COMMONITORIUM
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Syllabus Errorum: Irmã Faustina
COMMONITORIUM
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Syllabus Errorum: Irmã Faustina
OBS.: antes de tudo, deixo registrado meu máximo respeito e reverência pela atividade sacerdotal e hierarquia do Clero, bem como pelos estados de vida consagrados a Deus, por meio das Ordens Religiosas. Em especial, o Sacerdócio é, independentemente do caráter de quem faz uso de suas incumbências, uma missão sagrada, ungida por Deus e, portanto, digna de toda admiração e reverência. Por isso, qualquer indivíduo, mormente um leigo, ao dirigir-se a um homem nessa posição, deve ter a mais alta prudência possível nos pensamentos, atos e palavras: 1) Porquanto não lidará com um comum, mas ungido e escolhido do Altíssimo e, por ser Padre, dotado da graça e responsabilidade de ministrar Sacramentos e perdoar pecados em nome do Criador; 2) Porque tem ele as mãos consagradas — as únicas com permissão ordinária para tocar a Sacratíssima Eucaristia, que é Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus Vivo com o Pai e o Espírito Santo. Portanto, se em alguma conjuntura, um Ministro do Todo Poderoso comete um erro de proporção tal que põe em risco a salvação de uma e/ou mais almas — e/ou mesmo a dele —, é dever do fiel católico rezar por esse Padre ou Bispo, antes de tudo; e, se possível, exortá-lo (docilmente) no que concerne a redimir-se dos equívocos, a consertar o que for possível e seguir os preceitos da Fé, Tradição e Doutrina da única e genuína Igreja de Deus: que é Una, Santa, Católica e Apostólica. Paralelamente a isso, há situações em que não há meios de exortar direta e/ou pessoalmente tal Clérigo (quiçá por já ter ele falecido ou ser uma pessoa de difícil acesso). Também ocorre de um ensinamento errôneo do catolicismo ser proliferado em larga escala, por meio de um livro, audiovisual, etc., advindo de um Sacerdote. Nesse caso, mesmo que o Padre possa ser contatado, as proporções de seu erro são incomensuráveis e, assim sendo, muito difíceis de serem revertidas, a não ser por milagre. Então, nessa conjuntura, é obrigação do católico fiel (que tem conhecimento do fato) fazer tudo o que for possível para minimizar os danos dessa problemática proliferação massiva, com o mais alto respeito, magnanimidade e toda sabedoria de que dispõe seu ser, de modo a alertar seus irmãos na Fé acerca de tais equívocos e incentivá-los a não cometê-los, conquanto, sem deixar de amar em Cristo o autor dos equívocos (porque a Santa Igreja nos ensina a odiar o pecado, mas a amar o pecador), intercedendo por ele e sem cair no erro de condená-lo, porque só Deus é juiz, principalmente de seus ungidos.
OBS.: escreve São Paulo a Tito: “adverte-os que sejam sujeitos aos magistrados e às autoridades, que lhes obedeçam, que estejam prontos para toda a boa obra; que não digam mal de ninguém, nem sejam questionadores, mas modestos, mostrando toda a mansidão para com todos os homens. Também nós, outrora, éramos insensatos, rebeldes, desgarrados, escravos de paixões e prazeres, vivendo na malícia e na inveja, dignos de ódio e odiando os outros. Mas, quando se manifestou a bondade de Deus, Nosso Salvador, e o Seu amor pelos Homens, não pelas obras de justiça que tivéssemos feito, mas por Sua misericórdia, salvou-nos, mediante o Batismo de regeneração e de renovação do Espírito Santo, que Ele difundiu sobre nós, abundantemente, por Jesus Cristo, Nosso Salvador, para que a justificação obtida por Sua graça nos torne, em esperança, herdeiros da Vida Eterna. Esta é uma verdade infalível e quero que a afirmes, para que procurem ser os primeiros nas boas obras aqueles que crêem em Deus. Estas coisas são boas e úteis aos Homens. Foge, porém, de questões loucas, de genealogias, de disputas e de contestações sobre a Lei, porque são inúteis e vãs. Foge do herético, depois da primeira e segunda correção, sabendo que um tal homem está pervertido e peca, como quem é condenado pelo seu próprio juízo." (Tt 3,1-11) Isso quer dizer que o fiel católico tem de abster-se de toda e qualquer discussão inútil, supérflua, vã e/ou que ponha em dúvida Verdades da Fé — a menos que seja para defendê-Las.
OBS.: contudo, depreende-se de tais sábias palavras do Santo Apóstolo que é obrigação de todo seguidor de Cristo não envolver-se em querelas estapafúrdias, bem como defendê-Lo e propagá-Lo sempre que possível, com sabedoria e parcimônia, como o fez São Paulo, inclusive perante São Pedro, o primeiro Papa: "catorze anos depois, subi novamente a Jerusalém, com Barnabé, tomando também comigo a Tito. Subi, em consequência de uma revelação; conferi com eles o Evangelho que prego entre os gentios e (conferi) particularmente com aqueles que eram de maior consideração, a fim de não correr ou de não ter corrido inutilmente. Ora, nem mesmo Tito, que estava comigo, sendo grego, foi obrigado a circuncidar-se, e isto por causa dos falsos irmãos, que se intrometeram a espiar a liberdade que temos em Jesus Cristo, para nos reduzirem à escravidão (querendo obrigar-nos à observância dos ritos mosaicos), aos quais, nem um só instante, cedemos, para que permaneça entre vós a verdade do Evangelho. Quanto, porém, àqueles que tinham grande autoridade, (quais tenham sido noutro tempo, não me importa, pois Deus não faz acepção de pessoas) esses, digo, que tinham grande autoridade, nada me impuseram. Antes, pelo contrário, tendo visto que me tinha sido confiado o Evangelho para os não circuncidados, como a Pedro para os circuncidados (porque quem fez de Pedro o Apóstolo dos circuncidados também fez de mim o Apóstolo dos gentios), e tendo reconhecido a graça que me foi dada, Tiago, Cefas e João, que eram considerados as colunas (da Igreja), deram as mãos a mim e a Barnabé, em sinal de comunhão, para que fôssemos aos gentios, e ele aos circuncidados, (recomendando) somente que nos lembrássemos dos pobres (da Judeia); o que eu fui solícito em cumprir. Mas, tendo vindo Cefas a Antioquia, eu lhe resisti na cara, porque merecia repreensão, pois que antes que chegassem alguns de Tiago, ele comia com os gentios, mas, depois que chegaram, retirava-se e separava-se (dos gentios), com receio dos que eram circuncidados. Os outros judeus imitaram-no na sua dissimulação, de sorte que até Barnabé foi induzido por eles àquela simulação. Porém eu, tendo visto que eles não andavam direitamente, segundo a verdade do Evangelho, disse a Cefas, diante de todos: "se tu, sendo judeu, vives como gentio e não como judeu, por que obrigas os gentios a judaizar?" Nós somos judeus, por nascimento, e não pecadores dentre os gentios." (Gl 2,1-15) Aqui São Paulo comprova que, em dadas conjunturas, é pertinente a exortação em privado. Em outras, a correção pública é necessária.
OBS.: corrobora, pois, tal verdade o mesmo Bem-Aventurado: “eu te conjuro, diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de vir julgar os vivos e os mortos, pela Sua aparição e por Seu Reino: proclama a palavra, insiste, no tempo oportuno e no inoportuno, refuta, ameaça, exorta com toda paciência e Doutrina. Pois virá um tempo em que alguns não suportarão a Sã Doutrina; pelo contrário, segundo os seus próprios desejos, como que sentindo comichão nos ouvidos, se rodearão de mestres. Desviarão os seus ouvidos da verdade, orientando-os para as fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em tudo, suporta o sofrimento, faze o trabalho de um evangelista, realiza plenamente o teu ministério. Quanto a mim, já fui oferecido em libação, e chegou o tempo de minha partida. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a Fé.” (2Tm 4,1-7)
OBS.: todavia, havendo renúncia contumaz, por parte dos interlocutores, em relação às verdades de Fé, que seja feita a vontade de Nosso Senhor: “depois disto, o Senhor escolheu outros setenta e dois, mandou-os, dois a dois, adiante de Si, por todas as cidades e lugares onde Ele estava para ir. Disse-lhes: "grande é, na verdade, a Messe, mas os operários poucos. Rogai, pois, ao Dono da Messe que mande operários para a Sua Messe. Ide. Eis que Eu vos envio como cordeiros entre lobos. Não leveis bolsa, nem alforje, nem calçado, e pelo caminho não saudeis ninguém. Na casa em que entrardes, dizei primeiro: a paz [esteja] nesta casa. Se ali houver algum filho de paz, repousará sobre ele a vossa paz; de contrário, tornará para vós. Permanecei na mesma casa, comendo e bebendo do que tiverem; porque o operário é digno da sua recompensa. Não andeis de casa em casa. Em qualquer cidade em que entrardes, e vos receberem, comei o que vos puserem diante; curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: está próximo de vós o Reino de Deus. Mas, em qualquer cidade em que entrardes, e vos não receberem, saindo para as praças, dizei: até o pó da vossa cidade, que se nos pegou aos pés, sacudimos contra vós; não obstante isto, sabei que o Reino de Deus está próximo." (Lc 10, 1-11)
OBS.: assim, sejamos discípulos, apóstolos, anunciadores, servos desse mesmo Cristo Jesus, de modo santo, sábio, piedoso, modesto e ordenado, como finaliza a questão Santo Tomás de Aquino: “duas coisas se devem distinguir nas discussões sobre a Fé: uma, relativa a quem discute; outra, aos ouvintes. Relativamente àquele, é preciso que se lhe leve em conta a intenção. Se discutir, duvidando da Fé e não lhe tendo como certas as verdades, que procura examinar por meio de argumentos, por certo peca, como dúbio na Fé e infiel. Digno de louvor será, porém, se discutir sobre a Fé para refutar erros, ou mesmo como exercício. Relativamente aos ouvintes, devemos distinguir se os assistentes [espectadores] à discussão são instruídos e firmes na Fé, ou se simples, e a tem vacilante. Pois, certamente, nenhum perigo há em se discutir na presença de sábios e firmes na Fé. Quanto aos simples, porém, é mister distinguir [ponderar a respeito]. Porque, ou são provocados e repelidos pelos infiéis, como os judeus, os heréticos ou os pagãos, que se esforçam por lhes corromper a Fé; ou de nenhum modo são provocados nessas questões, como nas terras onde não existem infiéis. No primeiro caso, é necessário discutir sobre a Fé publicamente, desde que se encontre quem seja idôneo e capaz para tal e possa refutar os erros. Pois assim, os simples na Fé se fortalecerão e os infiéis ficarão privados do poder de enganar; e, ao contrário, o fato mesmo de se calarem os que deviam se opor aos corruptores da verdade da Fé seria confirmação do erro. Por isso, Gregório diz: assim como falar incautamente incrementa o erro, assim o silêncio indiscreto abandona ao erro os que deviam ser ensinados. No segundo caso, porém, é perigoso disputar [debater] sobre a Fé na presença dos simples, cuja crença é mais firme quando nada ouviram diverso daquilo que creem. Por isso não convém [que] ouçam as palavras dos infiéis, que disputam contra a Fé. (...) O Apóstolo não proíbe totalmente a discussão, senão só a desordenada, que se faz, antes, pela contenção das palavras [vaidade e verborragia] do que pela firmeza das expressões. (...) A lei citada proíbe à discussão pública sobre a Fé, procedente de dúvidas relativamente a esta [questionamento de Sua veracidade]; não, porém, a que visa conservá-la. (...) Não se deve discutir sobre os artigos da Fé, como duvidando deles, mas para manifestar-lhes a verdade e refutar os erros. Por isso é necessário, para a confirmação da Fé, disputar, às vezes, com os infiéis — ora defendendo a Fé, conforme aquilo da Escritura: sempre aparelhados para responder a todo o que vos pedir razão daquela esperança que há em vós, ora para convencer os errados, segundo, ainda, a Escritura: para que possa exortar conforme à Sã Doutrina e convencer aos que [A] contradizem.” (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, Parte II, Seção II, Questão 10, Artigo 7)
OBS.: “Artigo 1: se a correção fraterna é ato de caridade. - A correção do delinquente é um remédio que devemos aplicar contra o pecado cometido. Ora, o pecado cometido pode ser considerado à dupla luz: como nocivo ao pecador e como contribuindo para o mal de outros, que são lesados ou escandalizados pelo pecado; ou, ainda, enquanto nocivo ao bem comum, cuja justiça perturba. Logo, dupla há de ser a correção do delinquente. Uma, que remedeie [o] pecado enquanto mal do próprio pecador. — E essa é propriamente a correção fraterna, ordenada à emenda do delinquente. Ora, livrar alguém de um mal é ato da mesma natureza que lhe buscar o bem. Mas buscar o bem do próximo é próprio da caridade, que nos leva a querer e a fazer bem ao nosso amigo. Por onde, também a correção fraterna é um ato de caridade, pois nos leva a repelir o mal do nosso irmão, que é o pecado. — (...) Outra correção é a que remedeia ao pecado do delinquente, enquanto causa o mal dos outros, e, sobretudo, enquanto danifica o bem comum. E tal correção é ato de justiça, da qual é próprio conservar a retidão justa entre um e outro indivíduo. (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, Parte II, Seção II, Questão 33, Artigo 1)
OBS.: “Artigo 4: se alguém está obrigado a corrigir o seu Prelado. - A correção, ato de justiça, aplica a coerção da pena. [Isto] não cabe ao súdito, em relação ao Prelado. Mas a correção fraterna, ato de caridade, incumbe a todos, relativamente a qualquer pessoa para com quem se deve ter caridade, se nela se encontrar o que deva ser corrigido. Pois, o ato procedente de um hábito ou potência abrange tudo o que está contido no objeto dessa potência ou hábito, assim como a visão abrange tudo o que está contido no objeto da vista. Mas, havendo o ato virtuoso de adaptar-se às circunstâncias devidas, a correção que os súditos aplicarem aos Prelados deve ser feita de modo congruente, não o corrigindo com protérvia e dureza, mas com mansidão e reverência. [Como diz] o Apóstolo: não repreendas com aspereza ao velho, mas adverte-o como [a um] pai. Por isso Dionísio repreendeu ao monge Demófilo, por ter corrigido um sacerdote irreverentemente, maltratando-o e expulsando-o da igreja. Donde a resposta à primeira questão: toca-se indebitamente no Prelado quando ele é repreendido com irreverência... (...) E isso é significado pelo contato do monte e da arca, proibido por Deus. Resposta à segunda: resistir na cara, em presença de todos, excede o modo da correção fraterna; e por isso Paulo não teria assim repreendido a Pedro se não lhe fosse igual, de certa maneira, na defesa da Fé. Mas advertir oculta e reverentemente também pode fazê-lo quem não é igual. Por isso o Apóstolo escreve que os súditos advirtam o seu Prelado, quando diz: dizei a Arquipo: cumpre o teu ministério. Devemos, porém, saber que, correndo iminente perigo a Fé, os súbitos devem advertir os Prelados, mesmo publicamente. Por isso Paulo, súdito de Pedro, repreendeu-o em público, por causa de perigo iminente de escândalo para a Fé. E assim diz a Glosa de Agostinho: o próprio Pedro deu aos maiores o exemplo de, se porventura se desviarem do caminho reto, não se [dedignarem] ser repreendidos, mesmo pelos inferiores. Resposta à terceira: presumir-se melhor, absolutamente, que o seu Prelado é soberba presunçosa. Mas julgar-se melhor, em algum ponto, não é presunção, porque não há ninguém nesta vida que não tenha algum defeito. Donde devemos concluir que quem admoesta caridosamente o seu Prelado, não se considera por isso maior que ele, mas lhe vai em auxílio a ele, que, quanto mais ocupa um lugar superior, a tanto maior perigo se acha exposto, como diz Agostinho.” (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, Parte II, Seção II, Questão 33, Artigo 4)
OBS.: a correção fraterna é de preceito e, por conseguinte, está presente na Fé Católica desde sua origem, com Jesus Cristo. Santo Tomás de Aquino, o mais notável entre os Doutores da Santa Igreja, em sua Suma Teológica, aborda magistralmente o tema (Secunda Secundae, Questão 33, Artigos 1 a 8). Eis alguns trechos: “a correção fraterna constitui objeto de preceito. (...) Como já dissemos, há dupla forma de correção. — Uma é ato de caridade e tende à emenda do nosso irmão delinquente, por simples advertência. E essa correção pertence a todos que têm caridade, quer seja súdito, quer Prelado. — Há, porém, outra correção, que é ato de justiça, e visa o bem comum. E este é realizado, não só pela advertência fraternal, mas também, às vezes pela punição, para o temor levar os outros a abandonarem o pecado. E essa correção pertence somente aos Prelados, que não só têm que advertir, mas, ainda, corrigir punindo. (...) A correção, ato de justiça... coerção da pena, não cabe ao súdito, em relação ao Prelado. Mas a correção fraterna, ato de caridade, incumbe a todos, relativamente a qualquer pessoa para com quem se deve ter caridade, se nela se encontrar o que deva ser corrigido. Pois o ato procedente de um hábito ou potência abrange tudo o que está contido no objeto dessa potência ou hábito, assim como a visão abrange tudo o que está contido no objeto da vista. Mas, havendo o ato virtuoso de adaptar-se às circunstâncias devidas, a correção que os súditos aplicarem aos Prelados devem ser feitas de modo congruente, não o corrigindo com protérvia e dureza, mas com mansidão e reverência. Donde o dizer o Apóstolo: não repreendas com aspereza ao velho, mas adverte-o como o pai. Por isso, Dionísio repreendeu ao monge Demófilo, por ter corrigido um Sacerdote irreverentemente, maltratando-o e expulsando-o da igreja. (...) Resistir na cara, em presença de todos, excede o modo da correção fraterna; e por isso Paulo não teria assim repreendido a Pedro se não lhe fosse igual, de certa maneira, na defesa da Fé. Mas advertir oculta e reverentemente também pode fazê-lo quem não é igual. Por isso o Apóstolo escreve que os súditos advirtam o seu Prelado, quando diz: dizei a Arquipo: cumpre o teu Ministério. Devemos, porém, saber que, correndo iminente perigo a Fé, os súditos devem advertir os Prelados, mesmo publicamente. Por isso Paulo, súdito de Pedro, repreendeu-o em público, por causa de perigo iminente de escândalo para a Fé. E assim diz a Glosa de Agostinho: o próprio Pedro deu aos maiores o exemplo de, se porventura se desviarem do caminho reto, não se dedignem ser repreendidos, mesmo pelos inferiores. (...) Presumir-se melhor, absolutamente, que o seu Prelado, é soberba presunçosa. Mas julgar-se melhor, em algum ponto, não é presunção, porque não há ninguém nesta vida que não tenha algum defeito. Donde devemos concluir que quem admoesta caridosamente o seu Prelado não se considera por isso maior que ele, mas lhe vai em auxílio a ele, que, quanto mais ocupa um lugar superior, a tanto maior perigo se acha exposto, como diz Agostinho. (...) Quando a necessidade nos obrigar a repreender alguém, reflitamos se se trata de um vício tal que nunca tivemos — que somos Homens e poderíamos tê-lo tido; ou que é um vício tal que já tivemos e, de presente, não temos — e, então, não percamos a memória da comum fragilidade, para fazermos a correção, não com ódio, mas com misericórdia. Se, porém, nos encontrarmos no mesmo vício, não repreendamos, mas gemamos juntamente e convidemos o pecador à penitência comum. Ora, daqui se conclui claramente que, se o pecador corrigir com humildade o delinquente, não peca nem se expõe à nova condenação — salvo se, agindo assim, pareça condenável à consciência do irmão ou, pelo menos, à sua, quanto a pecado passado. (...) Sobre a acusação pública dos pecadores é preciso distinguir. Pois, ou os pecados são públicos ou ocultos. — Se públicos, não devemos somente corrigir o pecador, para que se torne melhor, mas também dar satisfação aos outros, que os conheceram, para não se escandalizarem. Por isso, tais pecados devem ser repreendidos publicamente, conforme aquilo do Apóstolo: aos que pecarem, repreende-os diante de todos, para que também os outros tenham medo — o que se entende dos pecados públicos, diz Agostinho. Se, porém, os pecados forem ocultos, então se aplicará o dito do Senhor: — se teu irmão pecar contra ti... pois, quando te ofender publicamente, em presença dos outros, já não pecará só contra ti, mas também contra os outros, que também se ofende. Mas, como os pecados, mesmo ocultos, podem causar ofensa ao próximo, é necessário, ainda, neste ponto, distinguir. — Certos pecados ocultos causam dano ao próximo, corporal ou espiritualmente; por exemplo, se alguém trata ocultamente de entregar a cidade aos inimigos; ou se um herético desviar, privadamente, os outros da Fé. E como quem assim peca ocultamente não só peca contra uma determinada pessoa, mas também contra as outras, é necessário se proceda logo à repreensão pública, para o referido dano ser reparado — salvo se houver razões sérias de pensar que os males em questão possam ser conjurados de pronto, por uma advertência secreta. Há outros pecados, porém, que redundam só no mal do pecador e daquele contra o qual ele peca, ou porque este é somente o prejudicado por ele, seja, embora, só pelo conhecimento. E, então, devemos somente ir em auxílio do irmão pecador. E, assim como o médico do corpo deve restituir a saúde ao doente, se puder, sem amputar nenhum membro, mas, se o não puder, cortando o membro menos necessário, para conservar a vida do todo, assim também quem se esforça por emendar o próximo deve, se puder, emendá-lo na sua consciência, para se lhe conservar a boa reputação.”
OBS.: é mister ressaltar: a Igreja é Una, Santa, Católica e Apostólica. Eis o que diz sua Profissão de Fé (Credo/Símbolo). Por conseguinte, depreende-se que é Ela inequívoca, inerrante, infalível, imaculada, perfeita — precipuamente porque é o Corpo Místico de Cristo (que é Deus e indefectível), sendo Ele a cabeça e os fiéis católicos os membros ["Ele é a cabeça do corpo da Igreja, é o princípio..." (Cl 1,18)]. Logo, se há qualquer situação problemática dentro da Santa Igreja Católica, nada tem a ver com a Instituição de per si; nada disso tem relação com Seus Santos Dogmas e com Sua Santa Tradição, os quais são divinos e, desse modo, genuínos, irrepreensíveis e inspirados pelo Espírito Santo (Paráclito). De fato, qualquer situação negativa que, porventura, venha a ocorrer advém senão de falha por parte dos membros constituintes da Santa Igreja de Deus e não Dela enquanto Fé (Corpo Doutrinal), os quais, esses sim, passíveis de pecado e queda, por sua natureza humana, limitada e ferida com o pecado original — diferentemente da Santa Igreja Católica, que é impecável, de natureza sobrenatural e Corpo Espiritual da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Nosso Senhor Jesus Cristo, refriso.
OBS.: uma simplória, mas pertinente analogia: a medicina é uma prática extremamente importante. Eis uma ciência que, por definição, tem por primeiro objetivo fornecer todo o possível para maximizar a qualidade da vida humana e minimizar os riscos que a ameaçam. Se, por exemplo, um médico é abortista, está indo de encontro a tal referido princípio basilar, o qual rege sua profissão. Ora! Se, ao invés de salvar vidas, ele as ceifa, isso não faz da medicina algo mau, só porque um de seus membros o é — ou vários; ou mesmo a maioria. Não tem qualquer relação com a razão de ser dessa importante Ciência. Há de se observar os princípios que alicerçam o objeto de reflexão e não as casuísticas inerentes a ele. Da mesma maneira, acontece com a Santa Igreja Católica, única e verdadeira religião de Deus: Sua santidade e indefectibilidade indiscutíveis e sobrenaturais devem ser separadas dos atos humanos e suscetíveis a erros, por parte de alguns de Seus membros. Julgar o todo a partir de uma de suas partes constituintes é grave equívoco. Assim como, por exemplo, se uma santa família de trabalhadores tem um de seus dose membros corrompido por pecados e envolvido com ilicitudes. Isso não faz dela um clã de criminosos. Generalizar o que é isolado e tornar regra o que é exceção é conduta miseravelmente errônea. Diz o sábio adágio: “o abuso não tolhe o uso.”
