do asteca.
Na fronte do tecido aparecera a imagem milagrosa de Nossa Senhora, imediatamente reconhecida por todos presentes. Naquele momento a história do México mudou para sempre, assim como a de todos os envolvidos nesse milagre que, até o dia de hoje, configura-se como uma das mais admiráveis aparições de Maria Santíssima.
Após o ocorrido, Juan Diego dedicou sua vida a propagar a devoção à Nossa Senhora de Guadalupe, até sua morte, ocorrida de modo natural, a 30 de maio de 1548 A.D..
O agraciado asteca fora beatificado em 1990 A.D. e, canonizado em 2002 A.D., passou a ser chamado de San Juan Diego, tornando-se, assim, o primeiro santo católico indígena americano.
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As minúcias dessa miraculosa história deixo para os documentários disponibilizados, abaixo.
Igualmente, tenho a felicidade de compartilhar, outrossim, o mais antigo relato das aparições de Nossa Senhora de Guadalupe, chamado de Nican Mopohua.
Trata-se de um documento escrito por um cultíssimo indígena de então, Antonio Valeriano, falante da língua nativa dos astecas, o náhuatl, além de versado em castelhano e latim.
Antonio foi contemporâneo de Juan Diego e do Bispo Juan de Zumárraga. Do primeiro, inclusive, ouvira pessoalmente os relatos registrados no mencionado escrito, o qual findara no ano de 1548 A.D..
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O Século XVI d.C. (1500 A.D.) foi palco de uma das maiores tragédias sofridas pela cristandade: a Reforma Protestante de Martinho Lutero, o qual abandonou o catolicismo e, num mentecapto ato de traição, fundara uma seita absurda e herege, a qual serviu de instrumento do demônio para a perdição de milhares de almas até os dias atuais.
Porém, Deus respondeu superiormente, fortificando Sua Santa Doutrina e Tradição com almas resplandecentes, como São Carlos Borromeu, Santa Catarina de Gênova, Santa Teresa de Ávila, com o Sacrossanto Concílio de Trento, com o Papa São Pio V e com a admirável aparição de Nossa Senhora de Guadalupe.
Importante frisar que, muito embora a Santa Igreja de Deus sempre enfrentara atrozes inimigos, o Deus Trino nunca deixou de estar presente em todas as batalhas, como prometera o próprio Jesus: "e eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos." (Mt 28,20)
Para cada tempo difícil, grandes santos, luminares, Sacerdotes e aparições marianas são enviados ao mundo pelo misericordiosíssimo Criador, a fim levarem a cruz da Santa Igreja às costas, com a graça e assistência do Espírito Santo, o Paráclito, de modo a fomentar de Fé e perseverança Sua Santa Igreja Militante, o Corpo Místico de Cristo na Terra.
Rafael Pessoa Sabino
1º semestre de 2022 A.D.
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