PAPA
SÃO GREGÓRIO VII
EXCOMUNGA
O REI HENRIQUE IV
PAPA
SÃO GREGÓRIO VII
EXCOMUNGA
O REI HENRIQUE IV
OBS.: antes de tudo, quero deixar registrado meu máximo respeito e reverência pela atividade sacerdotal e hierarquia do clero. O sacerdócio é, independentemente do caráter de quem faz uso de suas incumbências, uma missão sagrada, ungida por Deus e, portanto, digna de toda admiração e reverência. Por isso, qualquer indivíduo, sobretudo um leigo, ao dirigir-se a um homem nessa posição, deve ter a mais alta prudência possível nos pensamentos, atos e palavras 1) porquanto não lidará com um comum, mas escolhido do Altíssimo e, por ser Sacerdote, dotado da graça, poder e responsabilidade de ministrar Sacramentos e perdoar pecados em nome do Criador; 2) porque tem ele as mãos ungidas — as únicas com permissão ordinária para tocar a Sacratíssima Eucaristia, que é Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus Vivo com o Pai e o Espírito Santo. Portanto, se em alguma conjuntura um Ministro do Todo Poderoso comete um erro de proporção tal que põe em risco a salvação de uma e/ou mais almas — e/ou mesmo a dele —, é dever do fiel católico rezar por esse Sacerdote e, se possível, exortá-lo (docilmente) quanto a redimir-se dos equívocos, a consertar o que for possível e seguir os preceitos da Fé, Tradição e Doutrina da única e genuína Igreja de Deus: que é Una, Santa, Católica e Apostólica. Paralelamente a isso, há situações em que não há meios de exortar direta e/ou pessoalmente tal Clérigo (quiçá por já ter ele falecido ou ser uma pessoa de difícil acesso). Também acontece de um ensinamento errôneo do catolicismo ser proliferado em larga escala, por meio de um livro, entrevista, etc., advindo de um Sacerdote. Nesse caso, mesmo que o Padre possa ser contatado, as proporções de seu erro são incomensuráveis e, sendo assim, muito difíceis de serem revertidas, a não ser por milagre. Então, assim sendo, é obrigação do católico fiel que tem conhecimento da causa fazer o possível para minimizar os danos dessa problemática proliferação massiva, tanto quanto lhe for possível, com o mais alto respeito, magnanimidade e toda sabedoria de que dispõe seu ser, de modo a alertar seus irmãos na Fé, acerca de tais equívocos, e incentivá-los a não cometê-los, conquanto, sem deixar de amar em Cristo o autor dos equívocos (a Santa Igreja nos ensina a odiar o pecado, mas a amar o pecador), intercedendo por ele e sem cair no erro de julgá-lo, porque só Deus é juiz, sobretudo de seus Ungidos.
OBS.: a Igreja é Una, Santa, Católica e Apostólica. Eis o que diz sua Profissão de Fé (Credo). Por conseguinte, depreende-se que é Ela inequívoca, inerrante, infalível, imaculada, perfeita — sobretudo porque é o Corpo Místico de Cristo (que é Deus e indefectível), sendo Ele a cabeça e os fiéis católicos os membros. Logo, se há qualquer situação problemática dentro da Santa Igreja Católica, nada tem a ver com a Instituição de per si; nada disso tem relação com Seus Santos Dogmas e com Sua Santa Tradição, os quais são divinos e, desse modo, genuínos, irrepreensíveis e inspirados pelo Espírito Santo (Paráclito). De fato, qualquer conjuntura negativa que, porventura, venha a ocorrer advém senão de falha por parte dos membros da Santa Igreja de Deus e não Dela, os quais, esses sim, são passíveis de pecado e queda, por sua natureza humana, limitada e ferida com o pecado original — diferentemente da Santa Igreja Católica, que é de natureza sobrenatural e Corpo Espiritual da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Nosso Senhor Jesus Cristo.