OBS.: detenho-me nessas considerações introdutórias por dois motivos: 1º) A fim de respaldar as exortações que no presente documento registro, na condição de simples fiel católico, pecador miserável e um dos últimos na hierarquia do Exército de Deus, mas ciente de meus direitos e deveres enquanto servo de Nosso Senhor, concernentes ao meu estado de vida — admoestações essas as quais são ação respaldada pela Santa Tradição Católica bi-milenar, nesse Vale de Lágrimas; 2º) Para que todo aquele que, ao acessar os conteúdos presentes neste comonitório e encontrar relatos de alguma defectibilidade por parte de qualquer membro da Santa Igreja Católica, não caia no absurdo erro de interligar tal negativa conjuntura mencionada às Santas Doutrina e Tradição Católicas e Suas respectivas diretrizes. Real espelho de proceder no catolicismo é, em suma, Nosso Senhor Jesus Cristo, a Santíssima Virgem Maria, Sua Mãe, e Seu Bem-Aventurado esposo, São José. Quem os imita tem a certeza de trilhar o caminho mais curto aos Céus, sem a mínima dúvida. Em oposto, o que age em dissonância com a Sagrada Família, incide em perigoso erro e, destarte, não reflete a Santa Igreja de Deus, Suas Leis e ensinamentos advindos da própria Santíssima Trindade.
OBS.: em citações, colchetes vermelhos são intervenções de minha autoria, as quais, a contragosto, tenho de fazer. Alguns textos são traduzidos mecanicamente e, por conseguinte, demandam algumas edições em seus conteúdos. Há, outrossim, conjunturas com erros de tradução, gramaticais, de ambiguidade, de desenvolvimento confuso, escassez de informação, etc. Para esses e outros peculiares casos, sinto-me na delicada, porém necessária obrigação de intervir, de modo que o escrito chegue ao leitor da forma mais inteligível e correta possível, com o mínimo de intervenção e o máximo de originalidade. E, a quem interessar, fica sempre exposta a origem do registro, com link e/ou bibliografia, a fim de que se saiba onde encontrar a fonte por meio da qual acessei a respectiva informação.
OBS.: dôo ao máximo todo o pouco que sei. E, quando não for o suficiente, que o misericordiosíssimo Deus Trino complemente. Amém!
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A devoção criada pela Irmã Faustina (Helena Kowalska) foi condenada por dois Papados.
Seus escritos, considerados perniciosos à Fé Católica, foram inseridos no “Index Librorum Prohibitorum” (“Índice de Livros Proibidos” pela Santa Igreja).
Abaixo, alguns fatos dessa história, os quais (sempre ou quase sempre) costumam ser omitidos ou sequer sabidos por seus adeptos, os quais são, em geral, constituídos de modernistas e endossadores do Concílio Vaticano II.
A seguir, dois elucidativos textos veiculados na internet, os quais ajudam a compreender mais profundamente o tema.
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TEXTO 01
Como alguns de vocês devem saber, nesse Primeiro Domingo depois da Páscoa, a Igreja Conciliar [modernistas, adeptos às mudanças perpetradas pelo Concílio Vaticano II] celebra a "Festa da Divina Misericórdia", desde que foi instituída no tempo de João Paulo II... (...) eclipsando completamente a celebração da Oitava de Páscoa, até então imóvel. Por esse motivo, nessa "Dominica in Albis" (nomeada assim após os neófitos batizados na Vigília da Páscoa terem acabado de deixar as suas vestes brancas), também chamado ‘Domingo de Quasimodo’ pelas primeiras palavras da Antífona do Introito, gostaria de dedicar algumas palavras para desmascarar a falsa devoção da Divina Misericórdia, agora levada aos altares — e lembrar a condenação da Igreja.
Como sabemos, essa devoção foi relançada pelo Papa Wojtyla [Papa João Paulo II]... (...) [definiu] um dia de festa em homenagem a essa devoção. Durante seu sermão, por ocasião da ‘canonização’ de Faustina, em 30 de abril de 2000 d.C., declarou que, a partir desse momento, o primeiro domingo após a Páscoa (o segundo domingo de Páscoa, de acordo com o calendário reformado do "Novus Ordo Missae") ["Missa Nova", feita no CVII] seria chamado "Domingo da Divina Misericórdia".
Consequentemente, todos os anos, no domingo seguinte à Páscoa, [diversos] católicos conciliares [adeptos ao CVII] do mundo inteiro, eufóricos, lançam-se, numa espécie de fanatismo sentimental coletivo, para celebrar o "Domingo da Divina Misericórdia". No entanto, nós, católicos, fiéis à Tradição da Igreja [bi-milenar], recusamo-nos a celebrar essa festa, [em respeito ao] calendário litúrgico de sempre. O porquê muitos perguntarão. Vejamos.
Lembremos, em primeiro lugar, que não é uma preferência ou opinião pessoal, mas que [até mesmo] o próprio João XXIII (o primeiro Papa da era pós-conciliar!) condenou definitivamente essa devoção, em 1959 d.C., depois de também ter sido condenada por Pio XII. Em março daquele ano, enquanto o Cardeal Alfredo Ottaviani ainda era o chefe da Congregação do Santo Ofício, a Santa Sé publicou uma nota que proibia expressamente e definitivamente "o culto e a difusão da Divina Misericórdia, nas formas fornecidas pela Irmã Faustina" (Acta Apostolicæ Sedis LI, 6 de Março de 1959 d.C., pág. 271) [LINK – Pág. 271]. Isso significava a proibição da publicação do diário da Irmã Faustina e a sua inscrição no índice de livros proibidos. Além disso, foi dada uma ordem expressa aos Bispos para retirarem as imagens dessa devoção do culto público.
Mesmo assim, e apesar da proibição, fiel ao espírito subversivo e de ruptura que caracteriza [o Concílio Vaticano II], [o Papa] Paulo VI ordenou o processo de beatificação de Faustina, [pelo Pe.] Antoni Mruk — jesuíta polonês, ex-prisioneiro de Auschwitz e Confessor de João Paulo II —, em 1965 d.C..
O processo de beatificação de Kowalska avançou mais 13 anos e a proibição de seu diário não foi retirada até 1978 d.C., quando Ottaviani já havia sido removido [da Congregação do Santo Ofício] e Franjo Seper havia sido imposto Presidente Fundador da Comissão Ecumênica Teológica Internacional — antecessor de Ratzinger. [Josef Ratzinger, futuro Papa Bento XVI]
Assim, a primeira edição dos escritos de Kowalska apareceu em 1981 d.C.. Foi acompanhada por um pequeno livro intitulado: ‘Minha preparação para a Santa Comunhão’. O livro foi traduzido para várias línguas e serviu de inspiração para João Paulo II, que escreveu a encíclica "Dives in Misericordia" ("Rich in Mercy"), em 1980 d.C..
De igual modo aconteceu com todos os ensinamentos do Concílio Vaticano II, abertamente em contradição com o ensinado pela Igreja [desde sua instituição, por Cristo]: o que anteriormente havia sido condenado pelo Santo Ofício era agora totalmente restaurado pela [modernista e liberal] hierarquia da Igreja Conciliar.
O plano revolucionário de subversão e autodemolição do edifício da Igreja estava em andamento. Os modernistas primeiro atacaram a Santa Missa, o próprio coração da Igreja, reformando-A para substituí-La por um novo rito, de inspiração protestante [O Concílio Vaticano II teve influência de ideias protestantes e maçônicas. Havia protestantes presentes nas solenidades de votação e o autor principal da Novus Ordo Missae era o Pe. Annibale Bunigni, maçom]; [depois, atacaram] o Santo Rosário (lembre-se das novidades introduzidas por João Paulo II) [ele publicou a ‘Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae’ — LINK — na qual sugere a inserção de mais um Mistério ao Santo Rosário —]; e agora era hora de adulterar as outras grandes devoções católicas: [inclusive a do] Sagrado Coração.
Já em 1917 d.C., como em muitas outras aparições, a Santíssima Virgem Maria foi repetidamente enfática em sua aparição, em Fátima-PT, sobre o Santo Rosário, como o último remédio para o fim dos tempos: "(...) a Santíssima Virgem disse-nos, tanto a meus primos como a mim, que dois eram os últimos remédios que Deus dava ao mundo: o Santo Rosário e o Imaculado Coração de Maria...", contou Irmã Lúcia ao Padre Fuentes, em 1957 d.C.. (...) Nunca se falou em promover outra devoção.
Aqui está a proibição, como aparece nos Atos da Sé Apostólica, em sua edição de 1959 d.C.. (...) O Prefeito [da Congregação do Santo Ofício] era o Cardeal Alfredo Ottaviani, da época do pontificado de Pio XII, pelo que a decisão já estava sendo estudada antes:
"A Sagrada e Suprema Congregação do Santo Ofício está autorizada a informar que, tendo examinado as supostas visões e revelações de Faustina Kowalska, do Instituto de Nossa Senhora da Misericórdia, que morreu em Cracóvia, em 1938 d.C., determinou o seguinte: a divulgação de imagens e escritos que apresentem a devoção da Divina Misericórdia na forma proposta pela própria Irmã Faustina deve ser proibida. Apelamos à prudência dos Bispos, no dever de remover as imagens acima mencionadas, caso elas sejam expostas ao culto. Dado no Palácio do Santo Ofício, em 6 de março de 1959 d.C.. Hugo O'Flaherty, notário do Santo Ofício." [LINK – Pág. 271].
Em primeiro lugar, a Congregação do Santo Ofício destaca o ponto "na forma proposta pela própria Irmã Faustina" já que, em primeira instância, o Sagrado Coração de Jesus é a verdadeira devoção ao amor de Deus Nosso Senhor. Agora, pretendem deformá-la e reinventá-la, de acordo com uma nova visão distorcida da misericórdia de Deus.
Outro ponto a destacar, [o qual] muitos desconhecem, é que as orações de Faustina são apenas uma imitação grosseira (para não dizer plágio) [daquelas divulgadas pela] Irmã Maria Marta Chambon VSM — orações que, na época [da Irmã Faustina], eram conhecidas na Polônia.
OBS.: segundo alguns sites, o Papa São Pio X, em 1912 d.C., e o Sumo Pontífice Pio XI, em 1924, concederam indulgências para as orações do “Rosário das Santas Chagas”, da Irmã Maria Marta Chambon. Nossa Senhora, em 1214 d.C., entregou o Santo Rosário a São Domingos de Gusmão. Ela Lho deu pronto, completo, com todos os Seus Mistérios a serem meditados. Antes disso, desde o primeiro século do catolicismo, o Pater-Noster e a Saudação Angélica sempre foram rezados pela cristandade. Por condução da Santíssima Trindade, o Saltério de Jesus e Maria foi sendo formado, pelo Magistério Ordinário e Extraordinário, na Santa Tradição. Até que, em 1214 d.C., a Santíssima Virgem aparece a São Domingos e lhe ensina a rezá-Lo da maneira mais satisfatória. A partir daí, configurou-se a maior das devoções da Santa Igreja, abaixo apenas da Santa Missa. Foi aprovado pelo Sacrossanto Concílio de Trento. Nas aparições que a Rainha do Céu fez a São Domingos, de depois Ao Beato Alano de La Roche, ela pede que seja rezado o Santo Rosário, com a meditação dos Seus Mistérios. O próprio Cristo aparece a esse último e o manda exercitar o Saltério Mariano. Nas aparições de Fátima-PT, a Puríssima Mãe pede veementemente que se exercite o Santo Rosário. Por quê, nessas aparições, não se fala em Terço das Santas Chagas, das mãos ensanguentadas, da Divina Misericórdia, de São Miguel, etc.? São dezenas (quiçá, centenas) de terços devocionais divulgados mundo afora. Senão todos, certamente grande parte (talvez, a maioria) dos católicos inclinados a tais práticas devocionais substituem por elas a reza do Santo Rosário. Não creio que Nosso Senhor e Nossa Senhora apareceram a tantos e instituíram diversos tipos de Rosário, pois Jesus é Deus, inerrante, perfeito, e Santa Maria é imaculada, ou seja, não seriam autores desse ato de contradição, já que, claramente, tal ação seria objeto de confusão para o fiel, que fica sem saber qual devoção exercitar diariamente, pois não há tempo hábil em seu dia para praticar todas, ainda que vivesse apenas em função disso.
OBS.: e, quanto à questão das revelações privadas, ensina a Sã Doutrina que não está obrigado nenhum católico a dar assentimento a qualquer que seja a revelação particular. Não se trata de pecado venial ou mortal; não é caso de heresia; pois a última revelação oficial da Santa Igreja encerrou-se com a morte do último Apóstolo, João, o qual escrevera o último livro da Bíblia, Apocalipse. A partir daí, o católico, para ser considerado como tal, deve dar sua adesão a toda a revelação apostólica, que está na Santa Tradição, da qual faz parte as Sagradas Escrituras, não sendo-lhe obrigatória a crença em nenhuma outra revelação, ficando a cargo dele acreditar ou não, independentemente da Santa Igreja aprovar ou não tal e tal revelações. E a própria Madre Igreja ensina isso. Portanto, se, por exemplo, um Papa dá seu assentimento a uma dada devoção — enquanto "doutor privado", "in pesona" ("em pessoa própria"), ou seja, de modo falível, e não enquanto "doutor comum de toda a Santa Igreja", "in persona Christi" ("na pessoa de Cristo"), ou seja, de modo infalível ("Ex Cathedra") —, não quer dizer que o católico tenha obrigação de dar seu assentimento e exercitar tal prática, sob pena de pecado venial ou mortal, absolutamente. Não se trata, de modo algum, de desobediência, repito. E é importante mencionar: não há nenhum documento infalível que obrigue o fiel a exercitar qualquer devoção, exceto o Santo Rosário, que tem sua prática endossada por inumeráveis Papas, Santos, Doutores da Igreja e teólogos, o que torna, nessas circunstâncias, infalível o Magistério Ordinário da Santa Igreja, pois há uma mesma sentença sendo endossada pela Hierarquia Católica repetidamente.
OBS.: e, ao se analisar a conjuntura das aparições marianas, em todas as que Santa Maria exorta os católicos a rezarem o Rosário, em nenhuma delas se menciona outro senão o original, entregue a São Domingos, no Século XIII d.C. “A Virgem revelou ao Beato Alano de La Roche que, depois do Santo Sacrifício da Missa, não há devoção mais excelente e mais meritória do que o Rosário, que é como que um segundo memorial e representação da vida e da Paixão de Jesus Cristo.” (São Luís Maria Grignion de Montfort, A eficácia maravilhosa do Santo Rosário, Artpress, São Paulo, 2000, Pág. 79.)
OBS.: como eu, católico, após tais densíssimas asseverações, advindas da Mãe de Deus, posso deixar de praticar o Santo Rosário, diariamente, para me dedicar a outro tipo de reza?! Na Santa Igreja há orações poderosíssimas e indulgenciadas, as quais podem ser rezadas antes e/ou depois do Saltério Angélico, com frutos. Inadmissível é formar, com algumas delas, um “terço” ou “rosário”, porquanto tal ato cria a possibilidade de concorrência com o Santo Rosário e o risco de que Ele seja, miseravelmente, substituído por esses.
Agora, a principal razão pela qual o Santo Ofício condenou e proibiu a divulgação dessa devoção é que muitas das ‘mensagens’ supostamente dadas pelo Céu à Faustina são, na melhor das hipóteses, acessos de fanatismo religioso e, na pior das hipóteses, blasfêmias horríveis.
Em primeiro lugar, pretende substituir o Santo Rosário, tanto como uma oração em si (já que o terço da Divina Misericórdia é rezado usando um Rosário), [como na forma, já que esta] nova devoção viria a contradizer o que Nossa Senhora disse aos três pastorinhos, [em] Fátima-PT, isto é, que o Rosário foi o último remédio que Deus ofereceu ao mundo inteiro para sua salvação, e que, depois Dele, não haverá outro.
Vejamos agora alguns dos fragmentos mais controversos do diário, onde a própria Faustina recolhe as revelações feitas, segundo ela, por Nosso Senhor Jesus Cristo. Como podemos ver, está imbuído de blasfêmias:
“Essa oração [a devoção da Divina Misericórdia] deve apaziguar a Minha ira. Rezarás durante nove dias, com um Rosário comum, como segue: primeiro rezarás uma vez o Pai-Nosso e a Ave-Maria e o Credo; depois, nas contas correspondentes ao Pai Nosso, dirás as seguintes palavras: ‘Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso Diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro’; e, nas contas da Ave-Maria, dirás as seguintes palavras: ‘pela Vossa dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro’. Para terminar, dirás essas palavras três vezes: ‘Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro!’” (Sábado, 14 de setembro de 1935 d.C.). “Estou lhes dando a última tabua de salvação, isto é, a Festa da Minha Misericórdia.” (17 de fevereiro de 1937 d.C.).
Da mesma forma, nas aparições, o suposto “Nosso Senhor” parece lisonjear Faustina, dizendo:
“É por isso que Me vinculo a ti tão intimamente, como a nenhuma outra criatura.” (28 de janeiro de 1938 d.C.). “Por ti paro a mão que castiga. Por ti abençoo a Terra.” (maio de 1935 d.C.). “Vejo o teu amor tão puro, mais do que o dos anjos; mais, porque lutas. Por ti eu abençoo o mundo.” (Sexta-feira, 26 de março de 1937 d.C.).
Jamais, [em mais de] 2000 anos de [catolicismo], Jesus foi visto dirigindo-Se a uma alma de forma tão grandiosa. Além disso, essas declarações contradizem a sólida teologia, que ensina que nenhuma criatura, exceto a Virgem, tem uma união perfeita com Deus — e isso em virtude de Sua [predestinação, pureza, ausência de pecado — inclusive o original,] Imaculada Conceição e Encarnação da Palavra [em seu âmago].
Como resultado dessas lisonjas tão inéditas quanto desonrosas contra Maria Santíssima, a “aparição” oferece à Faustina uma falsa garantia de sua salvação e um modo expresso de santidade pretensiosa, à imagem do que foi proclamado no [Concílio Vaticano II]:
“No momento em que me ajoelhei para cruzar [riscar] minha própria vontade, como o Senhor me havia ordenado, ouvi esta voz em minha alma: a partir de hoje, não tenhas medo dos juízos de Deus, porque tu não serás julgada.” (4 de fevereiro de 1935 d.C.). “No cacho escolhido de uvas, és uma uva doce; desejo que o suco que circula em ti comunique-se às outras almas.” (Durante os exercícios espirituais de 4 a 12 de fevereiro de 1935 d.C.). “Diz à Superiora Geral (Micaela Moraczewska) que conte contigo como a filha mais fiel da Ordem.” (Domingo 23 de maio de 1937 d.C.).
Depois de receber a comunhão, Faustina diz: “’Jesus, transforma-me em uma segunda Hóstia. Tu és o grande Senhor, Todo-Poderoso. Tu podes fazer essa graça.’ E o Senhor me respondeu: ‘tu és uma hóstia viva...’” (diário 1826).
Presunção, presunção e mais presunção!
OBS.: creio que o apse da histeria seja o pedido para que Deus a transforme em uma Hóstia. Ora! A Santíssima Eucaristia é um dos sete Sacramentos, instituídos pelo próprio Jesus, e se trata Dele mesmo, em corpo, sangue, alma e divindade, vivo, realmente presente no pão e no vinho transubstanciados. O Cristo Sacramentado é, portanto, o próprio Deus transubstancializado. Como um ser humano, independentemente de seu estado social (clérigo ou leigo) e grau hierárquico que ocupa no mundo, pode ousar pedir a Deus que o transforme em Hóstia? Seria como pedir-Lhe para ser como Ele. Foi por essa soberba que Adão e Eva caíram, ao almejarem ter a mesma condição do Altíssimo. Entre o diário da Irmã Faustina e as Sagradas Escrituras, fico com Essa, na qual se lê “Grande é o Senhor, muito digno de louvor, e a Sua grandeza é insondável." (Sl 144,3); “Por isso, ó, Senhor Deus, mostraste a Tua grandeza! Ninguém há semelhante a Ti, nem há Deus fora de Ti, segundo tudo o que temos ouvido com os nossos ouvidos.” (2Sm 7,22); “Ninguém há semelhante a Ti, Senhor! És grande, e é grande o Teu nome em fortaleza!” (Jr 10,6).
Da mesma forma, ela prega uma falsa predestinação e promessas mundanas: “faz saber também, Minha filha, que todas as criaturas, saibam ou não saibam, queiram ou não, sempre cumprem a Minha vontade... Minha Filha, se quiseres, neste momento, Eu crio um novo mundo mais bonito que este e passarás o resto de teus dias nele.” (diário 587)
OBS.: “Respondeu Jesus: ‘o Meu Reino não é deste mundo. Se o Meu Reino fosse deste mundo, os Meus súditos certamente teriam pelejado para que Eu não fosse entregue aos judeus. Mas o Meu Reino não é deste mundo.” (Jo 18,36); “Agora é o juízo deste mundo; agora será lançado fora o príncipe deste mundo [satanás].” (Jo 12,31); Esse mundo é um Vale de Lágrimas. Foi ele quem condenou, torturou e assassinou Nosso Senhor Jesus Cristo, porque o príncipe dele é o demônio, que o reina, por meio do pecado. O Reino de Deus é de outro mundo, o celestial. Por isso Nossa Senhora, em Lourdes-FR, à vidente Santa Bernadete, assevera-lhe: “Não te prometo a felicidade neste mundo, mas no outro.”; porquanto, aqui, neste mundo, é guerra constante. Plena paz e felicidade só no outro mundo, o do Paraíso, da Jerusalém Celeste. Portanto, imputar à Cristo Jesus uma frase de cunho materialista (“Minha Filha, se quiseres, neste momento, Eu crio um novo mundo mais bonito que este e passarás o resto de teus dias nele.”), é, no mínimo, um sacrilégio, uma blasfêmia, pois trata-se de direta ofensa a Deus e profanação da Sua Doutrina, que ensina exatamente o oposto: “quem não toma a sua cruz e não Me segue não é digno de Mim.” (Mt 10, 38); “em seguida, Jesus disse a Seus discípulos: ‘se alguém quiser vir Comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-Me.” (Mt 16, 24); “e quem não carrega a sua cruz e Me segue não pode ser Meu discípulo.” (Lc 14, 27). O catolicismo é a única e verdadeira Religião, e é a da Cruz. O esplendor de nossa alegria não está nesse ou em um novo mundo, mas no mundo do Reino de Deus.
Por alguma estranha razão, esse tom “doce” e “amigável” se torna imperativo, exigindo obediência à Sua locução e ameaçando os que não se submetem: “Ó, infelizes que não desfrutam deste milagre da Divina Misericórdia! Pedirão em vão quando for tarde demais.” (25 de dezembro de 1937 d.C.). “Se não adoram a Minha misericórdia, morrerão para sempre.” (17 de fevereiro de 1937 d.C.). “Desejo que a Minha misericórdia seja venerada.” (28 de fevereiro de 1937 d.C.).
O pedido “quero que o primeiro domingo depois da Páscoa seja a Festa da Misericórdia” (Janeiro de 1934 d.C.) é especialmente perverso, pois usurpa a celebração da Oitava de Páscoa, a “Dominica in Albis”, cuja solenidade é tão grande na Igreja que... (...) não [se trata apenas de] um Rito Duplo de 1ª classe, mas que nunca cede seu lugar a qualquer partido de alto grau.
Então, quando o diário de Faustina foi analisado por Pio XII, ele não se preocupou com as orações da devoção, mas sim com as circunstâncias das aparições à Faustina e seu conteúdo. Ou seja, ele estava preocupado com o que Nosso Senhor supostamente disse à Faustina e quanto disso foi tornado público.
Por esse motivo, e para o bem das almas, Pio XII colocou essa devoção, incluindo as aparições e escritos de Faustina, no “Index Librorum Prohibitorum” [Índice de Livros Proibidos pela Santa Igreja].
O Índice de Livros Proibidos era um catálogo que indicava qual literatura (secular ou religiosa) era contrária à Fé Católica.
Os católicos deveriam abster-se de ler tudo o que nela estava contido, sob pena de pecado mortal.
O índice foi oficialmente abolido [pelo Sumo Pontífice] Paulo VI, em 14 de junho de 1966 d.C. (mais um passo no roteiro da revolução conciliar!) [No Concílio Vaticano II foi ele o Papa que encomendou, junto ao Padre maçom Annibale Bugnini, a “Nova Missa” e, posteriormente, asseverara: “(...) diríamos que, por alguma fresta misteriosa — não, não é misteriosa; por alguma fresta, a fumaça de Satanás entrou no Templo de Deus...”].
Por um lado, é lamentável que não exista, mas por outro lado, se essa lista existisse, hoje, seria tão extensa que ocuparia salas e salas, pois praticamente tudo o que está escrito, hoje, contém algo contrário à Fé Católica. [Seria mais conveniente fazer uma lista do que pode ser lido pelos católicos, dado o caos espiritual em que se encontra atualmente o mundo.]
O fato de Pio XII colocar os escritos de Faustina no Índice de Livros Proibidos significa que ele considerava que o conteúdo deles poderia levar os católicos [à] direção errada.
Depois, vieram outras proibições, feitas [inclusive pelo Sumo Pontífice que arquitetou o Concílio Vaticano II], João XXIII.
Por duas vezes, em seu pontificado, o Santo Ofício da Inquisição — o órgão eclesial encarregado de supervisionar a divulgação de documentos na Igreja, a fim de preservar a pureza da Doutrina e a transmissão do Dogma da Fé (hoje [com o nome de] “Congregação para a Doutrina da Fé”) —, em ambas as ocasiões condenou [o diário da Irmã Faustina].
O Santo Ofício estava sob o controle direto do Pontífice Romano; portanto, quando o Papa queria corrigir os fiéis em um ponto específico, ele geralmente o fazia através desse [departamento]. Deste modo, as proclamações, declarações e documentos provenientes do Santo Ofício poderiam ser vistos como provenientes do próprio Papa. E não foi uma, mas duas vezes, durante o pontificado de João XXIII, que essa devoção foi condenada pelo Santo Ofício.
A primeira condenação ocorreu em uma assembleia geral, realizada em 19 de novembro de 1958 d.C.. A declaração do Santo Ofício apresentou três conclusões sobre essa devoção:
1) “Não há evidências da origem sobrenatural dessas revelações.”
Isso significa que os membros do Santo Ofício analisaram o conteúdo e decidiram que não havia nada para indicar que essas aparições eram de origem sobrenatural (ou seja, do Céu). Numa aparição autêntica (por exemplo, as de Nossa Senhora, em Lourdes-FR e em Fátima-PT), pode-se olhar para o conteúdo e alegar que há evidências suficientes para dizer [que é de origem sobrenatural]. Ao contrário, nas aparições da Divina Misericórdia, eles disseram que, definitivamente, não há evidências conclusivas de que sejam sobrenaturais. Em resumo: “não pensamos que essas aparições venham de Deus.”
2) “A festa da Divina Misericórdia não deve ser instituída.”
Porque, se é baseado em aparições que não vêm de Deus, então, pode ser precipitado instituir na Igreja [uma solenidade] baseada em uma aparição falsa, com tudo o que isso implica.
3) “É proibido divulgar imagens e escritos dedicados a divulgar essa devoção, da maneira descrita pela Irmã Faustina.”
Ainda hoje é proibido apresentar publicamente a imagem de Nosso Senhor com a invocação da Divina Misericórdia.
Talvez todos tenham visto a imagem original, pintada por Eugeniusz Kazimirowski, mesmo que apenas de passagem, e talvez a conheça e a diferenciem. [A imagem encontra-se ao final deste texto.]
Mostra uma imagem estranha de Jesus, que, certamente, me deixa desconfortável. Eu realmente não sei dizer o porquê. Só tem algo que eu não gosto. Eu não gosto do rosto, dos gestos, nem da postura. A imagem tem raios multicoloridos, vermelhos, brancos e [amarelos], que vêm da região do peito — não do coração. [E o mais problemático: representa um Cristo sem chagas. Ora! O Deus ressuscitado foi crucificado e tem as marcas de Sua Paixão, sofrida em favor dos Homens, como o pudera comprovar com as próprias mãos o incrédulo São Tomé, que depois acreditou. Imagino a Santíssima Mãe com Seu Filho totalmente dilacerado, sobre o colo, beijando Suas chagas e lavando-as com Suas lágrimas. Uma pintura que descarta as Sacratíssimas Chagas de Nosso Senhor desrespeita e desonra seu martírio sacrífico.]
Nessa imagem, Faustina disse que via Jesus como “a Divina Misericórdia” (embora, o que realmente inspira é o medo).
Bem... Essa imagem foi censurada pelo Santo Ofício em 1958 d.C. e 1959 d.C. (como foi a revisão de Adolf Hyła e outras versões posteriores).
Em 6 de Março de 1959 d.C., o Santo Ofício apresentou um segundo decreto, por ordem [do Papa] João XXIII. Mais uma vez, proibiu a divulgação das imagens da Divina Misericórdia e dos escritos de Faustina, que difundiram essa devoção.
Também ordenou aos Bispos que tomassem as medidas necessárias para remover as imagens que já haviam sido preparadas para a veneração pública.
Não é necessário aprofundar muito nessas declarações. Dois Papas alertaram fortemente os fiéis para o perigo de tal devoção. Pio XII colocou no Índice [de Livros Proibidos]; João XXIII emitiu duas convicções através do Santo Ofício, sobre o perigo espiritual que essa devoção traz aos fiéis. Sobre isso, o que já foi dito é suficiente. [Qual não fora] a surpresa dos católicos quando [em 1965 d.C., o Papa Paulo VI dá início à beatificação da Irmã Faustina e], em 1978 d.C., no primeiro ano de seu pontificado, João Paulo II começa a promover a canonização de Faustina e da instituição da festa da Divina Misericórdia, no Domingo [Oitava de Páscoa / Dominica in Albis], ambos projetos rejeitados e oficialmente condenados pela Igreja?!
Agora, não fiquemos na superfície da condenação. Vamos começar a analisar o porquê disso. Vamos ver o perigo dessa devoção.
1) Sem dúvida, o principal erro e perigo para as almas é a apresentação de misericórdia incondicional. Deixem-me fazer a seguinte comparação: vamos considerar a verdadeira imagem de Cristo, Nosso Salvador, provavelmente a representação mais segura Dele e a mais rica simbolicamente, depois do Crucificado, é a imagem do Sagrado Coração, porque representa toda a Teologia que contém o Mistério da Redenção. Além disso, a Aureola distingue Sua divindade, e o Coração (e a mão direita — claramente ferida, tal qual a esquerda — dando uma bênção).
Perfuraram Suas Mãos, Seus Pés e Seu Sagrado Coração; a Coroa de Espinhos envolve o Seu Coração, que arde de amor pelos Homens. Esse [foi] o preço que Ele pagou; o Sacrifício que Ele fez pela nossa Redenção. Ele se ofereceu pelo amor ardente por nós, apesar de sermos criaturas ingratas e rebeldes, em relação ao Nosso Criador.
Vamos pensar sobre isso. Ele nos criou e nós O pregamos na Cruz, [mesmo sendo] Deus e sem culpa. O Sagrado Coração representa tudo isso. Nas imagens do Sagrado Coração, Ele aponta para essa fonte simbólica de Seu amor e misericórdia por nós [Seu Sagrado Coração].
As devoções ao Sagrado Coração sempre envolvem reparação por nossos pecados. Somos pecadores, devemos reparar. Devemos sempre fazer penitência por nossos pecados e fazer várias resoluções para reparação.
Agora, considere a imagem de Nosso Senhor representando a Divina Misericórdia [segundo a Irmã Faustina]. Esta é, sem dúvida, a imitação, ou melhor, a distorção conciliar [do CVII] do Sagrado Coração (mas sem o Coração).
Na imagem não há coração, [mas] apenas alguns raios simples [vermelhos, brancos e amarelos], que saem de algum lugar do peito. — Nem são as feridas da Paixão, com que Cristo nos redimiu, derramando Seu próprio sangue, em pagamento pelos nossos pecados. Isso simboliza o erro da devoção da Divina Misericórdia. Prega que podemos esperar misericórdia incondicional, sem nenhuma consideração, sem qualquer preço, sem obrigação. E essa não é a mensagem de Cristo.
Cristo é, sem dúvida, misericordioso. Vez após vez, Sua misericórdia perdoa nossos pecados repetidos, no Sacramento da Confissão. Ele sempre [renova nosso] estado de graça, independentemente da gravidade dos nossos pecados. E o que acontece no Sacramento da Confissão? O próprio nome do sacramento nos apresenta o que acontece: a penitência é necessária para a eficácia do Sacramento.
No Sacramento, o pecador não apenas reconhece sua total submissão à Igreja e sua dependência dos Sacramentos, para obter perdão, mas deve sair do confessionário com uma penitência imposta.
Assim, a Confissão carrega em si a penitência (ou satisfação do trabalho), como elemento necessário para Sua eficácia. E não apenas o pecador deve cumprir plenamente essa penitência (a imposta pelo confessor), mas deve continuamente fazer penitência, sua própria penitência, e viver com esse espírito de mortificação e reparação.
[Um dos] erros centrais da [devoção criada por Faustina] é que ela promete muitas recompensas espirituais sem exigir penitência de qualquer classe; sem a necessidade de reparação ou qualquer outra condição.
Uma [de suas] promessas diz: “através dessa imagem preencherei as almas com muitas graças. Por isso que toda alma deve ter acesso a ela.” Mas como podemos merecer sem conversão?
Infelizmente, isso corresponde muito ao que [afirma] João Paulo II em sua encíclica “Dives in misericordia”. Eu não recomendaria ler, exceto para aqueles que estão mais preparados, porque há coisas muito desorientadoras nela. Ressoa essa misericórdia...; presentes do Céu sem exigências; a misericórdia de Deus sem mencionar qualquer tipo de penitência ou reparação pelos pecados.
OBS.: a “Carta Encíclica Dives in Misericordia” fala do Sacramento da Reconciliação. Essa palavra aparece 3 vezes; penitência, 4; conversão, 10; agora, misericórdia, se conta 220. Por isso lê-se: “deste modo, a misericórdia é contraposta, em certo sentido, à justiça divina; e revela-se, em muitos casos, não só mais poderosa, mas também mais profunda que ela. Já no Antigo Testamento se ensina que, embora a justiça no Homem seja autêntica virtude e em Deus signifique perfeição transcendente, contudo, o amor é ‘maior’ do que a justiça. E é maior no sentido de que, relativamente a ela, é primário e fundamental. O amor condiciona, por assim dizer, a justiça; e, em última análise, a justiça serve à caridade. O primado e a superioridade do amor em relação à justiça — ponto característico de toda a Revelação — manifestam-se precisamente através da misericórdia. Isto pareceu tão claro aos Salmistas e aos Profetas que o próprio termo justiça acabou por significar a salvação realizada pelo Senhor, por meio da Sua misericórdia. A misericórdia difere da justiça, mas não se lhe opõe, se admitirmos na história do Homem — como faz o Antigo Testamento, precisamente — a presença de Deus, o qual já como Criador se ligou com particular amor às suas criaturas.”
OBS.: o amor leva à caridade, que leva à misericórdia e à justiça. Por isso se diz que Deus é amor, pois o amor é essência no Altíssimo, de modo absoluto, como Ele o é. E nele é essência absoluta todas as mais elevadas virtudes. E uma delas é a justiça. Como, então, determinar qual a proporção? Impossível ao Homem! É Mistério Divino. O diluvio pôs a Terra debaixo de um sem número de águas. Noé e os seus sobreviveram, bem como um par de todos os animais terrestres de então. Houve mais amor, justiça ou perfeito equilíbrio? Cristo, o Filho do Pai Celeste, Deus com Ele e com o Espírito Santo, foi entregue à tortura e morte de cruz, para a Redenção do Homem. Qual a parcela de amor e de justiça da Santíssima Trindade nesse ato — ou eis aí a perfeita igualdade de proporção? Qual ser humano consegue perscrutar o íntimo do Deus Trino e saber tais respostas? Nenhum! Portanto, não é prudente dizer que Deus é mais justo que misericordioso ou mais misericordioso que justo. E, até onde me consta, jamais a Santa Igreja tomou partido nessa conjuntura — exceto após a infiltração do modernismo, do humanismo, do liberalismo, do materialismo, do racionalismo, culminando no Concílio Vaticano II.
OBS.: é muito perigosa a ideia de um Deus permissivo, bem como de um Criador cruel. Ambas estão equivocadas. Basta saber que a Santíssima Trindade é absoluta e perfeita em todas as proporções, em toda Sua essência, em toda Sua criação, em toda Sua misericórdia e em toda Sua justiça. Cabe ao Homem não abusar nem de uma nem de outra.
OBS.: ainda acerca da “Dives in Misericordia”, nela se encontra tal lamentável declaração: “o Concílio do Vaticano II confirmou esta verdade, adaptando-a às condições dos nossos tempos. Quanto mais a missão realizada pela Igreja se centrar no Homem — quanto mais for, por assim dizer, antropocêntrica — tanto mais se deve confirmar e realizar, de modo teocêntrico, isto é, orientar-se em Jesus Cristo, em direção do Pai.” Eis uma total oposição ao que ensina a Sã Doutrina de mais de dois mil anos.
OBS.: a Santa Igreja é teocêntrica (tem Deus como o centro de tudo) e jamais antropocêntrica, pois não é o antropocentrismo — como afirma o trecho supracitado — que leva à Deus, mas o teocentrismo, uma vez que o Criador de todas as coisas não é o ser humano, mas o Deus Trino, que, inclusive, fez o Homem. Quem tem a criatura e não o Criador no centro de tudo está em gravíssimo pecado, pois não põe a criação em seu devido lugar e ainda desrespeita Aquele que a constituiu, na medida em que não Lhe honra com o Seu devido lugar de destaque.
OBS.: Deus é o Criador, a perfeição, do qual toda virtude emana, toda existência e a salvação. Do Homem emana o pecado, a miséria, a má inclinação. E depende ele totalmente do Deus Trino, de Seu sopro de vida para existir e de Sua graça santificante para tornar-se menos indigno de lucrar a Eleição no Juízo Final.
OBS.: o ser humano é matéria, paixões, limitação, finitude, más inclinações, por ter alterado sua natureza imaculada com o pecado original, que repassa a todos os seus. Deus, ao contrário, é eterno, perfeito, absoluto. Assim, o Homem é breu em busca da única luz existente. A Santíssima Trindade é a única fonte luminosa. Como pode se afirmar a procura da genuína e perene claridade a partir do Homem e não de Deus, portanto?
OBS.: por fim, diz também a “Dives in Misericordia”: “Deus, que ‘é amor’, não se pode revelar de outro modo a não ser como misericórdia, a qual corresponde não somente à verdade mais profunda daquele amor que Deus é, mas, ainda, a toda a verdade interior do Homem e do mundo, sua pátria temporária.” Primeiro: Deus não pode ser concebido com limitações, de modo a se asseverar que Ele “não se pode revelar de outro modo a não ser como misericórdia.” Então não pode Ele ser justo, mas apenas misericordioso? Omitir a essência de justiça no Altíssimo e apenas ressaltar Sua piedade pode arraigar na mentalidade de quem recebe tal errônea informação que o Criador não pune, tudo perdoa, salva a todos... e que o inferno é um local quase vazio, como muitos Padres adeptos do CVII afirmam, lamentavelmente. — "O inferno existe, mas talvez esteja vazio", afirmara o Pe. Hans Urs von Balthasar, o qual seria nomeado Cardeal, por João Paulo II, em 1988 d.C., mas morrera antes disso.
OBS.: segundo: não existe uma verdade na Santíssima Trindade, outra no Homem e outra no mundo. A verdade é uma só: Deus e Sua Santa Igreja, que é o corpo místico de Cristo — o qual é Deus com o Pai e o Espírito Santo —, sendo Ele a cabeça e os fiéis os membros. Mater Ecclesia: que, quando em alocução infalível, fala em nome do Deus Trino a todos os Seus filhos. E, ainda: o mundo jamais esteve, está e estará coadunado à verdade divina, pois “jaz sob o maligno” (Jo 5,19), por ter como seu príncipe a satanás, o pai da mentira. Destarte, a verdade não está no mundo, pois ele não a aceita. Assim: não há uma verdade no Homem e outra no Criador, mas uma só, a divina, e quem a tem em si, com ela está; quem não a porta, não tem outra no lugar, pois é única. Eis tudo.
Veja, agora, o que Santa Hidelgarda dizia sobre a doutrina que o Anticristo traria, no fim dos tempos: “(...) o Anticristo conquista muitas pessoas para si mesmo, dizendo-lhes que realizem livremente seus desejos, para não se mortificarem demais com vigílias ou jejum, propondo que elas amem apenas seu deus — que ele finge ser — até que, assim, libertos do inferno, eles voltem à vida. Portanto, enganados dessa maneira, eles dizem: ‘ó, desgraçados daqueles que viveram antes desses tempos, porque afligiram suas vidas com duros tormentos, ignorando a compaixão de nosso deus!’”
2) Outro aspecto a destacar é a presunção perigosa (recordemos que a presunção é um pecado grave contra o Primeiro Mandamento da Lei de Deus [amar a Deus sobre todas as coisas]). [A presunção] domina os escritos de Faustina.
Os escritos da freira polonesa sobre si mesma, publicados em inglês, em 2007, apresentam uma atitude que dá motivo de preocupação.
Esse tratado, de 640 páginas, de diretrizes que supostamente vêm de Nosso Senhor para Faustina, tem algumas coisas que, para um correto pensamento católico, são difíceis de aceitar, para dizer o mínimo. Vamos exemplificar com algumas citações de seus escritos, algumas das quais já vimos:
Em 2 de outubro de 1936 d.C., ela declara que o “Senhor Jesus” apareceu e disse-lhe: “agora Eu sei que tu não me amas pelas graças ou pelos presentes, mas porque Minha vontade é mais querida para ti do que a vida. Então, Eu Me uno a ti tão intimamente como [com] nenhuma outra criatura.” (“A Divina Misericórdia em Minha Alma”, diário da Irmã Faustina, Stockbridge, Massachusets: Mariana Press, 1987 d.C.).
Meu Deus! Quando se viu tanto orgulho? Como podemos acreditar que Nosso Senhor está mais intimamente unido à Faustina do que à Bem-Aventurada Virgem Maria? Nossa Senhora, Imaculada desde a Sua Concepção, mas também uma criatura de Deus, foi criada por Ele como todos nós, exceto que lhe foi confiada uma posição muito elevada, por ter sido preservada do pecado original desde o primeiro momento. Por essa razão, a teologia católica nos ensina que a criatura em [mais elevada] comunhão com Jesus é Maria Santíssima. As outras criaturas recebem Jesus através de Maria. [Mas] esperam que acreditemos, agora, que Nosso Senhor disse à [Irmã] Faustina que Ele está unido a ela muito mais do que [com] ninguém, mais ainda que [com] a Bem-Aventurada Virgem Maria, e certamente mais do que [com] todos os Santos? Essa afirmação é soberba em si mesma.
Esse tipo de presunção aparece em muitos outros lugares, em seu trabalho. Vamos ver:
Supostamente, “Nosso Senhor” se dirigiu a ela em 23 de maio de 1937 d.C., com as seguintes palavras: “amada pérola do Meu coração”. Parece-me que isso é pura bajulação. Comparem como Nossa Senhora havia falado com a Irmã Lucia ou à Santa Bernardette Soubirous. É impossível imaginar Nosso Senhor em uma linguagem tão [inapropriada]!
Nosso Senhor é Cristo Rei, Deus dos Exércitos, Criador do Universo e Dominador de tudo o que nele contém. Ele não [se dirige] a ninguém [dizendo] “pérola amada do Meu coração”. Nem a Virgem Maria chamou assim a nenhuma vidente, mas sim “Meu filho” ou “Minha serva”.
Vamos continuar lendo. Então diz: “vejo que teu amor é tão puro... Mais puro que o dos Anjos; e ainda mais porque perseveras na luta. Por tua causa Eu abençoo o mundo.” (Ibidem, pág. 400).
Antes de tudo, exceto a Bem-Aventurada Virgem Maria, não somos preservados do pecado original; portanto, não somos capazes de um amor mais puro do que o dos Anjos.
Além disso, essa “revelação” foi feita em 1937 d.C., [estando] o mundo [às portas da] Segunda Guerra Mundial, sobre a qual a Irmã Lúcia havia sido avisada por Nossa Senhora, em Fátima-PT: se a Rússia não fosse consagrada ao Seu Imaculado Coração e o Homem não fosse convertido, um grande desastre aconteceria à humanidade, por seus erros e pecados. No entanto, Faustina anunciou uma era de paz e bênção.
A Segunda Guerra Mundial foi uma bênção para o mundo? Não! O que aconteceu foi uma grande guerra; talvez a mais mortal da história. De fato, a Polônia [país da Irmã Faustina] foi o primeiro país a sucumbir às armas nazistas, em 17 de setembro de 1939 d.C..
Outro exemplo: Faustina afirma que “Nosso Senhor” disse-lhe que estaria isenta do julgamento, de todo julgamento — o julgamento particular e o julgamento universal. Em 4 de fevereiro de 1935 d.C., ela disse ter ouvido essa voz em sua alma: “a partir de hoje, não tenha medo do Julgamento de Deus, pois você não será julgada.” (Ibidem, pág. 168). Agora, sejamos claros: a teologia católica ensina que ninguém, exceto a Virgem Maria, está livre do Julgamento particular e do universal, porque está assim escrito: “foi estabelecido aos Homens que eles morrem apenas uma vez, e então vem o julgamento.” (Hb 9, 27).
Adicione-se a esses exemplos a alegação presunçosa de que a Hóstia saltou do Tabernáculo três vezes e pousou em suas mãos, depois que ela tentou devolvê-La, abrindo a porta do Tabernáculo:
“E a Hóstia saiu do Tabernáculo e veio descansar em minhas mãos, e eu alegremente a coloquei de volta no Tabernáculo. Aconteceu uma segunda vez e eu fiz exatamente a mesma coisa. Apesar disso, aconteceu uma terceira vez. (…) Quando o Sacerdote se aproximou novamente, dei-lhe a Hóstia para colocar no cálice, porque, no primeiro momento, tendo recebido Jesus, não podia dizer que a outra [Hóstia] havia caído [pois estava comungando]; somente depois de passar por ele. Quando eu tinha a Hóstia em minhas mãos, senti tanto amor que durante o dia inteiro não pude comer nada, nem recuperei a consciência. Da Hóstia ouvi essas palavras: queria descansar em tuas mãos, não apenas em teu coração.” (Ibidem, pág. 23)
Quantas vezes a Igreja declarou que apenas as mãos de um Sacerdote são consagradas para [tocar] as espécies Sagradas? E que tipo de lição [Faustina] estaria a dar ao mundo com esse exemplo da Hóstia caindo em suas mãos para que ela própria A devolvesse ao Tabernáculo? Será que Faustina queria, além de instituir a festa da Divina Misericórdia, promover o sacrilégio da comunhão na mão?
Nosso Senhor [jamais iria] contradizer a Si mesmo ou a Sua Igreja, nem com palavras nem com obras. E é exatamente isso que acontece [no relato da Irmã Faustina].
Conforme ela relata, esse gesto poderia muito bem significar que “Nosso Senhor” contradiz, com esse evento, o Dogma de Sua Presença Real no Santíssimo Sacramento, com tudo o que isso implica, como o de que somente os Sacerdotes podem tocar com as mãos a Forma Sagrada.
Em suma, toda a devoção da Divina Misericórdia [de Faustina] não representa o espírito católico, que não é outro senão reparar [a Deus] constantemente, em penitência, por nossos pecados, e pedir-Lhe por Seus dons e graças para obter Sua Misericórdia nessa vida.
Portanto, o pano de fundo dessa devoção [da Irmã Faustina] é mais do que questionável. E, precisamente, por esse motivo, é imprudente instituir uma devoção condenada [pela Santa Igreja].
Sei que existem pessoas, possivelmente até alguns de vós, que estão lendo essas linhas, que receberam grandes favores por fazer a devoção [da Irmã Faustina]. Mas isso não significa necessariamente que essa devoção vem do Céu. Precisa saber discernir corretamente. Deus sempre ouve nossas orações. A oração nunca cai em ouvidos surdos. Quem ora com fé e se esforça para agradar a Deus recebe as graças que a Divina Majestade considera apropriadas para sua santificação.