OBS.: uma simplória, mas pertinente analogia: a medicina é uma prática extremamente importante. Eis uma ciência que, por definição, tem por primeiro objetivo fornecer todo o possível para maximizar a qualidade da vida humana. Se, por exemplo, um médico é abortista, está indo de encontro a tal referido princípio basilar, o qual rege sua profissão. Ora, se ao invés de salvar vidas ele as mata, isso não faz da medicina algo mau, só porque um de seus membros o é. Da mesma maneira acontece com a Santa Igreja Católica, única e verdadeira religião de Deus; e Sua santidade e indefectibilidade indiscutíveis e sobrenaturais devem ser separadas dos atos humanos e suscetíveis a erros por parte de alguns de Seus membros. Julgar o todo a partir de uma de suas partes constituintes é um grave equívoco. Assim como, por exemplo, se uma santa família de trabalhadores tem um de seus dose membros corrompido por pecados e envolvido com ilicitudes. Isso não faz dela um clã de criminosos. Generalizar o que é isolado e tornar regra o que é exceção é conduta miseravelmente errônea.
OBS.: detenho-me nessas considerações introdutórias a fim de que todo aquele que acessar os conteúdos abaixo e encontrar relatos de alguma defectibilidade por parte de qualquer membro da Santa Igreja Católica não caia no absurdo erro de interligar tal negativa conjuntura mencionada às Santas Doutrina e Tradição Católicas e Suas respectivas diretrizes. Real espelho do catolicismo é Cristo, a Santíssima Virgem Maria, os Santos Apóstolos, os Santos Mártires e todos os Santos e Bem-Aventurados. Quem age em dissonância com esses está errado e, por conseguinte, não reflete a Santa Igreja de Deus, Suas Leis e ensinamentos advindos da própria Santíssima Trindade.
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CONTEXTO HISTÓRICO
O monarca Henrique IV, do Sacro-Império Romano-Germânico (1050-1106), miserável que era, pretendeu-se estar acima da Santa Igreja de Deus e de Seu papado. Tal insanidade consequenciou em uma das maiores batalhas experienciadas pelo catolicismo, em toda sua história, entre ele e o Papa São Gregório VII (1020-1080), somente igualada pela querela entre o Sumo Pontífice Bonifácio VIII e Felipe, O Belo, Rei de França — a qual, para alguns historiadores, marcara o fim do Medievo.
Ora! A monarquia do catolicismo (cujo Papa é o Rei visível, empossado pelo próprio Deus e apenas a Ele submisso), por ser sobrenatural, reina sobre o âmbito terreno. Todavia, ainda assim, o Imperador Henrique IV manteve-se obstinado em seu erro, não obstante diversas tentativas da Santa Igreja a fim de dissuadi-lo da iminente tragédia: sua anatematização.
Tal conflito ficou conhecido como a “Querela das Investiduras”. Nela, o Sacro Imperador chegou ao absurdo disparate de reclamar, em benefício do poder secular, a presidência da investidura de Bispos e Papas. Ansiava o mentecapto ter o total controle da escolha de papados e episcopados, submissos ao seu beneplácito.
Acontece que no Reino de Deus apenas o Criador escolhe Seus Príncipes. Sua Igreja, bem como o mundo terreno no qual se encontra, é parte desse Reinado. E, ainda que o Altíssimo permita reis na Terra, permanecem esses sempre submissos aos Sacerdotes da Santíssima Trindade, os quais, por sua vez, são também perenemente serviçais do Senhor dos senhores. Mas Henrique IV quis agir diferente.
Então, em 1075, representantes do Sumo Pontífice convidaram-no para ir à Roma, na semana da Páscoa, a fim de apresentar-se perante um Sínodo e responder às graves acusações que havia contra sua pessoa. Porém, em um ato arbitrário, o insano monarca expulsou os comissários do Santo Padre com desdém e ele mesmo, alguns meses depois, em um ato de imprudente audácia, convocou um Sínodo, na cidade de Worms-Alemanha, em janeiro de 1076.
Os péssimos clérigos — seus aliados —, nesse falso Sínodo, criaram diversas calúnias contra o Papa São Gregório VII (1020-e, ousadamente, declararam-no deposto.
Eis, pois, que Henrique IV toma a miserável decisão de publicar, a 24 de janeiro de 1076, uma carta, na qual expôs os motes e absurdos daquele motim, a ainda, por meio dela, atacara frontalmente a pessoa do Sumo Pontífice pesadíssimas ofensas sem qualquer embasamento.
Em resposta a essas heresias, São Gregório VII, a fevereiro de 1076, em plena Quaresma, convocara um Sínodo, na Basílica de São João de Latrão, em Roma-Itália. Nele o Sumo Pontífice proclamou a excomunhão de Henrique IV, juntamente com a do Arcebispo de Mainz-Alemanha e as de todos os prelados que assinaram os decretos do famigerado Sínodo de Worms.