OBS.: aquele que desconhece as perniciosidades de tal devoção e a pratica, se é agraciado, o é apesar dela e não por conta dela. Eu mesmo sou exemplo disso, pois, antes de conhecer a Santa Tradição, era um típico modernista, liberal, pretenso católico, e exercitava o tal “Terço da Divina Misericórdia” praticamente todos os dias, às 15h. E, não por meio dele, mas da infinita misericórdia de Deus, obtive muitas graças, inclusive uma para minha amadíssima mãe, apesar de meus meios errôneos para suplicar a misericórdia divina, por ausência de conhecimento, erros pelos quais imploro, fervorosamente, perdão à Santíssima Trindade.
Considera o exemplo daquele peregrino que realiza uma peregrinação para orar diante do túmulo de algum Santo. Ele faz com devoção a peregrinação e, ao chegar, pensa que se ajoelhará diante do túmulo de um Santo. No entanto, vamos imaginar que [o Bem-Aventurado para quem ele reza] não [tenha sido] enterrado naquele cemitério onde está o o peregrino, mas em uma igreja próxima. Apesar disso, sem dúvida, Deus concederá graças e favores pelo esforço e desejo de honrá-Lo e reparar os seus pecados. Deus olha o coração e a fé daqueles que O imploram. Basta orar com fé para ser ouvido. Deus sempre responderá às nossas orações. Portanto, por mais que escutemos certas pessoas afirmando terem recebido favores por meio dessa ou daquela devoção, lembremos que isso não significa que elas devam provir do Céu. Certamente, todas as misericórdias vêm do Céu. Mas [nem toda] devoção [vem do Céu].
Ignácio Vaz Romero Trueba
(Adaptado)
ADENDOS AO TEXTO 01
† † †
Em 1931 d.C., a Irmã Faustina afirma ter tido a primeira suposta aparição de Jesus, a qual ela relata, em 1934 d.C., ao pintor Eugeniusz Kazimirowski, que se comprometeu a retratá-la em tela. — A intermediação entre ambos se deu por meio do confessor da Freira, o Sacerdote Miguel Sopocko.
Importante mencionar que Eugeniusz era maçom. E no próprio site oficial da devoção da Irmã Faustina pode-se atestar esse fato, já que nele se encontra um artigo publicado para promover determinado filme acerca dessa condenada prática devocional (o qual não vi e jamais verei — e recomendo fortemente que todos também assim o façam).
No texto, lê-se: "os espectadores podem ficar chocados ao saber que o artista que pintou a imagem original da Divina Misericórdia, Eugene Kazimirowski, era um maçom que acabou se matando. Mas, antes de sua morte, ele pintou autorretratos retratando-se como Judas Escariotes, o Apóstolo que traiu Jesus." [LINK]
Seria esse o motivo dos tais raios em formato triangular? Seria por isso a ausência dos estigmas da tortura e crucificação? Teria sido, de sua parte, uma tentativa subliminar de destituir da retratada suposta aparição suas iconografias divinas? Ou a Irmã Faustina que lhe relatara exatamente assim a visão que supostamente tivera? Sabia ela e o Pe. Miguel Sopocko do caos mental e espiritual do referido pintor, bem como seu envolvimento com a maçonaria (declarada inimiga da Santa Igreja e por Ela condenada)? Quanto a essa última indagação, prefiro crer que não. Porém, são questões cujas respostas só Deus as têm.
De todo modo, fato é que, após a intercessão do supracitado trio, o resultado é a imagem acima: um Cristo sem Suas chagas e qualquer marca de Sua dolorosa e redentora Paixão. Saem raios de Seu peito, mas sob eles não se vê o Sagrado Coração (com a Cruz, o fogo, a perfuração da lança, a coroa de espinhos e o sangue, os quais lhe são típicos).
Todo meu respeito pelo estado de vida consagrada a Deus, por parte desse Padre e dessa Freira, mas, enquanto católico, tenho o dever de combater tudo aquilo que fere a Fé, sobretudo de modo público. E, no tangente à tal imagem, assevero que, infelizmente, essa condiz à devoção com a qual se relaciona, na medida em que muito se fala em misericórdia e pouco em cruz.
"Por ele [o Terço da Divina Misericórdia] conseguirás tudo, se o que pedires estiver de acordo com a Minha vontade." (diário 1731)
"Recita, sem cessar, este Terço que te ensinei. Todo aquele que o recitar alcançará grande misericórdia na hora da sua morte. Os Sacerdotes o recomendarão aos pecadores como a última tábua de salvação. Ainda que o pecador seja o mais endurecido, se recitar este Terço uma só vez, alcançará a graça da Minha infinita misericórdia." (diário 687)
"Pela recitação deste Terço agrada-Me dar tudo o que Me peçam. Quando os pecadores empedernidos o recitarem, encherei de paz as suas almas, e a hora da morte deles será feliz. Escreve isto para as almas atribuladas: quando a alma vir e reconhecer a gravidade dos seus pecados, quando se abrir diante dos seus olhos todo o abismo da miséria em que mergulhou, que não se desespere, mas, antes, se lance com confiança nos braços da Minha misericórdia, como uma criança no abraço da sua querida mãe. Essas almas têm prioridade no Meu Coração compassivo, elas têm primazia à Minha misericórdia. Diz que nenhuma alma que tenha invocado a Minha misericórdia se decepcionou ou experimentou vexame. Tenho predileção especial pela alma que confiou na Minha bondade. Escreve que, quando recitarem esse Terço junto aos agonizantes, Eu Me colocarei entre o Pai e a alma agonizante, não como Justo Juiz, mas como Salvador Misericordioso." (diário 1541)
"Defendo toda alma que recitar esse Terço na hora da morte, como se fosse a Minha própria glória, ou, quando outros recitam junto a um agonizante — eles conseguirão a mesma indulgência. Quando recitam esse Terço junto a um agonizante, aplaca-se a Minha ira, a Minha misericórdia insondável o envolve e abrem-se as entranhas da Minha misericórdia, movidas pela dolorosa Paixão do Meu Filho." (diário 811).
“Em determinado momento, quando conversava com meu diretor espiritual, vi, interiormente, mais rapidamente que num relâmpago, a sua alma em grande sofrimento, num tal martírio que só poucas almas o experimentam. Esse sofrimento provém dessa obra. Virá o tempo em que esta obra, que Deus tanto recomenda, será como que totalmente destruída e, depois disso, a ação de Deus se manifestará com grande força, que dará testemunho da verdade. Ela será um novo esplendor para a Igreja, ainda que há muito tempo Nela já [exista]. Que Deus é infinitamente misericordioso ninguém o poderá negar; mas Ele deseja que todos saibam disso, antes que venha a segunda vez como Juiz; quer que primeiro as almas O conheçam como Rei da Misericórdia. Quando esse triunfo sobreviver, nós já estaremos na Vida Nova, na qual não há sofrimentos. Mas, antes disso, a alma Dele será saciada de amargura, à vista da ruína dos Seus esforços. Contudo, essa destruição será apenas ilusória, visto que Deus não muda o que uma vez tenha decidido; mas, ainda que a destruição seja aparente, o sofrimento será bem real. Quando isso sucederá não sei. Quanto tempo vais durar não sei. Mas Deus prometeu uma grande graça, especialmente a ti e a todos que proclamarem esta Minha grande misericórdia. Eu mesmo os defenderei na hora da morte como a Minha glória. E, ainda que os pecados das almas fossem negros como a noite, quando o pecador recorre [à] Minha misericórdia presta-Me a maior glória e é a honra da Minha Paixão. Quando a alma glorifica a Minha bondade, então o demônio treme diante dela e foge até o fundo do Inferno.” (diário 378)
"Prometo que a alma que venerar esta Imagem não perecerá. Prometo, também, já aqui na Terra, a vitória sobre os inimigos e, especialmente, na hora da morte. Eu mesmo a defenderei como Minha própria glória." (diário 48)
“As almas que recorrem à Minha Misericórdia e aquelas que glorificarem e anunciarem aos outros a Minha grande Misericórdia, na hora da morte Eu as tratarei de acordo com a Minha infinita Misericórdia.” (diário 1520)
“As almas que divulgam o culto da Minha Misericórdia, eu as defendo por toda a vida como uma terna mãe defende seu filhinho e, na hora da morte, não serei Juiz para elas, mas sim o Salvador Misericordioso. Nessa última hora, a alma nada tem em sua defesa, além da Minha Misericórdia. Feliz a alma que, durante a vida, mergulhou na fonte da misericórdia, porque não será atingida pela justiça.” (diário 1075)
“Todas as almas que louvarem Minha Misericórdia e divulgarem a sua veneração, estimulando outras almas à confiança na Minha misericórdia, essas almas, na hora da morte, não sentirão pavor. A Minha misericórdia as defenderá nesse combate final.” (diário 1540)
Para além dos problemas de morfossintaxe, existentes nos textos das supostas revelações, há ainda algo mais grave no tal diário da Irmã Faustina: a questão teológica.
No diário 1731, Cristo supostamente diz à Irmã Faustina que quem fizer o Terço da Divina Misericórdia conseguirá tudo o que pedir, caso esteja de acordo com a vontade de Jesus.
Nosso Senhor e Nossa Senhora jamais disseram isso em relação ao Santo Rosário, mas a Irmã Faustina quer fazer crer que Eles o disseram quanto ao suposto "Terço da Divina Misericórdia".
Relembre-se: a Rainha do Céu diz a Alano de La Roche que a maior das devoções, após a Santa Missa, é a do Santo Rosário e, mesmo assim, a Virgem Santíssima nunca prometeu que por meio Dele tudo se pode conseguir. Isso porque há um conjunto de fatores que consequenciam em um mérito subjetivo (já que o objetivo vem sempre de Deus, com a graça santificante), por meio do qual se nutre a esperança do lucro de uma graça. E o próprio Cristo, em Suas aparições a São Domingos e ao Beato Alano de La Roche, ao exortá-los quanto ao exercício do Saltério de Jesus e Maria, bem como acerca da proliferação Desse, em nenhum momento garante que tudo pode ser alcançado através dessa caridosa prática. Para isso criou Ele Sua Santa Igreja e os sete Sacramentos que dentro Dela se obtém — e as devoções, mesmo as mais importantes, não estão acima deles, mas a eles unidas, como poderosos auxílios na árdua jornada do fiel, rumo à salvação. E, ainda assim, toda graça provém do beneplácito de Deus.
No diário 687 encontra-se Cristo supostamente a asseverar que o "Terço da Divina Misericórdia" deve ser rezado sem cessar. E, novamente, há discordância com a Santa Tradição, uma vez que tal afirmativa (de modo implícito), põe tal devoção acima e em substituição a do Santo Rosário.
Ainda nesse mesmo diário, lê-se que todo aquele que rezar o tal "Terço" na hora da morte alcançará grande misericórdia. Mas, e quanto ao Sacramento do Batismo, da Reconciliação (Confissão + Penitência), da Eucaristia e da Extrema-Unção? Não são esses os remédios mais maravilhosos a um moribundo em iminência de falecimento?
Nesse texto não há menção a nenhum deles, senão ao "Terço da Divina Misericórdia". Aliás, diz-se, inclusive, que é ele a última tábua de salvação ao pecador. E mais: basta rezá-lo uma só vez para alcançar a graça da misericórdia de Cristo. Ora! Isso é absurdo! Tal sofisma é demasiado pernicioso, na medida em que passa a ideia de que não é necessário nada mais além do acesso ao tal "Terço". Um controverso e facílimo meio para alcançar a salvação, sem muita privação e sacrifício.
Não se fala em combate aos pecados capitais, às vicissitudes seculares; não se menciona a castidade, a radical mudança de vida no quotidiano, a sincera e obstinada conversão, a luta pelo mantimento do estado de graça, o constante acesso aos Sacramentos, o exercício diário do Santo Rosário (ou ao menos um terço Dele); não se comenta acerca das piedosas práticas, por meio de muitas das quais se obtêm indulgências, tais como a caridade; adoração ao Santíssimo, etc.
No diário 1541, supostamente Jesus diz que agrada-Lhe dar tudo o que a Ele pedem, por meio da recitação do tal "Terço da Divina Misericórdia". Dessa vez, sequer lê-se o condicionamento encontrado no 1731, o qual diz "se o que pedires estiver de acordo com a Minha vontade." A ideia passada é de irrestrita concessão. E promete-se, novamente, uma boa morte — sem mencionar qualquer Sacramento.
Diz o referido diário:
"Quando a alma vir e reconhecer a gravidade dos seus pecados, quando se abrir diante dos seus olhos todo o abismo da miséria em que mergulhou, que não se desespere, mas, antes, se lance com confiança nos braços da Minha misericórdia, como uma criança no abraço da sua querida mãe. Essas almas têm prioridade no Meu Coração compassivo, elas têm primazia à Minha misericórdia. Diz que nenhuma alma que tenha invocado a Minha misericórdia se decepcionou ou experimentou vexame. Tenho predileção especial pela alma que confiou na Minha bondade." (diário 1541)
Então, o poder das chaves e do perdão dos pecados, instituído por Jesus Cristo, junto a São Pedro e aos Apóstolos, foi substituído pelo tal "Terço da Divina Misericórdia"?
"E Eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra Ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na Terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na Terra será desligado nos Céus.” (Mt 16,18-19)
"Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: 'recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, lhes serão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, lhes serão retidos.” (Jo 20,22-23)
Por fim, lê-se, ainda, nesse diário: "escreve que, quando recitarem esse Terço junto aos agonizantes, Eu Me colocarei entre o Pai e a alma agonizante, não como Justo Juiz, mas como Salvador Misericordioso." E, outra vez, o tal "Terço" substitui os últimos Sacramentos.
Por esses e tantos outros motivos eu não creio na devoção criada pela Irmã Faustina e nem acredito que Jesus Cristo lhe aparecera e lhe dissera todas essas palavras, pois Deus é perfeito, indefectível, não se contradiz e jamais ensinaria uma doutrina oposta Àquela a qual Ele próprio lecionara aos 12, mandando-os, depois, espalhá-La mundo afora, por meio de Sua Santa Igreja. ("Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo.” — Mt 28,19-20)
O diário 811 aparenta não ser supostamente Cristo, mas Deus Pai ou Nossa Senhora a falar com a Freira, pois, ao final, lê-se "Paixão do Meu Filho". E, para além disso, cita a palavra "indulgência" ao mencionar a hora da morte de um agonizante. Assevera-se que ele, ao rezar o "Terço da Divina Misericórdia", lucra tal benefício; ou, igualmente, se outrem o fizer junto dele. — Inovações na Santa Doutrina, após quase 2000 anos? Impossível, porquanto Deus é absoluto e imutável, tal qual Suas Leis, a verdade e Sua Santa Igreja.
Fato estranho ocorre no diário 378: inicia-se com um suposto relato da Freira e, ao final, lê-se "mas Deus prometeu uma grande graça, especialmente a ti e a todos que proclamarem esta Minha grande misericórdia." Isso quer dizer que o texto sai da primeira para a terceira pessoa, desnorteando o leitor, que fica sem saber se quem vos fala é Deus ou a Irmã Faustina. Erro de tradução? Erro teológico?
Somente o diário original, em polonês, pode sanar tal dúvida. Nem sei se ele ainda existe. E, independentemente disso, eis mais uma prova de que os problemas com essa devoção não cessam de surgir.
E os absurdos não cessam, na referida devoção: nos diários 48 e 1075, respectivamente, encontram-se essas categóricas afirmações, supostamente ditas à Freira polonesa por Nosso Senhor:
"Prometo que a alma que venerar esta imagem não perecerá." (diário 48)
"As almas que divulgam o culto da Minha Misericórdia, Eu as defendo por toda a vida como uma terna mãe defende seu filhinho e, na hora da morte, não serei Juiz para elas, mas sim o Salvador Misericordioso. Nessa última hora, a alma nada tem em sua defesa, além da Minha misericórdia. Feliz a alma que, durante a vida, mergulhou na fonte da misericórdia, porque não será atingida pela justiça.” (diário 1075)
Impressionante! Então, nem mesmo o "Terço da Divina Misericórdia", o qual soberbamente aparenta substituir todos os Sacramentos, é mais necessário à salvação? Basta venerar a pintura popularmente conhecida como "Jesus Misericordioso" e "mergulhar nessa fonte de misericórdia"? Só isso?
Apregoa-se a facilidade do perdão por meio da contemplação da supracitada representação iconográfica, mediante as orações supostamente ensinadas por Jesus Cristo à suposta vidente. Absurdo! Absurdo! Absurdo!
Em Deus a misericórdia co-habita com a justiça e aquela não anula essa; ao contrário, harmonizam-se; e somente Ele é quem decide em quais proporções essas compõem Seu Juízo, com o qual julga cada alma.
Há tempos estudo a Santa Doutrina e a Santa Tradição. No que concerne os mais de 2000 anos de história do catolicismo, desconheço sequer uma única vez em que a Santa Igreja mencionou conjuntura com sequer a possibilidade de o Deus Trino abrir mão, totalmente, de ser Justo Juiz para agir única e exclusivamente como Salvador Misericordioso.
A Igreja Católica jamais o fez porque é Santa e inerrante, conduzida pelo Paráclito; é Ela o corpo místico de Cristo (1Cor 12), o que A torna, por conseguinte, impassível de erro, sobretudo no ensino doutrinal.
Todo meu respeito pelo estado de vida consagrada a Deus, por parte da Irmã Faustina, enquanto Freira, mas, lamentavelmente, seu diário inova no tocante à Santa Doutrina e isso é heterodoxia.
A Santa Tradição ensina acerca dos "Novíssimos": os últimos acontecimentos na vida do Homem: morte, Juízo, inferno e Paraíso.
Quanto ao Juízo, há dois: o primeiro, chamado de "particular", ocorre imediatamente à morte, de modo que o indivíduo fica diante de Jesus Cristo, que o julgará digno da Eleição (Purgatório antes do Céu ou Céu direto) ou da danação eterna (inferno).
O segundo julgamento (Julgamento Universal) ocorrerá no Juízo Final, no Último Dia, no qual Nosso Senhor ressuscitará os corpos todos dos mortos e, nesse momento, vivos e mortos serão julgados publicamente, de maneira que todos saberão porque foram ou serão salvos ou condenados.
Os que estiverem vivos irão também ser julgados e enviados ao seu merecido destino, em corpo e alma.
Os que estiverem já nos Céus, esses receberão seus corpos gloriosos, que se juntarão às suas respectivas almas.
As benditas almas do Purgatório receberão, cada qual, seu respectivo corpo, e cada ente continuará pagando suas justíssimas dívidas perante o Deus Trino, para que, ao quitá-las, possam subir à glória da Beatífica Visão, no Paraíso.
As almas do limbo outrossim unir-se-ão aos seus corpos e ali permanecerão, infinitamente, já que o único lugar transitório é o Purgatório.
No que diz respeito aos condenados ao inferno, as sôfregas almas dali juntar-se-ão aos seus corpos — não gloriosos, mas com o estigma da eterna condenação — e permanecerão sob indizíveis tormentos, eternamente.
Essa é, de modo resumitivo, a Santa Doutrina da Justificação, ensinada por Jesus Cristo aos Seus Apóstolos, por eles transmitida aos seus sucessores, assim até os dias atuais, e o será até o fim dos tempos.
Eis um tema que "fez tremer mesmo as colunas da Igreja, encheu de terror os mais grandes Santos e a população dos anacoretas dos desertos", nas sábias palavras do grande São Leonardo de Porto Maurício, em seu excelente "O pequeno número daqueles que são salvos".
Portanto, trata-se de gravíssima matéria, porquanto não há nada mais difícil que salvar-se. Ora! A recompensa de um pleito é proporcional ao sacrifício que exige o objeto do intento.
Imagine-se um muitíssimo bem remunerado cargo público, no Brasil, o qual somente se conquista mediante anos de estudo a fio, de modo que se possa preparar-se suficientemente para o exame admissional, o qual é classificatório e eliminatório, com concorrência de milhares de indivíduos para cada vaga ofertada, sob o peso de um colossal volume de conteúdo a ser cobrado.
Agora, reflita-se: se algo humano, finito, imperfeito e limitado exige tamanho esforço para ser conquistado, que dirá o Céu, que é divino, eterno, perfeito e ilimitado?!
Portanto: o católico deve distar-se de toda e qualquer doutrina que, passando-se por católica, tenta convencer que a salvação é objeto de fácil alcance.
São Leonardo de Porto Maurício alertara-nos sobre "o pequeno número daqueles que são salvos". E não dissera nenhuma novidade, pois que o próprio Cristo ensinara-nos já acerca disso: "porque são muitos os chamados, e poucos os escolhidos." (Mt 22,14)
Não existe isso de venerar uma imagem e tal ato bastar para salvar-se. Via de regra: ninguém chega ao Céu sem que, antes, nesse vale de lágrimas, se "combata o bom combate e se guarde a fé". (2Tm 4,7)
A única e genuína Igreja de Deus é a Católica. E é Ela a Religião da Cruz, do sacrifício, da batalha, da espada, do suor e do sangue.
"Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-Me." (Mt 16,24)
"Não julgueis que vim trazer a paz à Terra. Vim trazer não a paz, mas a espada. Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e a mãe, entre a nora e a sogra, e os inimigos do Homem serão as pessoas de sua própria casa. Quem ama seu pai ou sua mãe mais que a Mim não é digno de Mim. Quem ama seu filho mais que a Mim não é digno de Mim. Quem não toma a sua cruz e não Me segue não é digno de Mim. Aquele que tentar salvar a sua vida irá perdê-la. Aquele que a perder, por Minha causa, irá reencontrá-la." (Mt 10,34-39)
A guerra é constante e, mais do que no âmbito da matéria, trava-se no campo espiritual.
† † †
TEXTO 02
A primeira “obra da misericórdia”
e, em seguida,
a segunda ”obra da misericórdia”.
Parte 1: [a primeira] foi iniciada por uma mulher chamada Feliska Kozlowska, de Plock, na Polônia, a qual alegou estar recebendo revelações do Céu. Em 1893 d.C., Maria Francisca (seu nome de Freira), teve sua primeira “visão”, fundou um novo movimento religioso, o “mariavitismo”, e um “sacerdócio mariavita”. [Diversas fontes acusam categoricamente os mariavitas de terem tido contato e sofrido influência do Abade Joseph-Antoine Boullan, Sacerdote católico laicizado (destituído da função de Clérigo pela Santa Igreja) por envolvimento em ocultismo/satanismo e, por conseguinte, um excomungado ipso facto. E mais: o tal Padre expulso do Clericato é acusado de ter tido um filho com a Freira Adèle Chevalier (se forem verídicas as acusações, também anatematizada ipso facto por envolvimento com ocultismo/satanismo), e de ambos terem sacrificado a criança em uma celebração satânica. Foram presos por cerca de três anos, sob a acusação de fraude. Há incontáveis fontes, na internet e em livros, que relatam tais abominações. Não as cito, aqui, por seu elevadíssimo grau de periculosidade para a alma, o que deixara-me perplexo a ponto de decidir-me por não as mencionar.]
Várias visões de Kozłowska, entre 1893 d.C. e 1918 d.C., foram reunidas em 1922 d.C., no volume intitulado “Dzieło wielkiego miłosierdzia” (“A obra de Misericórdia”).
Os próprios mariavitas, hoje, chamam esse trabalho de “o trabalho da misericórdia divina revelada à feliz Maria Francisca Kozlowska”.
Esse livro é a fonte religiosa mais importante para os mariavitas, ao lado da Bíblia. Em sua “revelação”, Kozłowska afirma ter recebido uma ordem para lutar contra o declínio moral do mundo, especialmente [em relação aos] pecados do Clero.
Em sua primeira visão, ela foi informada de organizar a “Ordem dos Mariavitas”. E os [supostos] objetivos dessa Congregação eram: promover a renovação da vida espiritual do Clero, difusão da adoração perpétua ao Santíssimo Sacramento e o culto do Perpétuo Socorro da Bem-Aventurada Virgem Maria.
Em sua vida quotidiana, os religiosos dessa Ordem viviam similarmente aos antigos franciscanos: uma vida ascética, com jejum, modéstia e simplicidade. [— Propagadores da Coonfissão e Comunhão frequentes, tanto para eles quanto para o povo.]
Isso tudo parecia bom para os católicos, mas eram as agendas escondidas sendo promovidas que alertaram a Igreja para agir e condenar toda a farsa.
O objetivo dessa falsa devoção foi liberalizar a Igreja Católica e promover doutrinas anteriormente condenadas, sob o pretexto de ser “o desejo dos Céus”.
[O Padre] Joannes Maria Michael Kowalski foi nomeado o “Ministro Geral” dos mariavitas e, em seguida, tornou-se a pessoa mais importante do movimento, que ganhou um grande número de aderentes.
O pernicioso movimento foi, em 1903 d.C., ao encontro do recém-eleito Papa, São Pio X, na esperança de terem sua “Congregação” [avalizada pela Santa Sé], mas o [Sumo Pontífice] os ordenou que abandonassem todas as heresias nas quais caíram e voltassem à vivência do genuíno catolicismo.
Em junho 1904 d.C., uma outra delegação viajou a Roma para expressar à Cúria Romana a importância da missão de sua “Ordem”, [mas, novamente, foram ordenados a interromperem com seus erros voltarem à Santa Tradição].
Em dezembro de 1906 d.C., a Igreja excomungou [a Freira Francisca Kozłowska] e [o Sacerdote] Jan Maria Michael Kowalski, bem como todos aqueles que optaram por segui-los.
O Papa São Pio X, para ratificar tal ato, [publicou a Carta Encíclia Tribus Circiter — LINK], na qual condena os mariavitas [também chamados de] “sacerdotes místicos da Polônia”. Nela, ele escreve:
“Veneráveis irmãos, saúde e bênção apostólica!
Há cerca de três anos, esta Sé Apostólica foi devidamente informada de que alguns Sacerdotes, especialmente entre o Clero menor das vossas dioceses, fundaram, sem autorização dos seus legítimos Superiores, uma espécie de sociedade pseudo-monástica, conhecida como ‘Mariavitas’ ou ‘Sacerdotes Místicos’, os membros dos quais, pouco a pouco, se desviaram do caminho certo e da obediência que devem aos Bispos "a quem o Espírito Santo colocou para governar a Igreja de Deus", e se tornaram vãos em seus pensamentos.
2. A certa mulher, que proclamavam santíssima, maravilhosamente dotada de dons celestiais, divinamente esclarecida sobre muitas coisas e providencialmente dada para a salvação de um mundo prestes a perecer, não hesitaram em confiar-se sem reservas, e obedecer-lhe todos os desejos.
3. Baseando-se num suposto mandato de Deus, eles se propuseram a promover entre o povo, sem discriminação e por iniciativa própria, frequentes exercícios de piedade (altamente louváveis quando bem executados), especialmente a adoração do Santíssimo Sacramento e a prática de Comunhão frequente; mas, ao mesmo tempo, fizeram as mais graves acusações contra todos os Padres e Bispos que se [atreveram] a expressar qualquer dúvida sobre a santidade e a eleição divina da mulher, ou [mostraram] alguma hostilidade à sociedade dos mariavitas. As coisas chegaram a tal ponto que havia motivos para temer que muitos dos fiéis, em sua ilusão, estivessem prestes a abandonar seus pastores legítimos.
4. Assim, a conselho de nossos veneráveis irmãos Cardeais, da Inquisição Geral, tivemos um Decreto emitido, como vocês sabem, na data de 4 de setembro de 1904 d.C., suprimindo a sociedade de sacerdotes acima mencionada e ordenando-lhes que [rompessem] absolutamente todas as relações com a mulher. Mas os Padres em questão, embora tenham assinado um documento expressando sua sujeição à autoridade de seus Bispos, e que talvez tenham, como dizem, cortado parcialmente suas relações com a mulher, ainda não abandonaram seu compromisso e [renunciaram] sinceramente à associação condenada. Não só condenaram as vossas exortações e inibições, não só muitos deles assinaram [uma] audaciosa declaração, em que rejeitavam a comunhão com os seus Bispos, não só em mais de um lugar incitaram o povo iludido a expulsar os seus legítimos pastores, mas, como os inimigos da Igreja, [afirmaram] que Ela caiu da verdade e da justiça e, portanto, foi abandonada pelo Espírito Santo, e que somente a eles, os Padres mariavitas, foi divinamente dado instruir os fiéis na verdadeira piedade.
5. Nem isso é tudo. Há algumas semanas, dois desses Sacerdotes vieram a Roma: Romanus Prochniewsky e Joannes Kowalski, sendo este último reconhecido, em virtude de algum tipo de delegação da referida mulher, como seu superior por todos os membros da Sociedade. Ambos, em petição que alegam ter sido redigida por ordem expressa de Nosso Senhor Jesus Cristo, pedem ao Supremo Pastor da Igreja ou à Congregação do Santo Ofício, em Seu nome, que emita documento concebido nestes termos: ‘que Maria Francisca (a mulher mencionada acima) foi santificada por Deus, que ela é a mãe de misericórdia para todos os Homens chamados e eleitos para a salvação por Deus, nestes dias; e que todos os Padres mariavitas são ordenados por Deus [a] promover em todo o mundo a devoção ao Santíssimo Sacramento e à Bem-Aventurada Virgem Maria do Perpétuo Socorro, livres de qualquer restrição de Lei ou costume eclesiástico ou humano, e de todo poder eclesiástico e humano...’
6. A partir dessas palavras, estávamos dispostos a acreditar que os Sacerdotes em questão estavam cegos, não tanto pelo orgulho consciente, mas pela ignorância e ilusão, como aqueles falsos profetas, sobre os quais Ezequiel escreve: [‘Têm visões inanes, profetizam a mentira, dizendo: Oráculo do Senhor, sendo certo que o Senhor não os enviou. Apesar disso, ainda esperam a realização da sua palavra. Porventura não são vãs as visões que tendes, mentirosos, os oráculos que proferis, quando dizeis: assim falou o Senhor, sendo certo que Eu não falei?’] (Ez 13,6-7) Portanto, nós os recebemos com piedade, exortando-os a deixar de lado os enganos da vã revelação, a [sujeitarem] a si mesmos e suas obras à autoridade salutar de seus superiores e a apressar o retorno dos fiéis de Cristo ao caminho seguro da obediência e reverência para seus pastores; e, finalmente, deixar à vigilância da Santa Sé e das outras autoridades competentes a tarefa de confirmar os costumes piedosos que pareçam mais adequados para o crescimento mais pleno da vida cristã em muitas paróquias de suas dioceses, e, ao mesmo tempo, admoestar [quaisquer] Sacerdotes que foram considerados culpados de falar de forma abusiva ou desdenhosa de práticas e exercícios devotos aprovados pela Igreja. E nos consolamos ao ver os dois Sacerdotes, movidos por nossa bondade paterna, lançarem-se a nossos pés e [expressarem] sua firme resolução de realizar Nossos desejos com devoção de filhos. Fizeram, então, que nos fosse transmitida uma declaração escrita que aumentou nossa esperança de que esses filhos iludidos abandonassem sinceramente as ilusões passadas e voltassem ao caminho certo:
7. ‘Nós (estas são as suas palavras), sempre dispostos a cumprir a vontade de Deus, que agora nos foi tão clara por Seu Vigário, revogamos com toda a sinceridade e alegria nossa carta, que enviamos em 1º de fevereiro do presente ano, ao Arcebispo de Varsóvia, e na qual declaramos que nos separamos dele. Além disso, professamos com a maior sinceridade e a maior alegria que desejamos estar sempre unidos aos nossos Bispos, e especialmente ao Arcebispo de Varsóvia, tanto quanto Vossa Santidade nos ordenar. Além disso, como agora estamos agindo em nome de todos os Mariavitas, fazemos esta profissão de nossa inteira obediência e sujeição, em nome não apenas de todos os Mariavitas, mas de todos as Adoradoras do Santíssimo Sacramento. Fazemos esta profissão, de modo especial, em nome das Mariavitas de Plotsk, que, pela mesma causa que as Mariavitas de Varsóvia, entregaram ao seu Bispo uma declaração de separação dele. Nós, sem exceção, prostrados aos pés de Vossa Santidade, professando repetidas vezes o nosso amor e obediência à Santa Sé, e, de modo muito especial, à Vossa Santidade, humildemente [pedimos] perdão por qualquer dor que possamos ter causado ao seu coração paterno. Por fim, declaramos que, imediatamente, nos empenharemos, com todas as nossas energias, para restaurar, imediatamente, a paz entre o povo e seus Bispos. Não podemos afirmar que esta paz será realmente restaurada muito em breve.’
8. Foi, portanto, muito agradável para nós podermos acreditar que esses nossos filhos, assim perdoados, imediatamente, ao retornarem à Polônia, cumpririam suas promessas, e por isso nos apressamos em aconselhá-los, veneráveis irmãos, a recebê-los e seus companheiros, agora que eles professaram inteira obediência à vossa autoridade, [e,] com igual misericórdia, restaurá-los legalmente, se seus atos [corresponderem] às suas promessas, às suas faculdades para o exercício de suas funções sacerdotais.
Mas o evento enganou nossas esperanças, pois [soubemos], por documentos recentes, que eles novamente abriram suas mentes para revelações mentirosas, e que, desde seu retorno à Polônia, eles não apenas ainda não mostraram a vocês, veneráveis irmãos, o respeito e a obediência que prometeram, mas que escreveram aos companheiros uma carta totalmente oposta à verdade e à obediência genuína.
9. A profissão de fidelidade ao Vigário de Cristo é vã naqueles que, de fato, não cessam de violar a autoridade dos seus Bispos. Pois, ‘de longe, a parte mais augusta da Igreja consiste nos Bispos (como escreveu nosso predecessor, Leão XIII, de santa memória, em sua carta de 17 de dezembro de 1888 d.C., ao Arcebispo), na medida em que esta parte, por direito divino, ensina e governa os Homens; por isso, quem lhes resiste ou recusa obstinadamente a obediência a eles se coloca à parte da Igreja... Por outro lado, julgar ou repreender os atos dos Bispos não pertence de forma alguma a particulares — isso é da competência apenas daqueles que são superiores a eles em autoridade, e, especialmente, do Sumo Pontífice, pois a ele Cristo confiou o encargo de alimentar não apenas Seus cordeiros, mas Suas ovelhas em todo o mundo. Quando muito, em caso de queixa grave, é permitido remeter todo o caso ao Romano Pontífice, e isso com prudência e moderação, como exige o zelo do bem comum, não de forma clamorosa ou abusiva, pois assim se criam dissensões e hostilidades, ou certamente [aumentam-nas].’
10. Ociosa e enganosa também é a exortação do Padre Johannes Kowalski aos seus companheiros, [em] erro, em nome da paz, enquanto ele persiste em sua conversa tola e incitamento à rebelião contra pastores legítimos e em descarada violação dos mandamentos episcopais.
11. Portanto, para que os fiéis de Cristo e todos os chamados Sacerdotes mariavitas de boa fé não possam mais ser enganados pelas ilusões da mulher acima mencionada e do Sacerdote Johannes Kowalski, confirmamos novamente o Decreto pelo qual a sociedade dos mariavitas, fundada ilegal e inválida, é totalmente suprimida, e nós a declaramos suprimida e condenada, e proclamamos que ainda está em vigor a proibição que proíbe todos os Sacerdotes, com exceção daquele que o Bispo de Plotsk deve, em sua prudência, mandar ser seu confessor, fazer qualquer coisa, [sob] qualquer pretexto, com [essa] mulher.
12. Vós, veneráveis irmãos, exortamos vivamente a abraçar com caridade paterna os Sacerdotes errantes, logo que se arrependam sinceramente, e a não recusar chamá-los novamente, sob vossa direção, para seus deveres sacerdotais, quando devidamente provados dignos. Mas se eles, o que Deus nos proíbe, rejeitarem suas exortações e perseverarem em sua contumácia, será [nossa responsabilidade] cuidar para que sejam severamente tratados. Estude para reconduzir ao caminho certo os fiéis de Cristo que agora estão trabalhando sob uma ilusão que pode ser perdoada; e promovei nas vossas dioceses as práticas de piedade, recentemente ou há muito aprovadas em numerosos documentos emitidos pela Sé Apostólica, e fazei-o com tanto mais vivacidade agora que, pela bênção de Deus, os Sacerdotes entre vós estão habilitados a exercer o seu ministério [e, fiéis, a imitar] o exemplo de piedade de seus pais.
13. Entretanto, como penhor dos favores celestiais e em prova da nossa boa vontade paterna, concedemos com muito amor no Senhor a Bênção Apostólica a vós, veneráveis irmãos, e a todo o Clero e povo confiado aos vossos cuidados e vigilância.
Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 05 de abril de 1906 d.C., no terceiro ano de nosso pontificado. PIUS X" [LINK]
[Contrariamente à condenação papal, os mariavitas] passaram a [conceber] o Pe. Joannes Kowalski como “Bispo”, apesar de ter sido excomungado.
As autoridades russas reconheceram o movimento mariavita como uma “seita tolerada”. Em 1906 d.C., havia cerca de 50-60.000 mariavitas, em 16 paróquias. Cinco anos depois, fontes históricas mencionam o número de 160.000 [sectários].
A organização da comunidade mariavita lembra um pouco as comunidades protestantes, onde cada membro tem o direito de falar sobre os problemas.
Mariavitas não eram somente ativos por motivos religiosos, mas eles operavam muitas atividades culturais, educacionais e sociais. Eles logo foram organizando escolas, creches, bibliotecas, cozinhas para os pobres, lojas, casas de impressão, asilos, orfanatos e fábricas.
Em 1911 d.C., eles terminaram a principal igreja em Plock, chamada de “Santuário da Misericórdia e Caridade”.
Eles também compraram 5km² de terra, perto de Plock. Deram o nome de “Felicjanow após Kozłowska”.
Desde 1906 d.C. eles praticavam a liturgia em língua vernácula (polonês) e não em latim.
Como disse Nosso Senhor: ”pelos seus frutos os conhecereis”. (Mt 7,16)
Parte 2: o objetivo principal mariavita era o desejo comunista de unir todas as religiões em uma grande falsa unidade, visando fazer uso da religião. Felicjanow escreveu: “é o amor que vai ligar todos nós!” (Trabalho da Infinita Misericórdia, pág. 68) [Impressionante a semelhança com as diretrizes teológicas da devoção da Irmã Faustina e com os norteamentos ecumênicos e teologais do Concílio Vaticano II.]
Os mariavitas promovem coisas como:
• Ecumenismo;
• A possibilidade de um Sacerdote de estar casado (1922 d.C. – 1924 d.C.);
• A Comunhão sob as duas espécies (1922 d.C.);
• O Sacerdócio e Bispado para mulheres;
• O conceito protestante do sacerdócio do povo de Deus (1930 d.C.); [muito presente no CVII]
• Comunhão imediata das crianças batizadas — recém-nascidos (1930 d.C.);
• A remoção dos títulos eclesiásticos (1930 d.C.);
• A supressão das prerrogativas do Clero (1930 d.C.);
• A simplificação das cerimônias litúrgicas e as regras da Quaresma (1931 d.C. - 1933 d.C.);
• E a redução do jejum eucarístico.
Eles são líderes de movimento ecumênico e membros do WWC (“Conselho Mundial de Igrejas”), uma união da qual a Igreja Católica deve manter-se distante, porque é uma causa anticristã, [na medida em que] tal ideia de unidade, [por meio do nivelamento da única Religião verdadeira com as outras, que não o são é erro gravíssimo, herético e blasfemo]. Cristo só fundou uma Igreja, então participar disso é rejeitá-Lo. Maus frutos [sempre surgem] de seitas.
Kowalski teve que comparecer diante do tribunal, em 20 casos. Ele foi acusado de blasfemar contra Deus, a Bíblia, a Igreja e os Sacramentos. Também foi acusado de traição do país (traição implícita), de socialismo, comunismo, roubo, fraudes, mentiras, etc.
No processo mais importante, ele foi acusado de abusos sexuais, ocorridos no claustro de Plock.
Em 1931 d.C., ele foi considerado culpado e, finalmente, enviado, por dois anos, para a prisão (1936 d.C. - 1938 d.C.).
A imprensa publicou artigos exigentes sobre a criminalização da igreja mariavite. Na época, Felicjanow foi chamado de “diabo encarnado”. [Porém,] mesmo excomungados, eles ainda continuaram a agir como se fossem parte da Igreja Católica.
O sucessor do Pe. Joannes Kowalski foi sua esposa, Izabela Wilucka, que era conhecida como “bispo”. Os mariavitas têm mulheres “bispos”.
Em 1919 d.C., eles mudaram oficialmente o nome do grupo para “Velha Igreja Católica dos Mariavitas”.
Helena Kowalska (que depois se chamará Faustina Kowalska) entrou em um convento, em Plock, a 30 de abril de 1926 d.C., apenas 5 anos após a morte do primeiro “visionário” de Plock.
Em seguida, vieram as supostas revelações, surpreendentemente similares às primeiras, de Maria Francisca Kozlowska.
Em seu diário [há relatos de suas visões]. [Na primeira,] ela estava em um baile!
“Numa ocasião, eu estava com uma de minhas irmãs, em um baile. Enquanto todos se divertiam a valer, a minha alma sentia tormentos interiores. No momento em que comecei a dançar, de repente vi Jesus a meu lado, Jesus sofredor, despojado de Suas vestes, todo coberto de chagas, e me disse estas palavras: ‘até quando hei de ter paciência contigo e até quando tu me decepcionarás?’” (diário 9)
Para testar a autenticidade de uma forma de revelação, é fundamental que não [haja] erros nas mensagens, e se há algum [interesse pessoal, alguma contradição com a Sã Doutrina], então a devoção deve ser evitada, [pois] o diabo é capaz de enganar “até mesmo os eleitos“.
Houve várias ocasiões em que o diabo tentou dar falsas mensagens para destruir o ensinamento da Igreja. São Paulo disse:
"Estou admirado de que tão depressa passeis daquele que vos chamou à graça de Cristo para um evangelho diferente. De fato, não há dois (evangelhos): há apenas pessoas que semeiam a confusão entre vós e querem perturbar o Evangelho de Cristo. Mas, ainda que alguém — nós ou um anjo baixado do Céu — vos anunciasse um evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema. Repito aqui o que acabamos de dizer: se alguém pregar doutrina diferente da que recebestes, seja ele excomungado! É, porventura, o favor dos Homens que eu procuro, ou o de Deus? Por acaso, tenho interesse em agradar aos Homens? Se quisesse, ainda, agradar aos Homens, não seria servo de Cristo. Asseguro-vos, irmãos, que o Evangelho pregado por mim não tem nada de humano. Não o recebi nem o aprendi de Homem algum, mas mediante uma revelação de Jesus Cristo." (Gl 1,6-12)
Vejamos o que essa nova devoção de Plock estava tentando promover:
Na página 23 do “Diário da Divina Misericórdia”, a Irmã Faustina diz: “...e o anfitrião saiu da tenda e foi parar em minhas mãos, e eu, com alegria, coloquei-O de volta no tabernáculo. Isso foi repetido uma segunda vez e eu fiz a mesma coisa. Apesar disso, aconteceu pela terceira vez...“ (a Comunhão na mão é [proibida aos fiéis, pela Santa Tradição, reservada apenas aos Sacerdotes]).
Junto com uma série de Papas que condenaram tal prática está Santo Tomás de Aquino, [o maior entre] os Doutores da Igreja, que escreveu um tratado sobre a Eucaristia. E escreveu estas palavras: “(...) é próprio do ofício do Sacerdote ser mediador entre Deus e o povo, enquanto leva as coisas divinas para o povo. Por isso se diz que Sacerdote é o que dá as coisas sagradas.”
[Tudo o] que toca o Santíssimo Sacramento está consagrado. O Cálice e as mãos do Sacerdote, por exemplo. Por isso não é lícito a ninguém [tocar no Deus Vivo, na Sacratíssima Eucaristia, exceto em conjuntura de extrema urgência]. Por exemplo: se ele caísse sobre o chão e estivesse em risco de ser pisoteado. — [Em situação de Caso de extrema necessidade], para se evitar um mal maior, se permite essa exceção.
O diário da Irmã Faustina diz: ”eu ouvi estas palavras da Hóstia: ‘Eu desejava descansar em suas mãos, não só em seu coração.’”
[Histórias] estranhas também estão no diário, como uma em que ela conta que Jesus a havia tentado.
Parte 3: "as almas se perdem, apesar da Minha amarga Paixão. Estou lhes dando a última tábua de salvação, isto é, a Festa da Minha Misericórdia. Se não venerarem a Minha misericórdia, perecerão por toda a eternidade." (diário nº 965). [Mas, e quanto aos Sacramentos da Igreja: Reconciliação (Confissão + Penitência), Batismo, etc.] e aos piedosos deveres diários do católico?
[Segundo o diário da Irmã Faustina, Jesus disse a ela]: ”diga à Superiora Geral para contar com você como a filha mais fiel da Ordem.” No entanto, Nosso Senhor nos fala, na Sagrada Escritura, para nos humilhar: "...porque todo aquele que se exaltar será humilhado, e todo aquele que se humilhar será exaltado.” (Lc 14,11)
A Irmã Lúcia, vidente das paracições de Fátima, em entrevista ao Padre Augustín Fuentes, em 1957 d.C., disse:
“O demônio quer apoderar-se das almas consagradas, tenta corrompê-las para levar à impenitência final, usa todas as astúcias para introduzir o Mundo na vida religiosa; daí a esterilidade da vida interior, a frieza dos seculares em relação à renúncia aos prazeres e à total entrega a Deus.” (Irmã Lúcia, em entrevista ao Padre Augustín Fuentes, em 1957 d.C..)
OBS.: quanto à questão de substituir as orações do Santo Rosário por outras, é mister sempre lembrar: o Saltério de Jesus e Maria é insubstituível e, abaixo da Santa Missa, é a maior das devoções. Quem diz isso é a própria Rainha do Céu, ao Beato Alano de La Roche: “a Virgem revelou ao Beato Alano que, depois do Santo Sacrifício da Missa, não há devoção mais excelente e mais meritória do que o Rosário, que é como que um segundo memorial e representação da vida e da Paixão de Jesus Cristo. O Padre Dorland conta que a Santíssima Virgem declarou ao venerável Domingos, cartuxo devoto do Santo Rosário, que residia em Trêves, no ano de 1481 d.C., que "todas as vezes que um fiel recita o Rosário com as meditações dos Mistérios da vida e da Paixão de Jesus Cristo, em estado de graça, ele obtém plena e inteira remissão de todos os seus pecados." (São Luís Maria Grignion de Montfort, A eficácia maravilhosa do Santo Rosário, Artpress, São Paulo, 2000, Págs. 35-36.) Portanto, quanto mais o fiel se afasta do Santo Rosário, mais vulnerável fica perante os ataques do demônio.
Parte 4: A devoção [da Irmã Faustina] foi condenada pela Santa Sé.
Há dois Decretos de Roma sobre essa questão.
A Suprema Congregação do Santo Ofício, em reunião plenária, realizada em 19 de novembro de 1958 d.C., tomou as seguintes decisões:
1) “Não há evidências da origem sobrenatural dessas revelações.”
2) “A festa da Divina Misericórdia não deve ser instituída.”
3) “É proibido divulgar imagens e escritos dedicados a divulgar essa devoção, da maneira descrita pela Irmã Faustina.”
O segundo Decreto do Santo Ofício foi em 6 de março de 1959 d.C., em que foi estabelecido o seguinte:
1) A difusão de imagens e textos que promovem a devoção à Divina Misericórdia, propostos pela Irmã Faustina, estão proibidos;
2) A tarefa de retirar as imagens acima mencionadas, que porventura já foram expostas ao público, é delegada à prudência dos Bispos.
Parte 5: É chocante o fato de que [o Papa] João Paulo II lutou pelo ecumenismo, [o que também o fizera] os mariavitas. E, [outrossim], ele ter [permitido] que o Pe. Rudnicki celebrasse uma “missa” mariavita em sua capela particular [nos anos 1980 d.C.]. Isso tudo só mostra até aonde o ecumênico “Espírito do Concílio Vaticano II” [pode] levar os fiéis.
Sancta Maria, ora pro nobis!
http://spessantotomas.blogspot.com.br
(Adaptado)
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ADENDOS AO TEXTO 02
TEXTOS RETIRADOS DO SITE OFICIAL
DA CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS
DE NOSSA SENHORA DA MISERICÓRDIA (PŁOCK-PL),
NA QUAL CONGREGOU A IRMÃ FAUSTINA.
Trecho da entrevista com a biógrafa da Irmã Faustina, Dr. Ewa K. Czaczkowska.