As palavras de São Gregório, na anatematização de Henrique IV, foram impressionantes em tal grandeza que marcaram, para sempre, a história da Santa Igreja Católica — para além de ratificar a Doutrina de sempre do catolicismo, a qual proclama a Santa Igreja de Deus (Corpo Místico de Cristo) superior a todas as hierarquias terrenas, de modo que essas devem, obrigatoriamente, se submeter ao papado em tudo que concernir à Fé, moral, costumes, cultura, educação e afins, conjunturas que tangem diretamente a salvação das almas.
Quiçá inspiradas pelo próprio Paráclito, as palavras proferidas pelo Santo Padre naquela alocução espalhara-se mundo afora e seu olor de santidade, sua firmeza, sua verdade, sua catolicidade, sua convicção e sua coragem, até os dias atuais, provocam comoção e estremecimento às almas que as lêem e as escutam.
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Curioso caso também ocorrera nesse mesmo Sínodo, convocado pelo Papa São Gregório XII, ocorrido na Basílica de São João de Latrão, em Roma-Itália: Roland, um Sacerdote da cidade italiana de Parma, externou sua aderência ao cisma encabeçado por Henrique IV, anuiu aos atos de Worms e proclamou não ser mais Papa São Gregório VII, acusando-o das mais levianas formas.
Relatos atestam que o próprio Sumo Pontífice, santo que era, ele mesmo protegeu a integridade física de seu injusto acusador, não permitindo que esse viesse a ser linchado pelos perplexos presentes, tamanha a indignação que lhes causara aquelas absurdidades caluniosas.
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E, ainda acerca de Henrique IV, impressionantemente, uma segunda vez fora anatematizado o empedernido Sacro Imperador, porque não cumprira as ordens papais que condicionavam o levantamento de sua primeira excomunhão — a qual somente fora revogada porque o monarca foi a Canossa-Itália, perante o Papa, implorar perdão, em trajes de saco, descalço e com uma corda amarrada ao pescoço, em pleno inverno europeu, ali permanecendo por três dias nessa situação.
Esse imperador foi, deveras, um ser terrível: apesar de todos os esforços papais para sua conversão e submissão a Deus, no ano de 1080, ousara investir novamente contra o papado de São Gregório VII e, pretendendo-se dono da Santa Igreja, erigiu um antipapa: Clemente III.
Quatro anos depois, invadira Roma e seu exército obrigou o Santo Padre a refugiar-se no Castelo de Santo Ângelo.
Todavia, os normandos, sob as ordens do Duque Roberto de Altavila, mantiveram-se fiéis à aliança feita com São Gregório VII e, a 24 de maio de 1084, expulsaram da Cidade Santa as tropas do pérfido Henrique IV, o que possibilitou retirarem dali, em segurança, o Sumo Pontífice, o qual foi levado à cidade de Salerno-Itália, onde morreria pouco tempo depois, a 25 de maio de 1085.
Suas últimas palavras teriam sido: “dilexi iustitiam et odivi iniquitatem propterea morior in exilio” ("eu amei a justiça e odiei a iniquidade; por isso morro no exílio.").
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A EXCOMUNHÃO
OBS.: esse documento, infelizmente, não consta no site oficial do Vaticano. Trata-se de raríssimo achado. As pouquíssimas fontes que encontrei comungam de similaridades no que concerne à essência do conteúdo, mas distam-se na tradução. Portanto, não posso afirmar que as considero irrepreensivelmente confiáveis. Para além disso, nenhuma apresenta o escrito original, em latim. E, por fim, destarte, compartilho, abaixo, duas das quais penso estarem mais inteligíveis e quiçá portadoras de maior fidedignidade.
TRADUÇÃO 01
“Ó, Santo Príncipe dos Apóstolos, Pedro, inclinai-vos a ouvir-nos! Escutai a mim, vosso servo, a quem tens nutrido, desde a infância, e amparado contra os ímpios, até o dia de hoje.
Vós — e minha Senhora, a Mãe de Deus — e vosso irmão, São Paulo, sede minhas testemunhas de que a Santa Igreja Romana me confiou o Seu timão contra a minha vontade, e que não subi à Cátedra de Pedro como ladrão. Eu preferiria muito mais terminar a vida no estrangeiro do que arrebatar vossa Cátedra por desejo de glória temporal e por espírito de mudança.