“Ks. Dr. Tomasz Brzeziński: você esteve em muitos lugares santificados pela presença de Santa Faustina, explorando a história da Igreja do século passado. Você também teve que vivenciar muitas reflexões relacionadas à análise de fatos e informações não confirmadas. E quando se trata de Płock — você tem alguma reflexão ligada a esse lugar, a esse quebra-cabeça de Deus, à permanência da Irmã Faustina, em Płock?
Dr. Ewa K. Czaczkowska: você disse corretamente: um quebra-cabeça de Deus. Porque aqui? Porquê, então? Como ler este sinal? Já sabemos que antes da Irmã Faustina houve outras Freiras a quem Jesus deu uma mensagem muito semelhante, sobre a Divina Misericórdia, mas não alcançou um grupo maior de crentes. Quando, em dezembro de 1923 d.C. uma delas, Ir. Józefa Meneèndez, morreu, seis meses depois Jesus apareceu a Helena Kowalska. Ele estava insistindo para que ela se juntasse à congregação religiosa, e, então, por seis anos Jesus apareceu para ela (começou em Płock-PL) para entregar a mensagem sobre a verdade de que Deus é misericordioso. Por que em Plock? Talvez a resposta esteja no fato de que, a algumas centenas de metros de onde estamos, há uma igreja mariavita, co-fundada por Madre Franciszka Kozłowska. No final do Século 19 d.C., ela teve revelações sobre a Divina Misericórdia, mas, infelizmente, ela não fez jus à tarefa de Deus. O que, a meu ver, faltava na sua vocação, escrevo no retrato das “Mães”, que publiquei no livro recém lançado “Mistyczki” (“Místicas”) — histórias de mulheres escolhidas. Deixe-me apenas dizer que a atitude da Irmã Faustina foi diferente. Não só aceitou a mensagem, mas suportou humildemente as provações a que foi submetida pelo próprio Jesus e, sobretudo, pelos superiores religiosos e confessores a quem Jesus lhe disse que obedecesse. Aqui, em Płock, Ir. Faustina estava passando por um momento muito difícil — revelações, escolhas, mas também experiências. Por dois anos, ela rezou por um confessor permanente que a ajudasse a discernir o que estava acontecendo em sua alma; que a ajudasse a entender se o que ela estava experimentando era verdade. Enquanto isso, depois de romper com o Padre Honorat Koźmiński, a Madre [Franciszka Kozłowska] não teve guia espiritual permanente, e como ela era a Superiora da Congregação e de todo o movimento mariavita, ela escrevia e falava indiscutivelmente. Talvez Plock seja uma lição de obediência e humildade?” (LINK)
Primeiramente: quanto à expressão “quebra-cabeça”, utilizada pelos supracitados personagens, assevero que jogo é criação humana, não divina. Deus não joga. Deus não brinca. Deus não pratica esporte. Deus não faz “quebra-cabeça”. E esse não é um modo respeitoso de referir-se aos Mistérios de Deus. É inadequado e, quiçá, blasfemo.
Uma devoção condenada duas vezes pela Santa Igreja, por dois Papas e com suas publicações inseridas na lista de livros proibidos pela Santa Sé não pode ser concebida como um Milagre; um Mistério de Deus. Ao contrário, deve ser vista como aquilo que deveras o é, e tratada como tal: um pecado, um erro, uma afronta à Fé. E o que, por outro lado, é verdadeiramente um Milagre e Mistérioo de Deus deve ser tratado com toda honra e deferência, não como um “quebra-cabeça de Deus”.
O que o Deus Trino faz e quer que seja compreendido Ele revela, por meio de quem Ele quer. Foi assim com os Profetas; com os Evangelistas; o é nas alocuções infalíveis dos Sumos Pontífices; nas divinamente guiadas e, por conseguinte, imperantes decisões dos Sacrossantos Concílios; etc. E o que a Santíssima Trindade deseja que se mantenha em oculto, assim o permanece. Não há joguetes nem “quebra-cabeças” com o Criador; e Seu plano salvífico não é uma gincana lúdica de “esconde, procura e acha”.
Em segundo lugar: o próprio site oficial da “Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Misericórdia”, em Płock-PL, onde congregara a Irmã Faustina, publicou uma entrevista com a escritora Dra. Ewa K. Czaczkowska (biógrafa da referida Freira), na qual ela dá a entender terem sido autênticas as “revelações” da falsa vidente mariavita Feliksa Magdalena Kozłowska (também chamada de Maria Franciszka Kozłowska). Palavras da Dra.:
“Talvez a resposta esteja no fato de que, a algumas centenas de metros de onde estamos, há uma igreja mariavita, co-fundada por Madre Franciszka Kozłowska. No final do Século 19 d.C., ela teve revelações sobre a Divina Misericórdia, mas, infelizmente, ela não fez jus à tarefa de Deus.” (Dra. Ewa K. Czaczkowska, em entrevista para o site da Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Misericórdia — Plock-PL — LINK)
Isso é uma afronta à Santa Igreja de Cristo e, especificamente, ao Papa São Pio X, o qual subscreveu a condenação de tal seita e devoção dela advinda. Defende Ewa que o erro de Feliska foi não ter cumprido as tarefas impostas por Cristo, nas tais “aparições”, denotando que as tais falsas “revelações privadas” foram legítimas.
E, para completar o grave equívoco, a Dr. Ewa diz que Jesus aparece à Freira Helena Kowalska (também chamada de Irmã Faustina Kowalska) e, dessa vez, consegue a fidelidade da “vidente agraciada”, a qual leva a cabo Sua “obra de misericórdia”, que a antecessora não conseguira estabelecer.
Novamente, denota-se crer terem sido reais as falsas “revelações particulares” à Irmã Maria Francisca, criadora da seita mariavita, bem como demonstra-se acreditar que seu erro foi não ter sido obediente a Jesus e se mantido sob à luz dos Dogmas da Fé, o que, segundo ela, fez com que Cristo aparecesse à outra Freira, a Irmã Faustina.
Lembre-se: a seita mariavita foi desacreditada e condenada pela Santa Igreja Católica, inclusive sob o registro da pena de um Papa santo: São Pio X. Pouco tempo depois, no reinado de Pio XII, a devoção criada pela Irmã Faustina (escritos, imagens, e afins) fora desacreditada e condenada, bem como suas publicações, com os escritos inseridos no índice de livros proibidos pela Santa Igreja — tudo isso mantido pelo Papa João XXIII, seu sucessor.
Eis, aí, muitos fatos densíssimos e correlacionados, harmônicos, encaixados, amarrados uns aos outros, sem pontas soltas, sem deixar qualquer mínima dúvida acerca da problemática de ambas devoções, a mariavita e a da Irmã Faustina, sobretudo devido aos equívocos teológicos nas ações, escritos e ensinamentos advindos desses movimentos.
Os adeptos da dita devoção a defendem com argumentos alicerçados nas resoluções do Papa Paulo VI, que beatificou a Irmã Faustina; e com base nas ações de seu sucessor, João Paulo II, o qual a canonizou. Ou seja, o Concílio Vaticano II aboliu o “Index Librorum Prohibitorum” (“Índice de Livros Proibidos”), o Sumo Pontífice Paulo VI permitiu a devoção constituída pela referida Freira, a beatificou, e, em seguida, o Papa que lhe substituiu a tornou “santa”, assim como os Papa adeptos do CVII tornaram “santos” tantos que, em sua vida, não espelharam a ortodoxia, como, por exemplo, o Pontífice João XXIII, o Papa João Paulo II, etc.
São esses alguns dos frutos do Concílio Vaticano II, o maior golpe contra a Santa Igreja em toda a Sua história — fato corroborado pelo próprio Papa Paulo VI, o qual afirmara: “(...) diríamos que, por alguma fresta misteriosa — não, não é misteriosa; por alguma fresta, a fumaça de Satanás entrou no Templo de Deus...”, em uníssono ao Cardeal Suenens, ao asseverar que ”o Vaticano II é o 1789 na Igreja”.
Santo é todo aquele que derrama seu sangue em favor da Fé, por amor ao Deus Trino e em Seu nome, para salvar a vida de uma ovelha Sua ou mesmo em defesa de Sua Santa Igreja. Eis o mártir. E Santo é, outrossim, aquele que fez de sua vida um exemplo de ortodoxia quanto à Fé e Sua respectiva Sã Doutrina. Quem dista dessas duas opções não pode ser Santo, e isso é o que ensina a Santa Tradição de mais de dois mil anos.
Pode ser Santo o Papa João XXIII, que quis receber (e assim se deu) o barrete de Cardeal das mãos de um socialista ateu, Vincent Auriol (presidente da França); que tinha estreitas relações com maçons (por exemplo: Yves Marsaudon, a quem esse Papa nomeou como chefe da divisão francesa dos Cavaleiros de Malta, uma ordem laica católica); que idealizou, arquitetou e abriu o modernista e liberal Concílio Vaticano II; que, em seu papado, promoveu o ecumenismo interreligioso? O Papa Francisco acha que sim. E o canonizou.
Pode ser Santo um Papa João Paulo II, que visitou templo budista; que beijou o alcorão; que realizou um encontro ecumênico inter-religioso dentro da Basílica de Nossa Senhora, em Assis-IT; que celebrou e proliferou a “Novus Ordo Missae” (“Nova Missa”)? O Papa Francisco acha que sim. E o canonizou.
Em tempo: é importante mencionar que, além de canonizar a Irmã Faustina Kowalska, o Pontífice João Paulo II beatificou o Pe. Honorat Kosminski, o qual fora confessor da Irmã Maria Francisca, criadora da seita mariavita. Ela era Freira de uma Congregação criada por esse Sacerdote e confessava-se com ele, que fundou diversas “Congregações Habituais e Não-Habituais” (com uso de hábito e sem uso de hábito, ou seja, um Padre liberal). Isto prova a inclinação modernista desse Sacerdote, infelizmente. Tanto que, em 1907 d.C., fora afastado de suas atividades de gerenciamento dessas tais “Congregações”, pelos seus superiores, os Bispos poloneses. O motivo foi seu envolvimento com a seita mariavita.
Os sites oficiais mariavitas, ao contarem a história dessa seita, sempre citam que ela adveio das atividades do Padre Honorat Kosminski. Um deles diz, inclusive, que o Pe. Kosminski apoiou o movimento mariavita, embora tivesse reservas quanto à regra escolhida. Destarte, é indubitável sua relação com essa falsa e condenada devoção. E o Bispado polonês assim entendera, punindo tal Clérigo com a interrupção de suas atividades junto as instituições que criara.
† † †
No ano de 2021, fiz contato, por meio de uma rede social, com a Dra. Ewa K. Czaczkowska, biógrafa da Irmã Faustina Kowalska e do Papa João Paulo II. De pronto, respondeu gentilemente as indagações recebidas, acerca da Irmã Faustina e dos mariavitas, bem como sobre a proibição das devoções, etc.
Novamente, demonstrou crer que houve aparições de Jesus, na Polônia, à Irmã Maria Francisca, criadora do mariavitismo, e à Irmã Faustina, cujas devoções e escritos foram condenados pela Santa Igreja — até o Concílio Vaticano II permitir o culto à Divina Misericórdia, aos moldes da Freira Faustina Kowalska, e liberar seus escritos (inseridos, inclusive, no Índice de Livros Proibidos pela Santa Igreja [o qual fora abolido por esse mesmo concílio]).
“Faustina nunca esteve na comunidade mariavita. Faustina provavelmente sabia da existência dos mariavitas. O Convento de Faustina estava situado a poucas centenas de metros da igreja mariavita, em Płock-PL. A igreja mariavita experimentou o maior desenvolvimento nos tempos de Madre Kozłowska, quando a congregação mariavita feminina tinha várias centenas de pessoas. No que diz respeito às revelações — quanto à própria ideia da Divina Misericórdia, há uma semelhança em ambas aparições (Madre Kozłowska e Irmã Faustina). Há diferenças no culto, e a maior diferença entre Faustina e Kozłowska é na obediência aos Superiores. Madre Kozłowska estava proliferando o que era inconsistente com o ensinamento da Igreja Católica, mas você sabe disso. (...) Em abril de 1978 d.C., a Congregação para a Doutrina da Fé, o antigo Santo Ofício, suspendeu a proibição! Faustina é abençoada e Santa e todos os anos milhões de pessoas vêm a Łagiewniki-PL, à imagem de Jesus Misericordioso e ao túmulo de Faustina. O culto está vivo, vivo! Este é o melhor teste da veracidade das aparições. Por que houve uma proibição? Faustina sabia demais para escrever, e sabia que seria banida em seu Diário, e que também seria Santa. O Mariavitismo, por outro lado, está fora da Igreja Católica. (...) A declaração do Santo Ofício, em março de 1959 d.C., foi feita de forma muito descuidada, em relação à primeira decisão, no outono de 1958 d.C.. Há uma diferença considerável entre o conteúdo do primeiro banimento e o que foi anunciado no segundo banimento.” (Dra. Ewa K. Czaczkowska, em maio de 2021 d.C.)
Rezo para que a Dra. Ewa abandone o modernismo que tanto assola a Santa Igreja e volte sua alma à Santa Tradição, à Santa Missa Tridentina, à Sã Doutrina, bem como oro para que os religiosos de todos os estados de vida consagrados também o façam, pois, mais do que nunca, o mundo precisa de Padres Santos, Freiras Santas, Monges Santos, leigos Santos.
Observe-se o “Movimento Litúrgico”, ao final do Século XIX e início do Século XX, o qual culminou no Concílio Vaticano II. Analise-se os Sacerdotes, Bispos e Papas que aderiram e aderem a ele e a todos os seus ataques ao Direito Canônico, ao Catecismo da Santa Igreja, à Santa Liturgia (com a criação da “Nova Missa”), à Santa Tradição, a perseguição à Santa Missa Tridentina, etc. Compare-os com Sacerdotes como São Paulo, São Pedro, Santo Inácio de Antioquia, Santo Atanásio de Alexandria, São Luis Maria Grignion de Montfort, São Bernardo, São Leonardo de Porto Maurício, São João Bosco, São Francisco de Sales, Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier, São Pio V, São Pio X... Se verá que são vidas eclesiásticas totalmente opostas. Então, se perceberá o que é, de fato, imitar a Cristo, o que é ser, verdadeiramente, cristão e Santo.
Um exemplo:
“Queridos amigos! Sinto-me muito feliz por ter a oportunidade de vos saudar durante estes dias do vosso encontro, aqui em Roma. Estais agora na terceira fase do Diálogo Internacional entre a Aliança Mundial das Igrejas Reformadas e a Igreja Católica, que se iniciou pouco depois do Concílio Vaticano II e que já deu resultados significativos. No âmbito do movimento ecumênico, o diálogo teológico é a melhor modalidade para enfrentar juntos as questões sobre as quais os cristãos estiveram divididos e para edificar a unidade à qual Cristo chama os Seus discípulos. Nesse diálogo esclarecemos as nossas respectivas posições e examinamos os motivos das nossas diferenças. O nosso diálogo torna-se então um exame de consciência, uma chamada à conversão, na qual as duas partes examinam perante Deus a própria responsabilidade em fazer o possível por esquecer os conflitos do passado. Então, o espírito inspira-nos o desejo de confessar juntos que há ‘um só corpo e um só Espírito... um só Senhor, uma só Fé, um só Batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, que age por meio de todos e está presente em todos’ e sentimos isto um dever, algo que deve ser feito para que ‘o mundo creia’. (Jn 17,21). Por este motivo o empenho da Igreja católica no diálogo ecuménico é irrevogável.” (Trecho do discurso do Papa João Paulo II à Comissão Mista Internacional de Diálogo Entre a "Aliança Mundial das Igrejas Reformadas" e a Igreja Católica, a 18 de Setembro de 2000 d.C..)
O Papa, lamentavelmente, apoia o “diálogo teológico”. Ora! Com herege não se dialoga; se ensina a verdade e se exorta à conversão e submissão à genuína Fé; porquanto a verdade é impassível de se relativizar, de se flexibilizar, de se fragmentar, de modo que não existe meia verdade. Ou é ou não é.
E Deus não está “presente em todos”, como afirmado pelo Pontífice. Isso quem defende é a gnose e o panteísmo, entre outras seitas. O Espírito Santo vive em quem é batizado e está em estado de graça. Basta um único pecado mortal para retirá-Lo da alma, pois os erros graves sujam a alma e Ele só reside na limpidez e não co-habita com o mal.
E o que fazem os revolucionários protestantes senão pecar mortalmente, ao negarem a Sacratíssima Eucaristia, o Sacramento da Reconciliação (Confissão + Penitência), o Papado, a veneração à Nossa Senhora, ao profanarem com adulteração as Sagradas Escrituras, etc.?
Como afirmar que o Paráclito habita em todos se são pouquíssimos os que se mantêm em estado de graça?
A Santa Igreja nos ensina, há mais de dois milênios, o oposto do que subscreveu o Papa João Paulo II no supracitado discurso.
O catolicismo não dialogou com o paganismo, com o politeísmo, com o nestorianismo, com o marcionismo, com o arianismo, com o catarismo, com o luteranismo... Ao contrário, condenou e combateu.
"Estai alerta sobre vós, para que não percais o fruto de vossos trabalhos, mas recebais uma plena recompensa. Todo o que se aparta e não permanece na Doutrina de Cristo não tem Deus; o que permanece na Doutrina, este tem o Pai e o Filho. Se alguém vem a vós e não traz esta Doutrina, não o recebais em vossa casa nem o saudeis, porque quem o saúda participa (em certo modo) das suas obras más." (2Jo 1,8-11)
“Eu te conjuro, diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de vir julgar os vivos e os mortos, pela Sua aparição e por Seu reino: proclama a palavra, insiste, no tempo oportuno e no inoportuno, refuta, ameaça, exorta com toda paciência e doutrina. Pois virá um tempo em que alguns não suportarão a Sã Doutrina; pelo contrário, segundo os seus próprios desejos, como que sentindo comichão nos ouvidos, se rodearão de mestres. Desviarão os seus ouvidos da verdade, orientando-os para as fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em tudo, suporta o sofrimento, faze o trabalho de um evangelista, realiza plenamente o teu ministério. Quanto a mim, já fui oferecido em libação, e chegou o tempo de minha partida. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a Fé.” (2Tm 4,1-7)
“(...) Com efeito, aquele que guarda toda a Lei, mas desobedece a um só ponto, torna-se culpado da transgressão da Lei inteira... (...) Meus irmãos, se alguém disser que tem fé, mas não tem obras, que lhe aproveitará isso? Acaso a fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã não tiverem o que vestir e lhes faltar o necessário para a subsistência de cada dia e alguém dentre vós lhes disser: "ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos", e não lhes der o necessário para a sua manutenção, que proveito haverá nisso? Assim também a fé, se não tiver obras, está morta em seu isolamento. De fato, alguém poderá objetar-lhe: "tu tens fé e eu tenho obras”. Mostra-me a tua fé sem obras e eu te mostrarei a fé pelas minhas obras. Tu crês que há um só Deus? Ótimo! Lembra-te, porém, que também os demônios crêem, mas estremecem. Queres, porém, ó, homem insensato, a prova de que a fé sem as obras é vã? Não foi pelas obras que o nosso pai Abraão foi justificado ao oferecer o seu filho Isaac sobre o altar? Já vês que a fé concorreu para as suas obras e que pelas obras é que a fé se realizou plenamente. E assim se cumpriu a Escritura que diz: Abraão creu em Deus e isto lhe foi imputado como justiça e ele foi chamado amigo de Deus. Estais vendo que o homem é justificado pelas obras e não simplesmente pela fé. Da mesma maneira, também Raab, a meretriz, não foi ela justificada pelas obras, quando acolheu os mensageiros e os fez voltar por outro caminho? Com efeito, como o corpo sem o sopro da vida é morto, assim também é morta a fé sem obras.” (Tg 2)
Por fim, é importante lembrar que o Papa João Paulo II, supramencionado, é o mesmo que canonizou a Irmã Faustina e fez Cardeal Walter Kasper, um Sacerdote modernista e de ideias heréticas.
Eis o que relata, acerca de Vossa Eminência Cardeal Kasper, o brilhante Sr. Professor Doutor Orlando Fedeli, em resposta a uma missiva recebida de um seu consulente.
OBS.: quanto ao portento Prof. Fedeli, concordamos no fundamental, mas discordamos em alguns pontuais acidentes. O trecho de uma carta sua, logo abaixo, é exemplo de uma dessas discordâncias com o nobre magistrado. Na missiva ele expõe com maestria os erros doutrinais do heterodoxo Pe. Kasper, mas, lamentavelmente, minimiza o erro do Sumo Pontífice João Paulo II ao conceder a esse mal Sacerdote o barrete episcopal. Alega ele que o Papa o fizera por pressão do Clero alemão. Ora! Trata-se do sucessor de São Pedro, máxima autoridade católica na Terra, Ministro de Cristo e chefe de Sua Santa Igreja. Deve agir, portanto, segundo a Fé, consoante à Santa Tradição e de acordo com seu estado, que exige incorrupta ortodoxia. O Papa é o primaz guardião da Sã Doutrina e detentor das chaves do Reino dos Céus (Mt 16,19). Nada deve ser impedimento para agir segundo a Lei de Deus, devendo protegê-La, inclusive, com o próprio sangue, se preciso for. O catolicismo é a Religião da Cruz, da perseguição, do combate, da pressão. Se Cristo, que é Deus, passou por tudo isso, por que Sua Sacrossanta Igreja, que é Seu Corpo Místico, não há de passar?! Há de se andar com a cruz às costas pelo Vale de Lágrimas antes do triunfo da Ressurreição. Não há como ser católico e não submeter-se a tal conjuntura, sobretudo um Clérigo. E o próprio Jesus é quem o diz: "o que não toma a sua cruz e não Me segue não é digno de Mim." (Mt 10,38) "Se alguém quiser vir Comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-Me." (Mt 16,24) Portanto, o Pontífice Wojtyla, que fez o Pe. Kasper Bispo (1989 d.C.) e depois Cardeal (2001 d.C.), sabia o que estava fazendo e tinha total poder para não fazê-lo, mas o fez e elevou ao grau cardinalício um religioso empedernidamente heterodoxo e merecedor de muitíssimas ressalvas.
"Muito prezado seu Xisto, Salve Maria!
Agradeço-lhe o seu desafio. Ele me dá a oportunidade de demonstrar qual é realmente o pensamento do Cardeal Kasper.
Por hoje, limitar-me-ei a transcrever algumas páginas dele, para atender o seu pedido-desafio tão oportuno. Farei, é claro, alguns comentários. Posteriormente, farei um trabalho criticando mais a fundo esse teólogo modernista, que, infelizmente, é hoje Cardeal.
O senhor verá, pelos textos dele, que fica realmente atônito quem lê as teses heréticas do livro 'Jésus le Christ', Éditions du Cerf, Paris, 1976.
Aí vão alguns textos como "aperitivo"... pois lhe prometo muitos outros.
Sente-se, porque agora é que haverá motivo para ficar, de fato, atônito, seu Xisto.
Em primeiro lugar, é preciso destacar que, hoje, Cardeal Walter Kasper considera que os Evangelhos não são livros históricos.
Leia o que ele escreveu: 'os Evangelhos não são testemunhos históricos, no sentido moderno dessa palavra, mesmo se, no detalhe, eles contêm um abundante material histórico autêntico; na realidade, eles são testemunhos da fé. É o Credo cristológico da Igreja primitiva que nós recebemos nos escritos do Novo Testamento. Jesus de Nazaré não nos é, pois, acessível senão por intermédio da fé das primeiras comunidades cristãs." (Walter Kasper, Jésus le Christ, Éditions du Cerf, 1976, págs. 33-34. A edição original é Matthias-Grünewald Verlag, mayence, 1974).
[Dou-lhe, também, o mesmo texto, em francês, porque, provavelmente, o senhor me julga tão desonesto que poderia falsificar a tradução do livro de Kasper: "les Évangiles ne sont pas des témoignages historiques au sens moderne de ce mot, même si dans le détail ils contiennent un abondant matériel historique authentique; ils sont en réalité des témoiganges de foi. C"est le Credo christologique de l "Église primitive que nous rencontrons dans les écrits du Nouveau Testament. Jésus de Nazareth ne nous est donc accessible que par l"intermédiaire de la foi des premières communautés chrétiennes."]
Está contente, desconfiado seu Xisto?
Desse texto se deduzem as seguintes teses de Kasper:
Primeira tese de Kasper: os Evangelhos não são livros históricos, no sentido moderno do termo histórico.
Segunda tese: os Evangelhos contêm apenas a fé das comunidades cristãs primitivas, e não propriamente fatos históricos.
Deduzi honestamente, meu caro seu Xisto?
Como, em geral, no Brasil, poucos conhecem a Doutrina Católica e a História da Igreja, permita-me lembrar que essas teses de Kasper são próprias da heresia modenista, e que foram condenadas pela Igreja. Elas foram defendidas por Alfred Loisy, em seu livro "L'Évangile et L'Église", condenado por São Pio X.
O senhor continua atônito? Pois ficará mais atônito ainda com os parágrafos seguintes.
A distinção entre um Cristo histórico e um Cristo da fé foi condenada por São Pio X, no Decreto Lamentabili — que continua em vigor — e na Encíclica Pascendi, que condenou as heresias do modernismo.
'Erro 29 — É lícito conceder que o Cristo que apresenta a História é muito inferior ao Cristo que é o objeto da Fé.' (São Pio X, Decreto Lamentabili, 1907, Denzinger, 2046.)
Está aí, provadinho: o Cardeal Walter Kasper defende o princípio modernista de Loisy, condenado por São Pio X.
E, deste erro fundamental, advirão todos os demais erros modernistas de Kasper.
Para que lhe fique bem claro que não estou inventando nada — e nem caluniando ninguém — dou-lhe o texto da Encíclica Pascendi do mesmo São Pio X, condenando a distinção entre o Jesus histórico e o Cristo da Fé.
'Na pessoa de Cristo, dizem [os modernistas], a Ciência e a História não acham mais do que um homem. Portanto, em virtude do primeiro cânon deduzido do agnosticismo, da história dessa pessoa se deve riscar tudo o que sabe de divino. Ainda mais, por força do segundo cânon, a pessoa histórica de Jesus Cristo foi transfigurada pela fé; logo, convém despojá-la de tudo o que a eleva acima das condições históricas. Finalmente, a mesma foi desfigurada pela fé, em virtude do terceiro cânon; logo, se devem remover dela as falas, as ações, tudo, enfim, que não corresponde ao Seu caráter, condição e educação, lugar e tempo em que viveu." (Pio X, Encíclica Pascendi, 1907, Denzinger, 2.076)
Que tal, seu Xisto?
O Cardeal Kasper já caiu sob a condenação do Decreto Lamentabili e da Encíclica Pascendi, como modernista.
Continua apenas atônito? Ou também com raiva?
Espero que, em vez dessas paixões e sentimentos, tenha brilhado em sua alma um lampejo de compreensão.
Se o Jesus Cristo apresentado pelos Evangelhos é distinto do Jesus Cristo da fé, todos os fatos e doutrinas ensinadas por Ele se tornam contestáveis. Daí a negação dos milagres Dele.
E como ficariam, então, os grandes milagres referentes ao próprio Cristo, como a concepção virginal de Nossa Senhora e a Ressurreição?
É claro que, se os Evangelhos não são documentos históricos, tudo isso fica sem base. E Kasper ou vai colocar esses fatos em dúvida ou vai negá-los. É o que veremos.
Qual a razão do interesse em distinguir o Jesus da História do Cristo da Fé?
Kasper vai confessar qual era esse interesse, por parte de alguns, de modo claro, a ponto de deixar atônito quem o lê: 'o domínio mais importante da teologia bíblica moderna é a pesquisa sobre a vida de Jesus. A. Schweitzer, seu grande historiógrafo, a chama 'a maior façanha da teologia alemã'. Ela representa 'o que a reflexão religiosa jamais ousou ou realizou de mais poderoso'. Entretanto, ela não partiu 'de um interesse puramente histórico, mas ela procura o Jesus da História, como uma ajuda na luta para se libertar do Dogma' (Schweitzer, Geschichte der leben- Jesu- Forschung, Tubingen, 1913, 4), provando que o Jesus da História era um outro que o Cristo da fé eclesial; que Ele não reivindicava para Ele nenhuma autoridade divina; queria-se ver desmoronar a pretensa autoridade da Igreja.' (W. Kasper, op. cit. pág. 37.)
Está a confissão: a teologia moderna — ele deveria ter dito modernista e não simplesmente moderna — 'procura o Jesus da História como uma ajuda na luta para se libertar do Dogma'. É para destruir a Fé que se procurou e se procura uma contradição e não só uma distinção entre o Jesus da História e o Jesus da Fé.
É para ficar atônito, não, seu Xisto?
[E não vou, a partir de agora, dar os textos de Kasper em francês, porque já seria conceder demais à sua desconfiança de minha honestidade].
E note que Kasper diz mais: 'provando que o Jesus da História era um outro que o Cristo da fé eclesial, que ele não reivindicava para Ele nenhuma autoridade divina, queria-se ver desmoronar a pretensa autoridade da Igreja.'
Eis aí um teólogo que ousou escrever que distinguindo o Jesus da História do Jesus da Fé — tal como ele mesmo confessa fazê-lo — o que queria fazer a teologia modernista era 'ver desmoronar a pretensa autoridade da Igreja'.
Ele cita esse intuito criminoso sem condená-lo. E, pior ainda, ele mesmo aceita, como vimos, a distinção entre o Jesus histórico e o Jesus da Fé, tese que já fora condenada por São Pio X como modernista.
E esse homem foi feito Cardeal, em fevereiro deste ano, numa 'segunda época', por imposição do Episcopado alemão, sob ameaça de cisma, porque João Paulo II não o nomeara na primeira leva!
OBS.: aqui, como explicado acima, discordo veementemente do Professor Orlando Fedeli, uma vez que não é admissível eximir um Papa da responsabilidade de suas errôneas ações alegando motivos políticos, o que, se for verdade, só torna ainda mais grave o condenável ato.
E Kasper cita, ainda, outro 'escriba' da 'teologia moderna', dizendo: 'R. Augstein, recentemente, formulou assim essa intenção: 'deve ser demonstrado com que direito as igrejas cristãs se referem a um Jesus que não existiu, a ensinamentos que Ele não deu, a um poder que Ele não conferiu, e a uma filiação divina que Ele mesmo não teve como possível e que Ele não reclamou'. (R. Augstein, Jesus Menschensohn, Gütersloh, 1972, 7.Apud W. Kasper, op. cit., pág. 37.)
Kasper cita tais frases sem condená-las, sem criticá-las mais a fundo, ou mesmo superficialmente. Pior: vai admitir muito, ou quase tudo, do que esses teólogos modernistas alemães — esses novos escribas, inimigos de Cristo — afirmam com descaramento.
Estou atônito, seu Xisto! Estou atônito!
O senhor não está pelo menos simplesmente atônito — mesmo que só com letras minúsculas — agora, meu caro seu Xisto?
Kasper vai dizer que esse dualismo entre o Jesus histórico e o Jesus da Fé produz duas maneiras de chegar a Cristo: pela razão, ou por uma atitude interior, espiritual.
É a velha dicotomia entre racionalistas panteístas e gnósticos irracionalistas.
Veja o que escreveu o Cardeal que o senhor admira: 'este dualismo de métodos repercutiu também sobre a teologia, e lá, com a distinção entre o Jesus histórico e o Cristo da Fé, conduziu a um duplo acesso a Jesus: um histórico e crítico, racional, e o outro interior, mais elevado, intelectual e espiritual, pessoal e existencial, crente. Este dualismo é o destino espiritual no qual nós estamos colocados.' (W. Kasper, op. cit., pág. 40.)
Ao expor a posição da Leben Jesu Forschung (Pesquisa sobre a Vida de Jesus), Kasper afirma que, hoje, ela é tida como uma escola que fracassou.
A primeira causa desse fracasso teria sido porque — diz Kasper — 'A. Schweitzer provou, em sua história da pesquisa sobre a vida de Jesus, que o que havia sido dado como Jesus histórico não era nada mais do que o reflexo das ideias dos autores particulares.' (W. Kasper, op. cit., pág. 40.)
E mais: 'mas, afinal, era forçoso reconhecer: 'o Jesus de Nazaré que apareceu como Messias, que pregou a moral do Reino de Deus, fundou o Reino dos Céus sobre a Terra e morreu para dar a consagração de Suas obras jamais existiu. É um personagem que foi esboçado pelo racionalismo, reanimado pelo liberalismo, e vestido com uma vestimenta histórica pela teologia moderna.' (A. Schweitzer, Geschichte..., 631, citado por W. Kasper, op. cit., pág. 42.)
E Kasper cita tudo isso sem crítica.
A seguir, Kasper trata da posição da Formgeschichte moderna, dizendo: 'esta última mostrou que os Evangelhos não são fontes históricas, no sentido moderno da palavra, mas que eles apresentam testemunhos da fé das comunidades.' (W. Kasper, op. cit., pág. 42.)
Trata ele, depois, da posição da renovação da cristologia dogmática de K. Adam, K. Barth, e Bultmann, e, finalmente, chega aos nossos dias, falando da cristologia de Käsemann, Hans Kung, e outros que defendem a tese de que os Evangelhos teriam mitificado a história de Jesus, e historicizado o mito. (W. Kasper, op. cit. pág. 45.)
Como se vê, esses vários posicionamentos dos teólogos modernistas alemães, variando em filigranas, são constantes na tese central modernista: os Evangelhos não são livros históricos. O Jesus que viveu realmente em Nazaré é diferente Daquele em que se acredita na Igreja.
Tudo isso cita Kasper, sem críticas maiores, como se fossem posições aceitáveis, e aceitando essa tese central do modernismo.
Kasper mostra que, hoje, 'se quer solucionar a questão do Jesus histórico passando não pelo kerygma, mas pelo intermediário do mensageiro cristão primitivo. É impossível, segundo Käsemann, fazer uma separação radical entre a interpretação e a tradição. Não se trata, pois, de um retorno para trás do kerygma, ou mesmo de uma redução do Evangelho ao Jesus histórico. Essa tentativa racionalista se verificou ser ilusória. A Ciência Histórica, portanto, não pode servir também à legitimação do kerygma. A História serve, entretanto, como critério do kerygma e da fé. Não se trata de fundamentar a fé historicamente. Trata-se de separar, de modo crítico, a verdadeira mensagem da falsa mensagem.' (Käsemann citado por Kasper, op. cit., pág. 46.)
A nova solução da cristologia 'compreende o Jesus histórico à luz da fé da Igreja e interpreta reciprocamente a fé da Igreja a partir de Jesus. O Dogma Cristológico e a crítica histórica parecem estar de novo reconciliados.' (W. Kasper, op. cit., pág. 47.).
O primeiro pressuposto filosófico dessa nova 'solução' cristológica seria, conforme Kasper, que 'a história a que se refere o kerygma do próprio Novo Testamento, o Jesus terrestre, como Ele era realmente em carne e osso, é uma coisa; o Jesus histórico, que nós deduzimos do kerygma, por meio de um processo complicado de subtração, com a ajuda de nossos métodos históricos modernos, é uma outra coisa.' (W. Kasper, op. cit., pág. 47.)
Um segundo pressuposto, de ordem teológica, depende deste primeiro pressuposto filosófico que citamos, acima. 'Pressupõe-se que a realidade do Jesus é a realidade do Jesus terrestre ou mesmo do Jesus histórico.' (op. cit., pág. 47.)
Isso coloca o problema da ressurreição e leva a distinguir o Jesus terrestre e o Jesus exaltado ou ressuscitado. Diz Kasper: 'apesar disso é impossível fazer do Jesus histórico o objeto total e único determinante da fé em Cristo.' (W. Kasper, Op. cit. pág. 48.)
Daí se partir para uma cristologia de dois graus: uma, a do Jesus terrestre ou da carne; outra, a do Jesus do espírito.' (Op. cit., pág. 48.)
Como conclusão Kasper diz que: 10) 'O ponto de partida e a posição do problema cristológico: a confissão eclesial constitui o ponto de partida';' 20) 'Objeto central da cristologia que se compreende como a interpretação da confissão 'Jesus é o Cristo' é a Cruz e a Ressurreição de Jesus'; 30) 'O problema fundamental de uma cristologia que tem seu centro na Cruz e a Ressurreição consiste no comportamento da cristologia ascendente e de exaltação que aí se formula face à cristologia descendente que se exprime pela ideia de encarnação.' (W. Kasper, Op. cit., pág. 52.)
Eis, em síntese, o que apresenta o capítulo do livro de Walter Kasper, sobre a questão histórica de Jesus Cristo (págs. 31-52.)
Nesse capítulo, Kasper faz o resumo das várias cristologias, a partir do Romantismo. Curioso é que Kasper se cuida bem de citar a posição de Loisy, porque este foi o único a ser condenado por defender a distinção entre o Jesus histórico e o Jesus da fé, distinção que Kasper acaba por aceitar.
(Haveria muito mais a dizer sobre os fundamentos doutrinários modernistas e românticos do Cardeal Kasper, mas deixarei isso para outra ocasião, ao elaborar um trabalho maior sobre o livro dele. Hoje, é só uma carta que lhe escrevo).
Dessa distinção herética entre o Jesus histórico, o Jesus real e o Cristo da Fé decorre a negação dos milagres de Cristo, assumida pelo Cardeal Kasper.
[Quanto aos] milagres de Cristo, o Cardeal Kasper trata desse problema num capítulo de seu livro 'Jésus le Christ' (ed. cit . págs. 127-145.) E diz: 'o exame histórico e crítico da tradição dos milagres conduz inicialmente a um tríplice resultado: 1) A crítica literária constata a tendência de reforçar os milagres e a multiplicá-los.'
E, como exemplo desse duplo exagero literário nos Evangelhos, Kasper cita os milagres referentes à filha de Jairo, curas de cegos, a multiplicação dos pães. E conclui Kasper: 'esta tendência ao desenvolvimento, à multiplicação e ao reforço que se constata existir nos Evangelhos deve, bem entendido, deve ser suposto também para o período que precedeu à composição dos Evangelhos. Assim, a matéria dos relatos dos milagres diminui muito sensivelmente.' (W. Kasper. Op. cit. págs. 128-129.)
Entendeu bem, seu Xisto?
Os Evangelhos, segundo Kasper, exageraram; multiplicaram fatos. Os Eavangelhos não dizem a verdade sobre o que Cristo realmente fez.
O Sr. não está atônito, seu Xisto? Pois eu estou atônito, seu Xisto. Atônito!
E fico também atônito pelo fato de que o Sr., seu Xisto, não fica atônito a não ser comigo, pelo que eu digo, e fica frio e compreensivo com o que escreveu Kasper. Porque é certo que o Sr. leu Kasper.
Como o Sr., seu Xisto, não ficou atônito com ele? O que é preciso para deixá-lo atônito? Só a crítica a um Cardeal e não a crítica de um Cardeal aos Evangelhos?
Mas, se os Evangelhos não são históricos, seu Xisto, o título de Cardeal também não vale nada, pois toda a Igreja estaria baseada numa mentira histórica.
Mas prossegue o Cardeal Kasper: '2) Uma segunda redução [dos Evangelhos] resulta da comparação com as histórias de milagres rabínicos e helenísticos. Os relatos de milagres do Novo Testamento são construídos por analogia e com a ajuda de motivos que conhecemos também pelo resto da antiguidade. Há também histórias de milagres rabínicos e helenísticos concernentes a curas, expulsões de demônios, ressurreições, tempestades acalmadas, etc. Encontram-se numerosos paralelos entre o contemporâneo de Jesus, Apolônio de Tyana. Muitas curas são principalmente atestadas também no santuário de Asclépios, no Epidauro...'
Daí, concluir o texto de Kasper, nesse ponto: 'mas, em face dos paralelos dos quais não se pode negar a existência, é difícil pensar recusar todos os relatos de milagres judaicos e helenísticos, vendo neles simples falsificações da História e aceitar, ao contrário, sem discernimento, como históricos os relatos do Novo Testamento.' (W. Kasper, op. cit., pág. 129)
Portanto, para Kasper, os Evangelhos têm o mesmo valor histórico que os relatos rabínicos ou pagãos. A palavra de Cristo, para ele, vale tanto quanto a palavra de um rabino.
Se ele estivesse vivo, no tempo de Cristo, ele ficaria neutro quando os escribas [atacassem] Cristo. Ou diria, com os rabinos fariseus, que o milagre de Cristo podia ter sido realizado com a ajuda do diabo.
Como é piedoso esse Cardeal, não é, seu Xisto?
3) 'Conforme a História das formas [Formengeschichte], muitas histórias de milagres são projeções retrospectivas, experiências pascais na vida terrestre de Jesus, ou representações antecipadas do Cristo glorificado. Por exemplo, o milagre da tempestade acalmada, a cena da transfiguração, o andar sobre as águas, a distribuição dos 4.000 ou 5.000 pães e [a] pesca milagrosa de Pedro são histórias epifânicas desse tipo. Com muito maior razão, histórias como a ressurreição da filha de Jairo, a do jovem de Naim e a de Lázaro não têm outro fim senão o de mostrar em Jesus o senhor da vida e da morte. Assim, os milagres se referindo à natureza, são muito especialmente um acréscimo secundário, com relação à tradição original.' (W. Kasper, op. cit., págs. 129-130.)
Continua, o senhor, atônito?
Até aqui o relato, sem crítica, feito por Kasper.
Agora — meu atônito Xisto — o comentário do novo Cardeal, imposto ao Papa:
OBS.: aqui, novamente, o Professor Orlando Fedeli assevera sua crença na inculpabilidade do Sumo Pontífice João Paulo II, no tocante ao título cardinalício dado por ele ao modernista e heterodoxo Pe. Walter Kasper, como se tivesse sido o Papa "obrigado" a fazê-lo. Um sucessor de São Pedro deve preferir ser martirizado a ofender a Deus e propagar falsa doutrina ou endossar quem o faça, pois isso põe, seriamente, em risco a salvação das almas das ovelhas do redil do Bom Pastor. "Pois em verdade vos digo: passará o Céu e a Terra antes que desapareça um iota (menor letra do alfabeto hebraico), um traço da Lei. Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar, assim, aos Homens, será declarado o menor no Reino dos Céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos Céus. Digo-vos, pois: se vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos Céus.” (Mt 5,18-20)
'Resulta de tudo isso que nos é preciso qualificar como lendárias muitas histórias de milagres contidas nos Evangelhos.' (Walter Kasper, op. cit., pág. 130.)
Que tal? Será esse um comentário digno de um autor que merece ser elevado ao Cardinalato? O senhor se espanta, prezado seu Xisto, que critique eu um Cardeal que ousa criticar o Evangelho?
Criticar só o Evangelho não. Negar o Evangelho (W. Kasper, op. cit. pág. 129.)
E mais. Se Kasper nega que os milagres foram fatos históricos, ele afirma que, apesar de serem como 'historinhas' para adormecer criancinhas, essas lendas têm valor 'teológico', 'kerygmático' e que são 'afirmações da Fé': 'provando que certos milagres não podem ser atribuídos ao Jesus terrestre — [Jesus terrestre? Que é isso?] — não se quer, entretanto, dizer que eles não tenham nenhum significado teológico e kerygmático. Esses relatos não-históricos são afirmações da fé sobre o significado da salvação da pessoa e da mensagem de Jesus.' (W. Kasper, op. cit., pág. 130.)
Que bom, não, seu Xisto?! Os milagres de Cristo são lendas, mas com valor 'kerymático'... E, diante de um adjetivo grego — 'kerygmático' —, quantos tolos se deixam embair. E, de boca aberta, dizem: 'Kasper reconhece o valor 'kerygmático' das lendas evangélicas. Só o condenam os que não compreendem o Kerygma'.
Mas, dir-me-á o senhor, seu Xisto, tentando provar minha má fé, que, logo em seguida, Kasper escreve: 'seria, entretanto, falso concluir desta tese que não há absolutamente nenhum milagre de Jesus que seja historicamente garantido. É o contrário que é verdade. Não há nenhum exegeta sério que não admita uma base de milagres historicamente certos de Jesus.' (W. Kasper, op. cit., pág. 130.)
Estou sendo honesto e leal, seu Xisto?
Se Kasper faz essa afirmação, reconhecendo que houve, de fato, alguns milagres historicamente comprovados de Cristo, restringindo e até contradizendo a tese que havia afirmado antes, é preciso — para continuar a ser leal, explicar algo mais.
Quais são os milagres de Cristo que ele julga, realmente, historicamente comprovados? Kasper não os enumera nem cita nenhum. E, depois, afirma: 'segue-se que, mesmo depois de um exame histórico crítico da tradição dos milagres nos Evangelhos, não se pode contestar a presença de um núcleo histórico na tradição dos milagres. Jesus realizou fatos extraordinários que deixavam seus contemporâneos espantados. É preciso contar entre esses fatos a cura de certas doenças e dos sintomas nos quais se via, então, sinais de possessão. Em compensação, é permitido considerar, com alguma verossimilhança, como não-históricos os milagres relacionados com a natureza.' (W. Kasper, op. cit., pág. 131).
Se, na página anterior, Kasper admitira que havia alguns fatos milagrosos feitos por Jesus, nesta página seguinte tais milagres são apenas fatos espantosos de cura, ou de eliminação de supostos sinais de possessão, mas os milagres relativos à natureza não seriam verossimilmente históricos.
Lá se foi a restrição à negativa dos milagres. Kasper não acredita mesmo que Cristo tenha feito milagres.
Por isso, logo a seguir, ele afirma, junto com os escribas e fariseus hipócritas que atribuíam os milagres de Cristo à ajuda do diabo [prepare-se para ficar atônito, ó, Sr. Xisto atonístico]: 'já durante a vida de Jesus se discutia manifestamente sobre o significado de Seus atos de poder. Enquanto alguns os entendiam como sinais da ação de Deus, os adversários de Jesus os interpretavam como ilusões demoníacas, como enganações e charlatanice (cfr. Mc. III, 22-30 par.).' (W. Kasper, op. cit., pág. 131).
E Kasper se enfileira, então, com os adversários de Jesus, dando valor a seu argumento negador dos milagres de Cristo.
Mas, como era costume dos modernistas, logo Kasper faz uma leve restrição à sua blasfêmia, embora negando de novo os milagres de Jesus: 'hoje, tenta-se 'explicar' as curas de febre, de paralisia, de lepra (como se chamavam, então, certas doenças de pele), de modo 'psicógeno', e se propõe, portanto, compreender os milagres de Jesus como uma 'terapêutica de dominação'. (Op. cit., pág. 131.)
'Psicogenia', terapêutica de dominação... são expressões para negar com palavras e expressões pedantes que Cristo fez, de fato, milagres.
Que Kasper não crê nos milagres de Cristo fica patente quando se lê a continuação de seu capítulo sobre esse tema.
Kasper cita uma definição de milagre: 'tradicionalmente, se compreende o milagre como um acontecimento perceptível, que ultrapassa as possibilidades naturais, causado pela onipotência de Deus, transgredindo — ou, ao menos, contornando — as causalidades naturais, e que serve, assim, de confirmação da revelação oral.' (op. cit., pág. 132)
E depois dessa conceituação tradicional de milagre, Kasper afirma rotundamente: 'olhando essa definição de mais perto se vê, entretanto, que essa noção de milagre é uma fórmula vazia.' (W. Kasper. op. cit., pág. 132.)
E, para provar o 'vazio' da noção tradicional de milagre, Kasper argumenta que: 'do ponto de vista teológico — [modernista, é claro] —, igualmente há lugar para levantar fortes reservas com relação e essa concepção do milagre. Deus não pode jamais ser colocado no lugar de uma causalidade interior ao mundo. Se Ele estivesse no mesmo plano que as causas interiores ao mundo, Ele não seria mais Deus, mas um ídolo. Se Deus deve permanecer Deus, Seus milagres devem também ser concebidos como produzidos por intermédio das causas segundas criadas.' (W. Kasper, op. cit., pág. 133.)
E como 'teólogo modernista', que dá mais importância à opinião dos teólogos modernos do que à palavra de Deus, à tradição da Igreja e ao texto dos Evangelhos, esse teólogo, que é, hoje, Cardeal, diz: 'dificuldades desse gênero conduziram os teólogos — [os teólogos!] — a abandonar mais ou menos a noção de milagre de inspiração apologética e a se lembrar do sentido original de milagre.' (W. Kasper, op. cit., pág. 133.)
Kasper confessa que, como teólogo, abandonou a noção tradicional de milagre.