E, por isso, creio que procede de vossa graça — e não de obra minha — que vos agrade, e tem agradado, que o povo cristão, especialmente a vós confiado, me obedeça, em virtude de vossa representação, que me foi dada.
Por vossa intercessão Deus me deu o poder de ligar e desligar na Terra como no Céu. Portanto, confiado nisso, para honra e defesa da Igreja, em nome de Deus Onipotente — Pai, Filho e Espírito Santo —, proíbo o Rei Henrique, filho do Imperador Henrique, o Governo de todo o Império alemão e italiano, porque ele, com inaudita soberba, se levantou contra a vossa Igreja. Eu desligo todos os cristãos da obrigação de juramento que lhe prestaram e que, daqui por diante, lhe possam vir a prestar. Proíbo que o sirvam, doravante, como seu Rei, pois convém que todos aqueles que atacam a dignidade da Igreja percam sua própria dignidade; e porque o Imperador não fez caso de obedecer como cristão e não se volta para Deus — pelo contrário, tem trato com excomungados, causa muito dano, despreza a minha exortação —, e pelo seu empenho de vir à Igreja, mesmo separado Dela, eu o acorrento, em nome de Deus, com as correntes da maldição, para que todos os povos saibam e conheçam que vós sois Pedro e sobre esta Pedra o Filho de Deus estabeleceu a Sua Igreja; Igreja que é viva e contra essa Igreja as portas do inferno não prevalecerão.”
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TRADUÇÃO 02
"Bem-Aventurado Pedro, Príncipe dos Apóstolos, inclinai para mim, como vos suplico, ouvidos favoráveis. Escutai vosso servo, que alimentastes desde a infância; que, até hoje, tendes arrancado da mão dos ímpios, que o odiaram e odeiam ainda, por sua fidelidade para convosco.
Vós me sois testemunha — e, convosco, minha Soberana, a Mãe de Deus, bem como o Bem-Aventurado Paulo, vosso irmão entre todos os Santos —, que vossa Santa Igreja Romana me constrangeu, contra minha vontade, a governá-La; e que eu ascendi à vossa Cátedra por meios honestos.
Certamente, teria preferido acabar minha vida sob o hábito monástico a ocupar vosso lugar por desejo de gloria mundana e com o espírito do Século. Por isso, creio que é por vossa graça — e não por causa de meus méritos — que o povo cristão, que me foi especialmente confiado, me obedece, pois o poder de ligar e desligar no Céu e sobre a Terra me foi conferido por Deus, a vosso pedido, para que eu o exerça em vosso lugar.
Fortalecido por vossa confiança, para honra e defesa da Igreja, da parte de Deus todo poderoso — Pai, Filho e Espírito Santo —, por vosso poder e por vossa autoridade, interdigo ao Rei Henrique, filho do Imperador Henrique — que, por um orgulho insensato, se levantou contra vossa Igreja — de governar o reino da Alemanha e da Itália.
Desligo todos os cristãos do juramento que contraíram para com ele e proíbo quem quer que seja de o reconhecer como Rei.
É conveniente, com efeito, que aquele que deseja diminuir a honra de vossa Igreja perca a honra que parece possuir.
Ademais, visto que, como cristão, recusou obedecer — já que não retornou ao Senhor que abandonou, ao ter relações com excomungados —, ao acumular iniquidades, ao desprezar as advertências que — vós sois testemunha — lhe dirigi, para sua salvação, ao se separar de vossa Igreja e tentar dividi-la, em vosso lugar eu o ligo pelo liame do anátema, a fim de que todos os povos da Terra saibam que sobre esta Pedra o Filho do Deus Vivo edificou Sua Igreja e que as portas do inferno não prevalecerão contra Ela."
Vivat Sanctissima Trinitas!
Vivat Sanctissima Virgo Maria!
Vivat Sanctissima Traditio!
Per ipsum, et cum ipso, et in ipso,
per omnia saecula saeculorum!
Amen!
Rafael Pessoa Sabino
1º semestre de 2022 d.C.
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Papa São Gregório VII.
A humilhação do Imperador Henrique IV perante o Papa São Gregório VII, em Canossa-Itália.