Quer mais uma confissão do naturalismo desse Cardeal 'teólogo', que prefere a argumentação dos escribas à palavra de Cristo e dos Evangelhos, seu Xisto? Pois escute lá: 'no plano do método, as ciências partem do princípio do determinismo universal. O que não acontece senão uma vez, o que é particular e extraordinário, é igualmente submetido, por princípio, a esse postulado. No nível puramente científico, não se pode, portanto, detectar nenhum espaço livre para um milagre, no sentido de um acontecimento interior ao mundo, que não seja causado e que, portanto, não possa, em princípio, ser definido. (...) Não é possível descobrir o milagre no excesso de determinação do individual, em face do geral.' (W.Kasper, Op. cit., pág. 135)
'No interior do domínio científico não se pode responder nem de modo positivo, nem de modo negativo à questão do milagre.' (W. Kasper, Op. cit., pág. 136.)
Concluindo seu estudo do milagre, diz Kasper: '1) No plano fenomenal, pertence ao milagre o aspecto extraordinário que faz sensação e provoca o espanto. Mas, em si, isto é ambíguo e não adquire sua significação clara, senão pela pregação que o acompanha e que é aceita na fé. (...); 2) No plano religioso, explicado pela palavra, pertence ao milagre o fato de que ele tem sua fonte numa iniciativa pessoal de Deus. A particularidade do milagre está, portanto, no nível da interpelação e da reivindicação pessoais de Deus, de uma interpelação e de uma reivindicação cujo poder se manifesta pelo fato que elas tomam corpo sob forma de sinal; 3) Esta encarnação é sempre realizada historicamente, por meio de causas segundas criadas. Uma intervenção pessoal divina, no sentido de uma ação de Deus diretamente visível, é um non sense teológico.' (W. Kasper, Op. cit., pág. 139.)
É de cair de costas, não é, seu Xisto? Como o senhor não caiu de costas diante dessa afirmação absurda de que o milagre, como intervenção de Deus, é um non sense teológico?
Non sense é um Bispo escrever tal absurdo.
Estava com vontade de parar, mas encontrei mais uma 'pérola'... podre, no livro desse Cardeal: 'porque não se pode provar que esses acontecimentos notáveis, que fazem colocar questões, sejam milagres, no sentido teológico, isto é, atos de Deus (...) É porque os milagres não podem jamais ser uma prova evidente para a fé.' (W. Kasper, op. cit., pág. 142.)
A Ressurreição de Jesus, segundo o novo Evangelho modernista de Walter Kasper.
Infelizmente, resta tratar da questão da Ressurreição, milagre supremo de Cristo.
É lógico que, negando a historicidade e o fatos do milagre, Kasper deve negar também a Ressurreição de Cristo como fato histórico miraculoso.
Em primeiro lugar, o atual Cardeal Kasper faz notar que os Evangelhos apresentam testemunhos contraditórios sobre a Ressurreição. Ora, onde as testemunhas se contradizem há mentira.
'As aparições da tradição kerygmática, nas quais Pedro é nomeado em primeiro lugar, e as aparições dos relatos de Páscoa, nas quais os personagens totalmente diferentes, inclusive mulheres, desempenham um papel importante, não concordam umas com as outras.' (W. Kasper. op. cit., pág. 189.)
Portanto, os relatos das aparições de Cristo ressuscitado, que estão nos Evangelhos, seriam falsos.
E, então, Kasper se pergunta: 'estamos nós em presença de relatos históricos, ao menos de relatos contendo um núcleo histórico, ou se trata de lendas que exprimem a fé pascoal sob forma de relatos?' (W Kasper, op. cit., pág. 190.)
A pergunta já é um escândalo.
Se um ateu a tivesse feito, se protestaria. Como é um Cardeal que a faz , se tolera essa aberração.
Kasper analisa o problema deste modo: '1) Há discordâncias fundamentais entre os relatos dos quatro evangelistas (...); 2) O relato mais antigo, do qual os outros dependem, se acha em Mc 16,1-8. (...) Resulta dele que, pelo menos em sua forma atual, esse texto não tem em sua base um relato histórico. A introdução comporta já uma certa inverossimilhança. O desejo de ungir o corpo de um morto já há três dias, envolto em panos, não se apoia em nenhum costume recebido, e está em oposição com as condições climáticas da Palestina. Essas mulheres, tendo somente em caminho a ideia de que terão necessidade de uma ajuda para afastar a pedra para chegar assim ao túmulo, essas mulheres manifestam uma despreocupação dificilmente admissível. É-nos preciso, pois, admitir que não temos, aqui, traços históricos, mas procedimentos de estilo destinados a despertar a atenção e a produzir um efeito de suspense. Tudo é manifestamente construído de modo muito hábil para conduzir a solução dada pelo anjo: 'Ele ressuscitou; Ele não está aqui. Vede o lugar onde o havíeis colocado (Mc 16,6) (...); 3) (...) O relato se enriquece cada vez mais de traços lendários. (...) O ponto que é sublinhado, inicialmente, não é que o túmulo está vazio: é a Ressurreição que é anunciada e o túmulo é mostrado em seguida, como sinal desta fé. Resulta disso que este antigo elemento da tradição não é um relato histórico da descoberta do túmulo vazio, mas um testemunho de fé (...); 4) Se verifica o que pode ser verificado, é-se , a meu ver, constrangido a admitir a realidade do túmulo vazio e de sua rápida descoberta. Muitos indícios são em seu favor, e nenhum indício preciso e decisivo se opõe a isso; isso é, pois, provavelmente, uma realidade histórica (...).'
E, daí, conclui Kasper: 'esta constatação da existência de um núcleo histórico nos relatos concernentes ao túmulo vazio não implica, de modo algum, uma prova a favor da Ressurreição (...) O túmulo vazio não é uma prova para a fé, mas é um sinal.' (W. Kasper, op. cit., págs. 191-192.)
E a indignação é muito minha, e não de Kasper, e nem sua, seu Xisto. Como você — que leu o livro de Kasper — não se indignou com essas frases e nem protestou contra elas, mas se indignou contra mim, que as publiquei para atacá-las e para defender a verdade de que Cristo ressuscitou? Ele verdadeiramente ressuscitou!
Para confirmar esse sopro de dúvida kasperiano contra a verdade da Ressurreição de Cristo, o Cardeal que citamos diz: 'o verdadeiro centro da própria ressurreição nunca foi relatado nem descrito diretamente. Nenhum testemunho neotestamentário pretende ter observado ele mesmo a ressurreição. Este limite vai ser transposto, mais tarde, nos evangelhos apócrifos. Os autores canônicos do Novo Testamento têm consciência da impossibilidade de falar diretamente da Ressurreição como de um fato que se teria podido constatar fisicamente.' (W. Kasper, op. cit., págs. 194-195.)
Desse modo, Kasper insinua que a Ressurreição não ocorreu, porque ninguém a viu: 'os testemunhos relativos à Ressurreição falam de um acontecimento que transcende o domínio do que pode ser constatado historicamente.' (W. Kasper, op. cit., pág. 195.)
'Páscoa não é um fato que se possa alegar como prova da fé; Páscoa é ela mesma um objeto de fé. Não se pode estabelecer, historicamente, a própria Ressurreição.' (W. Kasper, op cit., pág. 198.)
'Karl Barth deu à concepção de Bultmann a fórmula a esse respeito: Jesus ressuscitou no kerygma. Bultman declara sobre isso: 'eu aceito essa frase. Ela é perfeitamente justa, sob condição de ser bem entendida. Ela supõe que o kerygma é ele mesmo um acontecimento escatológico; e ela afirma que Jesus está realmente presente no kerygma, que é sua palavra que impressiona o ouvinte no kerygma. Crer em Cristo, presente no kerygma, é o sentido da fé pascal.' (W, Kasper, op. cit., págs. 199-200, citando dois hereges, Barth e Bultmann.)
E, daí, conclui Kasper: 'não se pode apreender como fato histórico senão a fé pascal dos primeiros discípulos.' (W. Kasper, op. cit. pág. 200.)
Noutras palavras, Cristo não teria ressuscitado, de fato. Foram os discípulos Dele que acreditaram nisso, e anunciaram aquilo em que acreditaram, e não o que aconteceu mesmo.
Para confirmar essa negação, Kasper cita, sem pestanejar, sem criticar, como se fosse um Oráculo do Céu — ele, que duvida dos Evangelhos e até Os nega — ele cita o escriba Marxsen: 'essas teses fundamentais indicam, por elas mesmas, que a Ressurreição de Jesus não pode ser chamada um acontecimento histórico. O que se pode constatar, historicamente, é apenas... que, depois da morte de Jesus, pessoas afirmaram que lhes tinha ocorrido um acontecimento que elas designam como a visão de Jesus.' (W. Kasper citando Marxsen, op. cit., pág. 201.) — A heresia é de Marxsen e de Kasper, que a cita sem protestar, e para confirmar o que ele mesmo pensa.
Concluindo seu exame do problema da Ressurreição de Cristo, Walter Kasper afirma: '1) As aparições [de Jesus ressurrecto] não devem ser consideradas como acontecimentos objetivamente captáveis (...) É preciso, portanto, partir do fato que se tratava de uma visão de fé. Dir-se-ia, ainda melhor, que era um conhecimento na fé (...); 2) O encontro com o Senhor ressuscitado é apresentado no Novo Testamento como um encontro com Deus e como uma experiência de Deus (...); 3) A experiência da fé pascal dos primeiros discípulos faz aparecer a estrutura fundamental da fé (...) Nós devemos, agora, sustentar firmemente que se trata de um encontro pessoal com o Cristo. A questão essencial não é a de saber o que aconteceu 'objetivamente', mas saber se, como os primeiros cristãos, estamos dispostos a deixar Jesus Cristo se apoderar de nós (...) É, nesse sentido, e somente nesse sentido, que se pode dizer: Jesus ressuscitou no kerygma. Ele é uma presença permanente na história, graças ao testemunho da Igreja Apostólica.' (W. Kasper, op. cit., págs. 213-214.)
Costuma-se lembrar que até os judeus respeitaram Nossa Senhora, no Calvário. Dever-se-ia esperar pelo menos o mesmo de um Bispo e de um Cardeal. Kasper, porém, se não considera os Evangelhos livros históricos, e se julga que não há milagre, como poderia aceitar a concepção virginal de Cristo por Nossa Senhora?
Logicamente, admitindo esses princípios do ceticismo moderno, Kasper tinha que negar a virgindade de Nossa Senhora, ou pô-la em dúvida.
Eis o que ele diz sobre essa questão: 'a concepção por meio do Espírito Santo (do nascimento virginal) e a filiação divina de Jesus estão, portanto, numa relação mais estreita do que se admite geralmente. Numa teologia abstrata dos possíveis — [???] — unida a um positivismo teológico 'sem espírito', pode-se, sem dúvida, dizer: Deus teria podido agir também de outro modo; Ele teria podido também fazer-se homem por meio de uma concepção natural, mas, de fato, Ele quis agir de outro modo, e nós devemos, portanto, acreditar que, no fato da concepção virginal, se bem que ela não tenha em suma senão um significado simbólico, o de afirmar que Jesus é o Novo Começo, colocado por Deus; o Novo Adão.' (W. Kasper, Op. cit., pág. 381.)
Embora Kasper afirme que se deva crer no fato da concepção virginal de Cristo, a restrição que ele faz com as palavras (...) praticamente anula a crença de que Nossa Senhora concebeu virginalmente.
De fato, ele afirma que essa concepção virginal — na qual devemos crer — só tem, 'em suma, um significado simbólico'. E esta frase escandalosa insinua a heresia.
Estou atônito, seu Xisto.
Ficou contente, seu Xisto, por eu ter publicado até mais do que me pediu?
Só pode estar, porque atendi o seu pedido largamente.
Agora que o senhor tem os textos das páginas do livro de Kasper, citadas per longum et largum, o senhor ousaria dizer ainda que caluniei o Cardeal Kasper, e que essas frases não estão no livro dele? E seu atonitismo, onde ficou, seu Xisto?
Talvez o senhor agora proteste por minhas palavras contra o Cardeal que escreveu essas heresias.
Ora, afirmar que os Evangelhos mentem, apresentando [verdades como lendas], é muito mais grave do que criticar um Cardeal, seu Xisto.
Que estranha concepção da Fé é a sua, seu Xisto, que coloca o respeito a um membro do Clero acima do respeito aos Evangelhos e acima da Fé em Cristo!
Resta perguntar algumas coisas ainda.
Se o cardeal Kasper tem razão em dizer que os Evangelhos não são históricos, e que a Igreja errou ao acreditar nos milagres e na Ressurreição de Cristo, tais como são contados Neles, então ele não deveria ter aceitado ser Cardeal de uma Igreja mentirosa e enganadora. Mas, se ele está errado em suas teses, como se tornou Cardeal?
E não tratamos do milagre da transubstanciação.
Será que Kasper crê no milagre da transubstanciação?
E, se os milagres contados no Evangelho são lendas, como ele celebra Missa?
Será que ele crê nas palavras de Cristo, no Evangelho: 'isto é Meu corpo'?
Que é a Missa para esse Cardeal?
In Corde Iesu, semper, Orlando Fedeli." (https://www.montfort.org.br/bra/cartas/filosofia/20040813150756/)
A citação é extensa, mas demasiado oportuna, de modo que se possa melhor compreender em que tipo de Papado foi canonizada a Irmã Faustina e endossada a veneração por ela criada, proibida por dois Papas e inserida no Index Librorum Prohibitorum: em um reinado no qual o monarca, chefe da Santa Igreja de Cristo, de inclinação modernista, o Papa João Paulo II, beatificou o Pe. Honorat Kosminski (Sacerdote liberal e envolvido com a seita mariavita) e elevou a Cardeal um Clérigo heterodoxo, propagador de gravíssimas heresias: Pe. Walter Kasper.
A “Carta Encíclica Quanta Cura”, do Papa Pio IX, de 1864 d.C., tem um documento anexo, ao final, de nome “Syllabus”, o qual cita 80 erros contra a genuína Fé. O 18º equívoco refutado diz que “o protestantismo não é senão outra forma da verdadeira Religião cristã, na qual se pode agradar a Deus do mesmo modo que na Igreja Católica.” [LINK] E, em seguida, cita sua “Carta Encíclica Nostis et Nobiscum”, de 1849 d.C., na qual também se lê: “(...) entretanto, eles não ignoram que aquele princípio que é fundamental nas doutrinas dos protestantes e que consiste em interpretar as Sagradas Escrituras segundo o julgamento pessoal de cada um é muito útil à sua causa ímpia.” [LINK]
São Pio X, na "Carta Encíclica Pascendi Dominici Gregis", a 1907 d.C., acerca do modernismo, assevera: "se, pois, de uma só vista de olhos atentarmos para todo o sistema, a ninguém causará pasmo ouvir-nos defini-lo afirmando ser ele a síntese de todas as heresias." [LINK]
Portanto, fico, pois, com o ensinamento da Santa Tradição, dos Apóstolos, dos Papas Santos, dos Doutores da Igreja, dos documentos infalíveis e com aqueles que, ainda que não o sejam, mantêm-se, outrossim, fiéis aos Santos Dogmas.
† † †
Anúncio de passeio turístico no site oficial da Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Misericórdia — Płock-PL
“’Descubra Płock Conosco’. A campanha turística e educacional ‘Descubra Płock Conosco’ é um projeto da Organização de Turismo Local de Płock-PL, que acontece desde 2011 d.C.. Os participantes do projeto fazem passeios turísticos com guias, na trilha dos maiores pontos turísticos de nossa cidade, entre outros lugares, como: a Basílica da Catedral da Assunção da Bem-Aventurada Maria, o Museu Masovian, Museu da Diocese, Escola Secundária Marshal Stanisław Małachowski, Câmara Municipal ou Catedral da Antiga Igreja Católica Mariavita. Neste ano a campanha foi disputada pela sétima vez. Estiveram presentes tanto residentes de Płock quanto turistas. Uma lembrança do passeio turístico é o passaporte turístico de Płock, emitido todos os anos, que constitui um pequeno guia para Płock. No dia 9 de julho, domingo, a campanha ‘Conheça Płock Conosco’ levou seus participantes ao Santuário da Divina Misericórdia, na Praça do Mercado Velho.” (LINK)
Se compreendi de modo correto a publicidade, a “Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Misericórdia” têm uma parceria com a prefeitura da cidade de Plock, no que concerne ao turismo.
Primeiro ponto: o papel de um religioso é contribuir para a salvação das almas, por meio de oração e missão, segundo as regras do apostolado ao qual pertence. Com toda certeza, não faz parte das atribuições de um Padre, Monge ou Freira servir de guia turístico ou mesmo fomentar tal tipo de atividade. Isso é um desvio absurdo e pecaminoso, na medida em que um indivíduo consagrado aos serviços de Deus, ao invés de ofertar seu tempo às incumbências concernentes à Fé, ao contrário, dedica-se a assuntos seculares.
Obviamente, só é possível encontrar esse tipo de conjuntura em um Convento nos dias atuais, por conta do processo de modernização que flagela a Santa Igreja de Cristo há alguns séculos, sobretudo nos últimos dois. E foi essa praga que, espalhada pela messe e seara de Nosso Senhor, fez eclodir o CVII. — Esse, por sua vez, entre outros ataques à Sã Doutrina, intentou contra a Santa Tradição, por meio da relativização de Dogmas e afrouxamento de Regras Religiosas. Resultado: até turismo passa a ser expediente dentro de dadas Ordens.
Segundo ponto: penso estar claro, no texto, que a tal Congregação Religiosa não apenas tem parceria com a prefeitura municipal, quanto ao turismo, mas auxilia nas visitações aos principais pontos — inclusive acompanha os visitantes a um templo da seita mariavita, chamado de “Catedral da Antiga Igreja Católica Mariavita” —. E ainda atrelam o Santo nome da Madre Igreja à um templo de uma falsa religião. Lamentável!
Uma pertinente analogia: imagine, por exemplo, os judeus, que mataram Cristo e até hoje se mantêm no erro de crer que Ele não é o Messias.
Os judeus não crêem em Jesus. Isso quer dizer que eles não são amigos Dele, senão inimigos. Logo, quem O rejeita não tem parte com Ele e, assim sendo, por escolha consciente, é Dele opositor, e, por conseguinte, de Sua Igreja. Prova disso é o que fizeram: crucificaram-No.
Agora, reflita-se: por que uma Ordem Religiosa, que se pretende católica, citaria um templo judáico em quaisquer de suas publicações midiáticas e/ou, pior ainda, serviria de guia turístico a tal condenável local?
Padre, Monge e Freira não existem para fazer turismo. Menos ainda se ele tem por destino templos de seitas.
O que deve pensar acerca disso São Domingos, criador da Ordem dos Pregadores? Ou São Bento, pai da regra monástica e da Ordem dos Beneditinos? Ou São Francisco, feitor da “Ordem Franciscana”?
Essa situação de caos e desnorteamento ratifica o quão problemático é tudo o que entremeia e circunda a tal devoção proliferada pela Irmã Faustina Kowalska. E a própria página oficial do convento em que congregou demonstra isso, por meio de publicações (no mínimo) comprometedoras e que desrespeitam a Sancta Ecclesia.
Freiras de uma Congregação da Pomerânia, ligada à devoção da Irmã Faustina, aparecem dançando em um vídeo, com a famosa imagem do referido culto. Irmãs a dançar foi algo inédito, para mim. E mais perplexo fiquei ao ver que, na internet, circulam incontáveis outros vídeos similares, tanto de religiosas quanto de religiosos, inclusive nas celebrações da “Nova Missa”. [LINK] [LINK] [LINK]
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E, por fim, a seguir, deixo imagens de uma Igreja construída na Idade Média (época da plenitude do catolicismo), Catedral de Notre Dame (Paris, França), erguida em estilo gótico radiante (esplendor da arquitetura mundial), para que comparem com o templo criado para exercício da devoção proliferada pela Irmã Faustina, chamado de “Templo da Divina Misericórdia”.
Antigamente, os templos eram construídos em cruz, com o altar na direção do sol nascente, que, como a mais forte luz física a insidir sobre a Terra, simboliza Cristo, que é a luz divina do mundo, que o tira das trevas noturnas do pecado. Sua pompa e dimensões ratificam a ideia católica de prestar a máxima reverência a Deus e entregar ao Criador o que de melhor é possível ao Homem, Sua mais especial criatura.
Se for fazer um templo, que seja o mais belo, mais adornado, mais alto, mais rico que se possa, porquanto não é para homenagear um comum, humano, ainda que monarca, mas para adorar ao Rei dos reis, o feitor de tudo, o Deus Vivo e Trino.
Não é o que se observa nas igrejas modernas, sem ouro e prata, com materiais baratos, com pouquíssima simbologia, sem riqueza de detalhes, de baixa estatura, carência de pompa e reverência...
Diferentemente das Igrejas antigas, essas não passam aos fiéis a ideia de estarem entrando em um local que inspira reflexão sobre o divino e sobrenatural. Não remetem suas arquiteturas e ornamentações à eternidade, a Deus, o altíssimo, o grandiosíssimo, o infinito.
Os templos antigos eram altos, para forçar os Homens a mirar o Céu ao fitá-los, a fim de perceberem sua própria pequenez perante o firmamento, defronte a Deus.
Tratavam-se das maiores construções de uma cidade, mostrando que o Criador está acima de tudo e de todos; e a magnificência das edificações ensinavam que para Deus temos de dar o melhor, o maior, o mais belo, o mais valioso que se pode, porque Ele é o supra-sumo da beleza, da valoração e da enormidade. — Se a residência de um rei é um castelo, quanto mais altivez não deve ter a casa de Deus?!
Agora, analise-se a arquitetura e ornamento das igrejas modernistas. São simples, pequenas, em materiais comuns. Muitas nem parecem templos religiosos. E é exatamente isso o que quer a maçonaria e o comunismo: um “templo” cada vez mais pobre, com menos pompa, com menos adorno, com mais simplicidade, mais próximo possível do que é a condição humana, de modo a proliferar a tal “igualdade entre todos”. Porém, Deus quer o oposto. Por isso fez homem e mulher. Por isso tinha, entre os que Lhe seguiam, 12 especiais, chamados de Apóstolos. Por isso chamou primeiro a Santo André. Por isso deu a um deles a liderança, São Pedro, o Papa. Por isso amou mais a São João. Tratamentos diferentes a pessoas diferentes, porque tudo é diferente e nada é igual.
Por isso cada ser humano é desigual, na cor, nos olhos, nos cabelos, nas digitais, em tudo. E, además, o Deus que adoramos não é igual a nós. Não é miserável, falho, limitado; é exuberantíssimo, grandiosíssimo, eterno e absoluto. E deve ser tratado com essa distinção e deferência. — Não tentar ao máximo dar o melhor que a condição humana pode produzir para adorá-Lo é negligenciar Sua divina condição e desrespeitá-Lo.
Mire-se, por exemplo, os templos protestantes. E se encontrar similaridade com os templos católicos modernos, não se creia ser coincidência.
Estude-se a respeito da “Revolta Protestante”, “Revolução Francesa”, “Movimento Litúrgico” e acerca do “Concílio Vaticano II”, dos comunistas e protestantes que estiveram presentes, da influência maçônica, de seus principais mentores, sua heterodoxia, seu “espírito e hermenêutica da continuidade”, etc.; averigue-se os documentos e diretrizes advindos desse triste sínodo geral e se entenderá muito mais claramente o porquê da crise no âmago da Santa Igreja, a qual é sem precedentes.
Vivat Sanctissima Trinitas!
Vivat Sanctissima Virgo Maria!
Vivat Sanctissima Traditio!
Per ipsum, et cum ipso, et in ipso,
per omnia saecula saeculorum!
Amen!
Rafael Pessoa Sabino
1º semestre de 2022 d.C.
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NOTRE DAME (PARIS - FRANÇA)
TEMPLO OFICIAL DA DEVOÇÃO CRIADA
PELA IRMÃ FAUSTINA KOWALSKA
(CRACÓVIA - POLÔNIA)
IRMÃ MARIA FRANCISCA
(CRIADORA DA SEITA MARIAVITA)
Pintura: autor desconhecido
IRMÃ FAUSTINA KOWALSKA
(CRIADORA DA DEVOÇÃO
2X CONDENADA PELA SANTA SÉ)
Foto: autor desconhecido
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